quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Haka Atibaia: de carona na GoPro

Vídeo que produzi com a GoPro (pra quem não sabe, uma daquelas minicâmeras de ação super-resistentes) de  na quarta e última etapa do Haka Race 2013, dia 05 de outubro em Atibaia-SP. Como em todo trabalho de edição, o desafio foi comprimir uma hora de material bruto em três minutos que resumissem como foi a corrida.

Se você nunca participou de uma corrida de aventura, pegue carona no meu capacete clicando na foto abaixo e confira o vídeo. 







Uma errata: como já disse anteriormente, a data correta da prova é 5 de outubro, não 13 de outubro, como aparece no vídeo.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Pirâmide de papel



Como a vida não são só trilhas e bike, vou falar um pouco de economia. Dia desses, recebi e-mail de uma amiga convidando para participar de um tipo de aplicação chamado de ‘investimento em rede’. Animada, ela dizia que o produto valia “super a pena” e que o namorado também estava participando do mesmo investimento.

Em linhas gerais, a operação consiste, numa ponta, em depositar R$ 2 na conta de seis pessoas enumeradas numa lista (e cujos dados bancários constam no e-mail). Na outra ponta da operação, o aplicador deve convencer o maior número de pessoas a depositar R$ 2 em sua conta – a sugestão é repassar o e-mail para 250 pessoas, o que, com uma taxa de sucesso de 3% (a média, segundo os gestores) dá sete pessoas depositando R$ 2 cada, ou R$ 14, inicialmente. Como o pressuposto é o de que essas sete pessoas enviarão, cada uma, mais 250 e-mails, teremos 1750 e-mails enviados. Considerando-se o mesmo índice de sucesso de 3% de adesão, chegaremos a 53 e-mails ou R$ 106, uma rentabilidade de 784% sobre os R$ 12 investidos inicialmente. Mas não para por aí. Como cada uma dessas pessoas repassará o e-mail, o ciclo continua e o investidor continua ganhando. Ao todo, pode-se, segundo o e-mail, atingir 164 mil pessoas, amealhando R$ 328 mil, o suficiente para comprar um apartamento. Tudo isso com apenas R$ 2 de investimento inicial. Risco? Baixíssimo, já que, segundo o e-mail, uma famosa publicação econômica (que não mencionarei aqui) “não encontrou falhas neste programa”.

Bom demais, não? Não! A maioria dos leitores já deve ter percebido que se trata do velho golpe da pirâmide de dinheiro. O histórico desse tipo de maracutaia mostra que, em algum momento, a corrente se quebra: uma parte dos destinatários não entra na pirâmide, que começa a ruir de baixo para cima, deixando na mão os participantes intermediários. Quando isso ocorre, quem está no topo da pirâmide (os golpistas) já teve um bom retorno com a pirâmide. Para esses, sim, o ‘investimento’ vale a pena.



Vale lembrar que quem entra nesse tipo de operação não apenas corre o risco de perder dinheiro, como incorre em crime contra a economia popular, definido como “obter ou tentar obter ganhos ilícitos em detrimento do povo ou de número indeterminado de pessoas mediante especulações ou processos fraudulentos” (Lei 1.521/51).

Há algumas orientações básicas a serem seguidas antes de entrar numa aventura como essas: checar se o gestor tem registro nos órgãos competentes, se o investimento está cadastrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e se a empresa que oferece o produto tem sede e há quanto tempo atua, entre outros. Mas, antes de ir à CVM ou checar sede, fiz uma avaliação bem mais rasteira: chequei se a tal famosa publicação econômica “não encontrou falhas neste programa”, como foi dito. É evidente que a tal matéria não existe; pelo contrário, a publicação menciona a pirâmide de dinheiro entre os golpes financeiros que mais enganam as pessoas.

Tentei, em vão, alertar minha amiga de que se tratava de um golpe, enviando a ela a matéria e outras. Mas, em períodos como o atual, em que as aplicações em renda fixa já não proporcionam ganhos vistosos e em que a Bolsa anda de lado, é comum as pessoas buscarem soluções mágicas. Não se iluda. Como diria uma expressão em inglês, easy come, easy go - o que vem fácil vai fácil. Não entre de gaiato nessa rede.

 

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Cycling in the rain

Escrevi há um tempo um post com dicas sobre pedal em dias frios. Agora que o inverno vai passando e o verão se aproxima, quem pedala começa a enfrentar um desafio de outra ordem: a chuva, que em setembro volta a dar as caras.

