sábado, 21 de julho de 2007

Bob Gruen

Texto que ficou na gaveta uns três meses, sobre a exposição Rockers, do fotógrafo americano Bob Gruen.

Quem viu, viu. Ficou em cartaz, até dia 01 de julho, na Faap (SP), a exposição de fotos "Rockers", do norte-americano Bob Gruen.

Bob Gruen é um cara de sorte. Sempre esteve no lugar certo, na hora certa - the right place at the right time, como ele mesmo reconhece.

Em 1965, vivia em Nova York com um banda de folk à beira do colapso, a Glitterhouse. Meio capenga, a banda foi convidada pra tocar na inauguração de um salão de cabelereiro - não um salão qualquer, mas um salão dos descolados de NY.

Lá, Gruen conheceu Bob Crewe, compositor e produtor, que decidiu dar uma sobrevida à Glitterhouse. Aliás, mais do que uma sobrevida; Crewe levou a banda pra gravar um disco pela Atlantic Records. O escolhido prá produção das fotos desse disco foi (bingo!) Bob Gruen. Outro Bob, o Rolontz, publicitário, gostou tanto do trabalho que indicou Gruen prá fotografar uma turnê dos Bee Gees. Na sequencia, vieram Ike e Tina Turner e Elton John.

Em 1972, Gruen foi convidado pelo jornalista Enry Edwards pra fotografar a banda Elephant's Memory, que gravava com ninguém menos que John Lennon - que, nessa época, já vivia em NY. Conversa vai, conversa vem, Gruen acabou se tornando amigo do ex-líder dos Beatles, e, por consequencia, seu, digamos assim, fotógrafo oficial. São dele as melhores fotos de John Lennon. E são de John Lennon as melhores fotos da exposição.

Está lá, por exemplo, a clássica foto em que Lennon usa uma camiseta New York City, a cidade ao fundo. Mas há muito mais. Além das que retratam a postura em engajada, no estilo give peace a chance, faça amor, não faça guerra, que ele tão bem encarnou nessa fase, há registro de um John Lennon menos comprometido com as causas políticas, de um cara, enfim, quase normal. Numa dessas fotos, John, sobre a cama desarrumada, segura o filho, Sean, ao lado de Yoko. O sorriso é de pai babão. Sorrindo, também, John aparece ao lado de Yoko e Mick Jagger, num estúdio.

Mas a exposição não se resumiu a Lennon. Bob Gruen captou, ao longo de 35 anos de carreira - apresentados, aqui em 270 fotos - grupos como Led Zeppelin, Rolling Stones, Queen, The Who, e toda a turma do punk rock, de Ramones ao Blondie.

Chuck Berry, por exemplo, é mostrado em transe, o rosto colado no braço da guitarra, olhos fechados, provavelmente, em meio a um solo. E os Allman Brothers surgem num retrato do que as bandas dos anos 70 queriam ser: os integrantes diante de um velho ônibus de turnê, chapéus, botas e camisas abertas, um deles segurando uma lata de cerveja Budweiser. Nada mais rockeiro. E mais: Pete Townshend (The Who), Kiss, Bob Dylan, Marvin Gaye, David Bowie - a lista é imensa.

Bob Gruen soube e sabe como poucos captar o que poderíamos dizer que seja o espírito do rock. Um espírito que anda em falta nas bandas atuais - quem se der ao trabalho de ler este artigo e quiser me chamar de tiozão retrógrado, fique à vontade.

Aviso: não adianta ver a foto na Internet. Pra captar esse espírito era preciso estar lá na exposição, ver a foto em tamanho grande. Quem viu, viu. Mas, se resta um consolo, o site de Bob Gruen é http://www.bobgruen.com/.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Wine, music

Reproduzo, aqui, um trecho de minha primeira tentativa de ler um livro todo em inglês - o nome do livro é Disgrace e o autor, J. M. Coetzee, prêmio Nobel em literatura. Custa uns R$ 30 (sim, R$ 30!), no site da Livraria Cultura.

Lá vai:

Wine, music: a ritual that men and women play out with each other. Nothing wrong with rituals, they were invented to ease awkward passages.

Traduzindo: Vinho e música: um ritual que homens e mulheres jogam uns com os outros. Nada de errado com rituais. Eles foram inventados para facilitar as passagens embaraçosas.

domingo, 15 de julho de 2007

Primeiras letras


Há um mês, mais ou menos, o Diário da Serra, o jornal onde dei meus primeiros passos, completou 15 anos. Na ocasião, me pediram pra escrever um texto descrevendo minha experiência por lá.