Em termos de incômodo para o ciclista, os dias chuvosos, desculpem o trocadilho, ganham de lavada dos dias frios. Não bastasse a molhadeira que um simples passeio de um ou dois quilômetros produz sob essas condições, ainda é preciso ficar muito atento aos riscos do trânsito, por dois motivos: (1) as ruas e avenidas ficam mais escorregadias, aumentando o perigo de acidentes e (2) devido aos congestionamentos que inevitavelmente vêm junto com a chuva, quem está atrás do volante de um veículo geralmente fica mais irritado e, portanto, propenso a tomar atitudes imprudentes.

Pedalar na chuva, portanto, não é para amadores. Se você está começando a usar a bike como meio de transporte, deixe-a em casa nos dias de tempestade. Agora, se já tem alguma experiência como ciclista urbano, não tenha medo de se molhar. A seguir, uma lista de ‘equipos’ fundamentais pra encarar a chuva. A regra básica é: por mais que você se molhe por fora, mantenha o corpo seco. Ou, como diz o site americano Active, “keep your core warm” – mantenha o que é importante, as costas e a região peitoral, aquecido.

1) Calça de ciclismo

Sim, é a mesma que indiquei para o frio – e com as mesmas observações a respeito de não ficar sexy. No caso da chuva, o objetivo também é manter seu corpo aquecido, função que cumprem bem.

2) Jaqueta impermeável

Mais essencial que o item anterior pra manter seu corpo seco e aquecido. Afinal, o contato de roupas molhadas pela chuva com o corpo pode até levar a uma hipotermia, principalmente nestes dias de primavera, quando a chuva ainda vem junto com o frio. Como as jaquetas impermeáveis propriamente ditas costumam ser caras (cerca de R$ 400) e, convenhamos, dá dó pôr uma North Face ou Thimberland desse preço num passeio de bike, a opção são as corta-vento, que dão conta do recado. Esta, da Kailash, indicada no post sobre frio, vai bem e custa R$ 199 na Mundo Terra. 



3) Capa de Mochila/Alforge

Cada ciclista tem uma opinião, mas todos concordam que é importante proteger suas roupas, livros, celular, etc., da chuva. Eu prefiro a capa de mochila, por ser mais prática e não obrigar a grandes malabarismos e adaptações da bicicleta. Compacta, durante os períodos de seca, até esqueço que ela está lá num cantinho da mochila. Mas se o tempo fecha de uma hora pra outra, garante a integridade dos meus pertences. Preço: R$ 50. Já os alforges são mais recomendados pra quem faz cicloturismo, mas podem ser usados numa boa no trânsito urbano. Em geral, são bem mais resistentes ao desgaste e à água que as capas de mochila - chegam a funcionar como saco estanque, mantendo tudo o que está lá dentro absolutamente seco. Por isso, mesmo, são mais caros. Preço do modelo abaixo: R$ 468. 


4) Luzes de orientação

Mantenha-se visível mesmo durante o dia, usando os mesmos equipamentos que utilizaria à noite, como luzes de referencia e equipamentos refletivos. Bastante popular, esta lanterna pode ser usada na traseira ou na dianteira da magrela e custa só R$ 25. 



5) Óculos: se você usa de grau, já está garantido. Se não usa, compre um especifico pra ciclistas. São baratos (os mais em conta custam R$ 30) e protegem os olhos dos respingos de água que vem dos carros e do asfalto. 


Dicas:

Leve um kit extra de roupas na mochila, se tiver espaço

Considerando que estamos falando de bike como meio de transporte, é possível que você não tenha onde pôr suas roupas pra secar. Tendo esse back up, você pode não será obrigado a vestir roupas molhadas no final do expediente.

Atenção máxima

As ruas ficam mais escorregadias e os motoristas, mais estressados por causa dos congestionamentos. Ingredientes que compõem uma mistura explosiva.

Divirta-se! 

Não é porque você vai estar mais atento ao trânsito que precisa se aborrecer. Volta e meia ouço alguém falar com nostalgia do tempo em que podia brincar na chuva, durante a infância. Volte a ser criança e aproveite pra sentir o frio das gotas contra seu rosto e o cheiro da chuva caindo.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

20 de agosto

Li outro dia no blog do Felipe Machado que a gente escolhe uma determinada idade e fica com ela. Seria essa a explicação para a expressão “não me sinto com 50 ou 60 anos”.  Mas, por mais que demorem pra aparecer, um hora os sinais ficam visíveis e, por mais que a cabeça não se dê conta, o corpo nos faz cair na real. Foi assim que dia desses, olhando no espelho, percebi que pela primeira vez conseguia enxergar minha calvície de frente, olhando na horizontal. Até então a ‘careca piscina’ (apelido dado para aquele estado em que a cabeça está cheia, mas o fundo é visível) só ficava aparente quando vista de cima, em alguma filmagem ou no cabeleireiro, quando o sujeito mostra como ficou a obra por todos os ângulos.



Mas naquele dia o espelho foi implacável, jogando na minha cara - ou na minha careca - a prova cabal da inexorável passagem do tempo. Se é verdade que a gente escolhe a idade, minha cabeça deve ter parado lá pelos 20 e poucos. É assim que me sinto. Mas hoje chego aos 38 anos.

O tempo passa e, de um dia pro outro, você faz 30 anos e vira um adulto, quase sempre diferente do que você imaginava ser. Um dia em 1985 uma professora me pediu para escrever como eu estaria no ano 2000 e eu previ que teria dois filhos e seria físico igual meu pai.  Algum ajuste nessa cápsula do tempo deu errado e tudo saiu diferente: fiz faculdade de Direito, fui parar quase que por acidente na de Jornalismo e, por conta de uma série de pequenos episódios em que as coisas precisariam de muito pouco pra mudar de rumo (e se tal detalhe fosse diferente?), me tornei repórter de um dos maiores jornais desse País, experiência que, por sua vez, gerou uma sequencia de eventos que definiu tudo o que aconteceu até hoje em minha vida profissional. 

Alguns amigos já me disseram que fiz coisas que mudariam suas vidas, como saltar de paraquedas, escalar uma montanha, correr uma maratona ou fazer uma tatuagem. Esse feitos se prestam a uma infinidade de metáforas sobre riscos, conquistas e perseverança. Mas confesso que nenhum deles mudou minha vida. Simplesmente fiz e continuarei fazendo porque é o que me faz sentir vivo. Gosto de me sentir pequeno diante da imensidão das montanhas e dos lagos; do frio na espinha diante de um abismo e de imaginar que quilômetros esperam ser percorridos de bike, a pé ou correndo.

Há alguns anos, prometi pra mim mesmo que não casaria. Estava feliz sendo solteiro e pronto. Mas havia um Pico dos Marins no meu caminho e lá, conheci uma garota que também já tinha escalado montanhas (mais altas que as que eu escalei), saltado de paraquedas e que faria uma tatuagem um mês depois de eu ter feito a minha. Casei com 37 anos. Isso, sim, mudou minha vida.

Nesta idade, não sabemos o que a vida ainda nos reserva, mas os não-caminhos, esses já estão bem claros, escreveu um amigo. Aos 38 anos, sei que não vou ser astro do rock, ídolo do futebol ou piloto de caça. Também já sei que não serei físico, como seu Dirceu.

As coisas dificilmente saem como planejamos, mas se tem algo que aprendi é não brigar com a passagem do tempo e com as surpresas que a vida nos reserva. Se eu fosse físico e tivesse dois filhos como previ no hoje distante ano de 1985, talvez não tivesse tempo nem interesse de escrever este blog. 

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Freezing running

São 5h40 da manhã. Lá do banheiro, o celular começa a gritar. Ainda atordoado pelo sono, levanto, cruzo o corredor e, antes que a Rê acorde com a barulheira, trato de desliga-lo. Faz parte da estratégia deixar o celular-despertador bem longe do alcance. A esta hora e com este frio, deixa-lo ao lado da cama significaria abortar a missão. Resignado, acendo as luzes do apê e preparo um café bem forte.

Levantar pra correr nessas circunstâncias não deve ser, nem para o mais disciplinado dos atletas, algo agradável; praguejo contra mim mesmo, amaldiçoando o momento em que me inscrevi pra correr a meia maratona do Rio e, uma semana depois, o Haka Race. Isso implicará achar uma brecha na agenda pra treinar, nem que seja de madrugada. Passo pela portaria do prédio antes de o sol nascer e o porteiro informa que a temperatura é de 10 graus.

Vou andando em direção ao Parque da Água Branca pela avenida que, já naquele horário, começa a ficar movimentada, com gente indo pro trabalho encapotada com blusas, cachecóis e tudo mais. Muitos fumantes.Se pra mim, madrugar naquele frio é quase facultativo, pra eles é obrigatório. “O que eu tenho na cabeça, se poderia estar numa boa dormindo?”, me pergunto mentalmente.


Uma névoa congelante envolve as árvores do parque. As primeiras passadas saem meio travadas pelo frio, e minha espiração sai como fumaça por causa do frio. E, como se estivesse condicionado por já ter feito aquele tipo de treino uma centena de vezes, inicio a corrida no percurso de sempre: uma reta longa ao lado das baias da exposição, com a Matarazzo à direta, uma subida suave ao lado da entrada da rua Germaine Burchard, seguida por uma subida mais forte. Na sequencia, uma reta plana, paralela à rua Turiaçú, na “parte alta” do parque, pra, finalmente, pegar a descida que ladeia um bosque com arvores nativas da Mata Atlântica e que termina na entrada principal do parque. O percurso todo dá uns 1.300 metros. Relativamente curto pra quem corre, mas com muitas árvores e trilhas estreitas. O ambiente me faz esquecer de que se estou quase no centro de São Paulo. A enorme quantidade de galinhas – e galos, que, ao nascer do dia, duelam pela supremacia daquele terreiro gigante – completam o clima bucólico do lugar.