Sempre tive o cuidado de guardar tudo o que pruduzi como jornalistas, tenho os textos guardados, um por um e, por isso, resolvi voltar àqueles tempos, lendo boa parte das matérias que escrevi em minha passagem por lá. O resultado é o texto postado à seguir, que não foi publicado na íntegra no jornal, mas que reproduzo aqui. Fica, aqui, como primeiro texto com a minha assinatura num blog, por puro acaso, referência ao primeiro texto num jornal impresso.



A manchete, no alto da página oito noticiava: “Retirantes migram de bicicletas e com galinhas”. A data, em letras miúdas, no canto superior direito, mostrava que estávamos a pouco mais de uma semana do Natal: “Sábado e Domingo, 14 e 15 de dezembro de 1996”. Ah, e logo abaixo da legenda, uma troféu: “DV”, minha assinatura. Era a primeira vez que eu escrevia uma matéria – como eu descobri depois, jornalista, é um ser meio vaidoso. Vive de um orgulho besta de ver o próprio nome no alto da página.

A matéria era uma daquelas boas histórias com que todo repórter se depara pelo menos uma vez na vida. A história está ali, prontinha pra ser contada. Um pouco de conversa (aquilo que chamam pomposamente de jornalismo investigativo) e o personagem vai surgindo. Seu Carlos Alberto Nunes, 34 anos e um rosto cujos traços denunciavam uma vida de trabalho duro, deixou Montalvânia, no Vale do Jequitinhonha (MG) para tentar a vida no Vale do Ribeira. Como as coisas não deram certo resolveu voltar. De bicicleta. Na garupa, pombas, galinhas e dois filhos analfabetos. Na passagem por Botucatu, seu Carlos deu sorte. Contou com um staff profissional da biclicletaria Monaloi, que revisou sua bicicleta gratuitamente. Uma história, enfim, bem brasileira.

Dali uns dias, no Natal de 1996, lá estava eu, enfiado no Diário, num porão meio escuro e com um cheiro forte que misturava mofo com tinta de jornal (um cheiro do qual eu me lembro bem até hoje). Haroldo Amaral, editor-chefe na época, me designou pra uma daquelas missões pras quais, inevitavelmente são designados os focas - os jornalistas em início de carreira que ocupam a, digamos assim, base da cadeia alimentar editorial. Lá dentro do porão, uma pilha de jornais da qual eu teria de espremer uma retrospectiva de 1996. Querem saber algumas noticias? (1) “Jamil: 10 anos de governo” (sobre a ascendência política, na região, do ex-prefeito Jamil Cury, que acabara de eleger o sucessor, Pedro Losi); (2) “Distrito de Pratânia emancipou-se”; (3) “Oscar Shmidt em Botucatu” – o craque do basquete participara de um amistoso em Botucatu; (4) “Grêmio campeão” (o time de Porto Alegre acabara de ser campeão brasileiro); (5) “Diário da Serra: o pioneiro em Botucatu e Região” – no dia 18 de junho de 1996, o Correio da Serra passava a se chamar Diário da Serra, justamente porque passaria a circular diariamente.

Em 1999, me despedi do Diário. A carreira pedia vôos mais altos e uma bem vinda proposta do Estadão me enchia de entusiasmo. E lá se vão 11 anos desde que escrevi pela primeira vez meu nome no alto de uma página de jornal. E, claro, muita coisa mudou. A bicicletaria Monaloi, por exemplo, já nem existe mais. O Oscar Schmidt se aposentou. O Grêmio foi rebaixado, subiu pra primeira divisão e chegou, agorinha mesmo, à final da Taça Libertadores. O município de Pratânia conta exatos 4.274 habitantes, me informa a Internet. A Internet, aliás, mal existia em 1996. Jamil Cury se foi. Deixou um vazio político que logo seria ocupado pelo – quem diria?! – PT. O hoje veterano jornalista DV passou cinco anos no Estadão. Depois, se tornou assessor de imprensa. Mudou pro outro lado do balcão. E o Diário da Serra continua mais diário (ou mais Diário) do que nunca. Ganhou cor, grandes anunciantes, se consolidou o principal veículo impresso da região. Mas sempre haverá, à espera dos jornalistas, histórias como a de seu Carlos, neste país de vales do Ribeira, de galinhas e de filhos analfabetos.