A esta altura, suado pela corrida, já tirei o gorro de lã e a blusa de fleece com que comecei o treino; como se costuma dizer, correr esquenta de dentro pra fora.

Por fim, termino minhas três voltas (seriam quatro) constatando que ainda falta muito pra eu chegar na minha melhor forma física. Alongo um pouco e volto pra casa. Neste momento o dia já nasceu e o movimento na rua aumentou consideravelmente.

Volto meio decepcionado por sentir que ainda tenho de melhorar bastante e que me restam somente duas semanas até o dia da meia maratona. Mas a corrida me dá um ânimo pra encarar o dia que dificilmente teria se ficasse enfurnado entre os cobertores.

O tempo que se gasta correndo nunca é perdido. Fica uma sensação de que, por alguns instantes, não se está em São Paulo, mas numa trilha nos Alpes ou na Serra da Mantinheira, selvagem e silenciosa. Há algo de mágico em correr nas madrugadas frias.   

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Freezing bike

Não dá pra negar: nestes dias de frio, dá uma certa preguiça danada de cair da cama e ir pro trabalho de bike. Não à toa, o numero de ciclistas nas ruas diminui visivelmente quando a temperatura cai. Se o frio vier junto com uma chuva, pior. Talvez por não sermos tão acostumados com o frio, cada vez que a temperatura desce para uns 15 graus tratamos de esconder nossas bikes bem no fundo da garagem.

Mas, se por aqui, qualquer ventinho mais gelado espanta a maioria dos ciclistas das ruas, nos países do hemisfério norte, especialmente os da Europa, onde as bicicletas são uma tradição e o inverno costuma ser bem mais rigoroso que por aqui, pedalar a baixas temperaturas não costuma ser um problema. Deem uma olhada no vídeo abaixo, que mostra um dia de inverno em Utrecht, na Holanda.

  
O autor do vídeo, o blog Bicycle Dutch, observa que “embora haja menos ciclistas nas ruas por causa da neve, mesmo nessas condições, muitos holandeses ainda preferem continuar usando suas bicicletas. Se o uso da bike é para questões de trabalho, a tendência é de que você fique menos propenso a mudar seu comportamento por causa do clima.” Ou seja, há, sim, alguns que deixam de pedalar, mas a maioria não se importa com a neve.

Um caso curioso é o da cidade italiana de Bologna, onde a prefeitura proibiu o uso das bicicletas em caso de neve, mas foi obrigada a voltar atrás diante de uma forte mobilização da comunidade, que exigiu a liberação das magrelas.

Mas, se, mesmo assim, você ainda não se convenceu de que é viável pedalar no frio, vou apresentar, a seguir, uma lista de quatro equipamentos que vão ajuda-lo a enfrentar o inverno numa boa. Afinal, s
e até com neve os gringos conseguem, nós também podemos tirar de letra. 

1) Ecohead/Buff – São as principais marcas de um produto que é a versão moderna dos tradicionais gorros de lã, mas feitos em tecido comum e em formato tubular. Ajudam bastante, pois servem como gorro (debaixo do capacete) e cachecol. Use pra proteger a cabeça, as orelhas - que gelam com frio - o pescoço e o que mais for possível. As da Ecohead, nacionais, custam em torno de R$ 30. 




3) Calça de ciclismo – Ok, não é a última palavra em estilo. Pelo contrário, se você é homem, vai se tornar alvo de piadas entre seus amigos se for visto usando uma dessas. E sua namorada certamente não vai te achar sexy. Mas quem já usou sabe como são uteis. Além de te manter aquecido nos dias frios, o formato faz com que não enrosquem na coroa da bike, detonando a calça. Vá por mim: a funcionalidade compensa as gozações. 





Vantagens de pedalar no frio

  • Qualquer atividade física praticada no inverno produz menos suor. Se você costuma ir trabalhar de bike, chegará mais ‘inteiro’ e mais apresentável no escritório. 
  • A maior quantidade de roupas diminui o risco de escoriações em caso de queda.

Desvantagens de pedalar no frio
  • Necessidade de levar uma quantidade maior de equipamentos pra se proteger das baixas temperaturas.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Bike-Angels

Não sei por que, mas o fato é que inventaram um novo termo no lugar de passeio de bicicleta - ou, para os um pouco mais modernos, ‘de bike’. A nova designação é bicicletada. Independentemente da terminologia, participei, no último sábado, dia 23 de junho, de uma dessas bicicletadas. E foi por uma causa nobre: promover o uso desse meio de transporte entre os funcionários do WTC/CENU - Centro Empresarial Nações Unidas, um imenso prédio de escritórios que, como nome sugere, fica na avenida Nações Unidas, uma das regiões de trânsito mais complicado no já complicado trânsito de São Paulo. 

Pra entender melhor essa situação e, claro, propor medidas para melhorá-la, o WTC contou com a ajuda do Banco Mundial, que detectou que existe, ali, uma combinação extremamente favorável ao uso das bicicletas: região plana, excesso de trânsito na Nações Unidas e na paralela Luís Carlos Berrini, mas ruas tranquilas no entorno (onde fica o bairro residencial do Brooklin), além de um interesse dos funcionários por meios de transporte alternativos, já que, de carro, leva-se 20, 30 minutos para sair do estacionamento no horário de pico - sim, vocês leram certo: 30 minutos para sair do estacionamento! Por fim, boa parte do pessoal que trabalha no WTC mora a cerca de cinco quilômetros do trabalho. De novo, ponto a favor das bicicletas.




Aí, entra em cena uma organização criada para promover o uso das bicicletas como meio de transporte, os Bike Anjos. Simplificando um pouco, a ação do grupo consiste em juntar a oferta de ciclistas urbanos dispostos a divulgar esse meio de transporte pra mais gente com a crescente demanda de pessoas interessadas em adotar as bikes, mas que ainda precisam de uma ajuda pra perder o medo de enfrentar as ruas. O Banco Mundial recorreu a essa expertise pra organizar o passeio. Com meus quase 10 anos de pedal em São Paulo, fui chamado para ajudar como guia voluntário. Querem ver como foi? Confiram no vídeo acima. E se querem conhecer melhor otrabalho dos Bike Anjos, acessem o site do grupo. 

Basta clicar no logo abaixo.


quarta-feira, 19 de junho de 2013

Serra Fina - O vídeo

Uma aventura como a travessia da Serra Fina rende muito material, que demora um pouco pra ser editado e posto no ar. Por isso, peço desculpa aos leitores deste blog pela demora na postagem deste clip, apenas com imagens em vídeo. Em breve, pretendo pôr aqui outro clipe, só com fotos. Se você gostou, curta. Se tem alguma ideia, entre em contato comigo.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Serra Fina - histórias de superação

Como mencionei no post anterior, a travessia da Serra Fina é um trekking casca-grossa. São 32 quilômetros, subidas sem fim, mato alto impedindo o avanço e temperaturas que caem facilmente para abaixo de zero. Dificuldades que povoam a imaginação de aventureiros do País inteiro desde que seu principal cume, a Pedra da Mina, foi conquistado pela primeira vez, em 1955.

Ao longo da trilha, pude testemunhar algumas histórias de superação que mostram que, embora preparo físico seja importante, a força de vontade é, afinal, o principal combustível sobreviver a essa travessia.



De todas as partes do Brasil: grupo de amazonenses que encontramos fazendo a travessia da Serra Fina.

Algumas histórias estão bem perto, no próprio grupo da gente. É o caso das dificuldades enfrentadas pelo Eric Augusto, que veio de Jundiaí para fazer a trilha conosco. No primeiro dia, após umas oito horas de caminhada pesada, ele foi acometido por câimbras fortíssimas e justamente numa subida mais técnica. Naquele momento faltavam mais duas horas antes que parássemos pra acampar. Quem já teve esse problema sabe como é difícil prosseguir. Solução: acampar ali mesmo, pouco depois do local em que sentiu as câimbras pela primeira vez e, no dia seguinte, pegar a trilha mais cedo pra nos alcançar. Eric não acampou sozinho: contou com o apoio do experiente repórter Herton Escobar, do Estadão e um cara com rodagem em montanhas. No melhor espírito 'seu perrengue é meu perrengue', Herton ficou para ajudar o Eric que, graças a esse suporte, levantou no dia seguinte e encarou a trilha normalmente. Mais experiente, a amiga Silvia Viana já esteve em montanhas famosas, como o Aconcágua e o Kilimanjaro. Isso não impediu que tivesse, também, seu perrengue. No primeiro dia, na ascensão do Cume do Capim Amarelo, ainda não aclimatada, teve crises de vômito, devido ao esforço. Depois disso, no entanto, fez o que esperávamos: seguiu em frente e ficou entre os que caminhavam mais rápido.




Eric sofreu com câimbras fortíssimas, mas se recuperou

Agora reparem na menina da foto abaixo. Seu nome é Giovana e ela tem 10 anos. Cruzamos com seu grupo (pai, tio e mais duas crianças, Paulina, de 13 anos, e Paulo, de 15) no último dia de Travessia. Giovana e os outros dois já haviam superado monstros como a Pedra da Mina, o Alto do Capim Amarelo e o Cume dos Três Estados, todos com mais de 2.500 metros. E, se querem saber, aparentavam estar mais inteiros que todos os integrantes do nosso grupo. Giovana foi a pessoa mais jovem que encontramos na travessia. Já a mineira Juliana Garcia tem diabetes. Por conta disso, no ataque ao cume da Pedra da Mina, começou a apresentar sinais de hipoglicemia – situação que pode levar a pessoa a ter convulsões se não consumir açúcar rapidamente. Cedemos gel à base de carboidrato e Juliana se recuperou. Não desanimou nem quando, faltando apenas cinco quilômetros pra terminar a travessia, torceu o pé. Guerreira.



Giovana, 10 anos, a mais jovem aventureira da Serra Fina

Em alguns casos, no entanto, as histórias de superação estão escondidas. Por exemplo, no livro de cume da Pedra da Mina – que, como mencionei no post anterior, não é um livro, mas um caderno, no qual os que chegaram ao pico costumam deixar mensagens. Foi folheando suas páginas que encontrei o texto abaixo, datado de 28 de setembro de 2012: “Minha sexta vez na Pedra da Mina, orgulho nacional. Às beiras de fazer quimioterapia e um transplante de medula. Montanha, o melhor tratamento. Amo as montanhas. Amo as paisagens e, acima de tudo, amo minha esposa Liliane. Forte abraço a todos. PAROFES.” Fiquei comovido e, ao mesmo tempo, curioso por saber o destino do tal PAROFES, mas confesso, esqueci do caso. Hoje, pesquisando no Google, pra escrever sobre a viagem, acabei descobrindo sem querer a história. Parofes é, na verdade, o acrônimo para Paulo Roberto Felipe Schmidt. Ele relata neste texto no blog Alta Montanha.com, a ascensão que o levou ao topo da Pedra da Mina e que resultou no texto que encontrei lá. E é à sua força de vontade e à de quem se superou na Serra Fina que dedico este post. That’s it. 




































segunda-feira, 3 de junho de 2013

Fazendo as malas para a Serra Fina

O guia de trilhas de Guilherme Cavallari, referência no mundo do trekking, afirma que a travessia da Serra Fina é “conhecida como amais dura do Brasil”. Já a revista Go Outside, em matéria publicada em 2012, diz o mesmo: “sempre que se fala em travessia difícil do Brasil vem à mente a travessia da Serra Fina.” 

Fama de difícil, portanto, não falta a essa travessia. Mas vamos começar pelo começo: a Serra Fina é uma cadeia de montanhas localizada entre as cidades de Passa Quatro e Itamonte, ambas no Sul de Minas, bem na divisa com São Paulo e Rio de Janeiro. É também o teto da Serra da Mantiqueira, onde fica seu mais principal cume, a Pedra da Mina, com 2.798 metros – a quarta montanha mais alta do Brasil. Fazer a travessia significa encarar um trekking casca grossíssima de 32 quilômetros, com enormes desafios: frio abaixo de zero de madrugada, altitudes elevadas para os padrões brasileiros (o tempo todo acima de 2 mil metros), subidas intermináveis, mato fechado com capim alto e pouca disponibilidade de água – o que obriga montanhista a levar várias garrafas e, claro, aumenta o peso da mochila. Por causa das dificuldades, a Serra Fina também é encarada como treinamento pra desafios maiores como o Monte Kilimanjaro ou o Aconcágua. Mas quem supera essas dificuldades tem como recompensa visuais espetaculares e o privilégio deixar seu nome registrado no livro de cume da Pedra da Mina. Prática comum nas montanhas mais altas, os grupos de expedição deixam, lá em cima, um livro de cume – na verdade, um caderno -, a ser assinado por quem atingir o topo.

O livro de cume da Pedra da Mina, na verdade, um caderno. Atrás, a caixa de metal onde ele fica guardado, pra evitar ser destruído por chuva e tempestades.

Experimentados que somos no mundo do trekkings e das aventuras, eu e minha esposa, Renata, aceitamos o convite do corredor de Aventura Pablo Bucciarelli para encarar esse desafio.

Como costumo dizer, as melhores aventuras começam antes de a gente pegar a estrada; a cabeça já começa a imaginar como será o clima, a alimentação, as vistas. Assim, duas semanas antes, iniciamos o jogo de xadrez em que consiste a montagem das mochilas. A meta consiste em achar o equilíbrio entre colocar os equipamentos que proporcionem conforto na montanha e evitar o excesso peso, já que, a princípio, tudo é essencial. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ideal é que não se leve mais de 10% do próprio peso na mochila. Ou seja, no meu caso, 7,5 quilos nas costas. Ok, nos últimos anos os equipamentos ficaram mais leves e resistentes – vejam no post anterior. Mas desconfio que nem o Bear Grylls, o astro da série À Prova de Tudo, seria capaz de fazer a Serra Fina com apenas sete quilos na mochila – incluindo obrigatórios quatro litros de água. Resultado: fiquei com 17 quilos de cargueira.



Bear Grylls provavelmente levaria menos comida, mas duvido que fizesse a Serra Fina só 7 quilos na mochila.

Por isso, montar a primeira aventura da Serra Fina é a montagem da mochila. Confira alguns dos equipamentos escolhidos:


Já mencionei antes esse produto. Boa capacidade (75 litros) e possui acopladas uma capa de chuva – a previsão era de garoa no primeiro dia da travessia.


Embora um pouco pesado para esse tipo de travessia (1,4 quilo), um saco de dormir de boa qualidade pode fazer a diferença entre uma noite confortável e uma madrugada congelante.


Tendo três barracas em casa, resisti à ideia da Renata de adquirir mais uma. Mas acabei me convencendo: a Nepal 2 pesa apenas 1,9 quilo – ante 3,5 quilos das demais – e tem um design feito pra aguentar ventos e chuva.




Velha companheira de trilhas. Os calçados da Bull Terrier possuem uma ótima relação custo-benefício. Este modelo é à prova d’ água, condição fundamental para uma trilha em que a questão do peso impede de levar calçado-extra. No caso da Renata, o modelo escolhido foi um Salomon em Goretex, também á prova d’ água.






Prático e eficiente, pode ser desacoplado facilmente do botijão de gás.





Embora alguns aventureiros torçam o nariz, ainda é a principal iguaria das montanhas. Bon apetit!



Outros itens: kit de primeiros socorros (o site do Haka Race oferece uma lista de medicamentos obrigatórios para suas provas, que pode ser adaptada), gorro, luvas, bastão de caminhada, protetor solar, óculos escuros, head lamp e, claro, um celular carregado para situações de emergência.


No próximo post, a história continua.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Aventureiros de ontem e de hoje


A aventura sempre foi um conceito muito presente na vida do homem. Mesmo que você esteja lendo este texto no conforto de um sofá e nunca tenha pisado no cume de uma montanha, navegado quilômetros num caiaque ou sequer feito um trekking de cinco ou seis quilômetros, saiba que sua vida deve muito ao espírito aventureiro da humanidade. Não fossem nossos ancestrais terem atravessado o estreito de Behring, entre a Rússia e o Alaska, há uns 10 mil anos – num trekking pré histórico casca grossa vários grau abaixo de zero – você não estaria lendo este texto. E, se Cabral não tivesse realizado a travessia do Atlântico Sul quinhentos anos antes de Amyr Klink, a história do Brasil seria diferente. Devemos muito aos aventureiros.



Mas tanto os hominídeos quanto os portugueses tinham lá, consciente ou inconscientemente, uma motivação econômica e, sob esse aspecto, o conceito mudou radicalmente. Há um século, a ideia de aventura como busca de riqueza já havia sido substituída por outra, relacionada à obtenção de reconhecimento. Em vez de ouro, especiarias ou novas terras buscava-se glória. Naqueles tempos, ser o primeiro a pisar num cume ou num ponto inóspito era questão de orgulho nacional, capaz de render várias honrarias. Foi nesse período que foram conquistados pela primeira vez o Polo Norte (1909), o Polo Sul (1911) e o Everest (1953). Primeiro homem a pisar no topo do Everest, o neozelandês Edmund Hillary foi nomeado sir pelo governo britânico e virou até estampa no dinheiro local em seu país. Para orgulho da rainha e de seus súditos, a maior montanha do mundo fora conquistada por um aventureiro originário de uma ex-colônia ainda com forte ligação com a Grã Bretanha.


Hillary Dólar da Nova Zelândia - à esquerda, há uma imagem do Everest

Mas a glória dos aventureiros cobrava seu preço. Muitos ficaram pelo caminho. O inglês Robert Scott esteve próximo de ser o primeiro a chegar no Polo Sul, mas acabou morrendo congelado juntamente com todo o grupo de sua expedição no retorno à base. Outro britânico, George Mallory, tem uma história igualmente trágica: ele teria atingido o pico do Everest em 1924, mas seu feito nunca foi comprovado, pois logo após a suposta conquista, Mallory sucumbiu diante das temperaturas baixíssimas e da altitude. Os equipamentos precários e a alimentação inadequada daqueles tempos, assim como a falta de um treinamento específico para os enormes esforços tiraram a vida de muitos dos postulantes à glória. Para se ter uma ideia, de 1922 até 1970, 28 escaladores chegaram no cume e 27 sucumbiram. Ou seja, a chance de morrer era de 50%!

Tudo isso evoluiu. GPS portáteis, roupas tecnológicas forradas com penas de ganso, tecidos que resistem às piores tormentas em alto mar, celulares capazes de fazer ligações e até de acessar o Facebook dos lugares mais remotos do Planeta mudaram mais uma vez o conceito de aventura. Os feitos mais memoráveis do início do século passado se tornaram acessíveis a qualquer ser humano mais ou menos em forma. Comparando com os dados anteriores sobre o Everest, em 2003, nada menos que 264 pessoas chegaram ao cume e apenas três morreram. O fator tecnologia é, portanto, indiscutível.

Este GPS da Garmin resiste à água, a impactos e possui uma câmera de 5 MP.

Mas se ficou tão mais fácil, o que, então, buscam os conquistadores do século XXI? Simplificando um pouco, a ideia, hoje, é a da aventura pela aventura. Busca-se ainda hoje a glória, mas de uma forma diferente. Nada de honrarias. Em tempos em que todos têm seus 15 minutos de fama, um vídeo no Youtube ou algumas fotos no Facebook são suficientes para conquistar o reconhecimento de algumas dezenas de amigos e simpatizantes. Mas não é só isso. Busca-se, também, um ativo não econômico de valor incomensurável nos dias de hoje: paz de espírito. Já os profissionais do ramo (gente como Amyr Klink, o corredor de aventura Rafael Campos e o escalador Rodrigo Raineri) lançam livros, vídeos, conquistam apoio de marcas ligadas ao mundo outdoor. Nas conquistas do século XXI, as condecorações da rainha foram substituídas pelo onipresente logo azul e vermelho da Red Bull.

Os aventureiros do passado não tinham acesso a isso:


 Heatgear - Aquece a água sozinho, sem precisar de fogareiro. Um litro de água fica quente em 15 minutos.

Gatorade mais Cebion é igual a...Suum! Uma pastilhazinha igual a um Cebion misturada com água faz um litro de isotônico.



Saco de dormir Marmot Plasma 15. Suporta até 26 graus negativos e pesa menos de um quilo.


Barraca Easton Kilo 3. Aguenta ventos de até 65 quilômetros por hora e pesa 1,3 quilo. Se tivesse uma dessas, Hillary teria vida mais fácil no Everest.



Assim como os produtos estrangeiros, os equipamentos nacionais evoluíram uma barbaridade. Mais baratos e com tecnologia que não fica em nada a dever para os gringos, eles são, hoje, uma excelente opção. Esta mochila da Kailash possui um sistema que permite a circulação de ar nas costas e conta com uma capa protetora, além de porta bastões. E mais: possui uma mochila menor, de ataque, acoplada. 


quinta-feira, 25 de abril de 2013

Perrengues: por que gostamos deles?


O que leva alguém gostar de esportes outdoor? Ou o que leva algumas pessoas a se enfiarem em precárias barracas de lona durante madrugadas congelantes para, no dia seguinte, acordar cedo e encarar horas de tremendo esforço físico no alto de montanhas em que o risco de morte é real? Ou, em termos mais diretos, o que nos leva a trocar um final de semana no conforto de nossas casas ou num boteco por esses perrengues, nos expondo a riscos e gastando energia à toa? Sempre me pergunto isso quando estou saindo de casa rumo a uma trilha ou corrida de aventura.

No último final de semana, quando fomos para o Parque Nacional do Itatiaia, não foi diferente. Uma hora e meia de trânsito só pra sair de São Paulo e chegar na Ayrton Senna; mais quatro horas de estrada e, por fim, após estacionarmos na margem de uma estradinha de terra, uma hora e meia de caminhada por uma trilha estreita (e, em alguns trechos, em meio a brejo) na gélida madrugada da Mantiqueira e levando nas costas 10 quilos de equipamentos para chegarmos no Refúgio Agulhas Negras, nosso destino e onde montaríamos as barracas pra, no dia seguinte, às 7h da manhã, cairmos da cama para percorrer de volta toda a trilha e, na sequência, entrarmos no parque para subirmos rumo ao pico das agulhas negras.

Para entrar no parque do Itatiaia e atingir o pico de suas três principais montanhas (Agulhas Nergras, 2.790 metros; Morro do Couto, 2.680 metros, e Pico das Prateleiras 2.548 metros), é preciso, antes, preencher um documento com nomes e documentos dos integrantes do grupo que vai para a trilha e o horário de início da caminhada; no caso do Agulhas, o documento deixa bem claro que, se, até às 17 horas, o grupo não retornar, uma equipe de busca e resgate será acionada. Ou seja: embora conquistar esse cume seja considerado algo relativamente simples pelos mais experientes, não se trata, definitivamente, de um passeio no parque.



Placas avisando dos riscos de subir sem conhecer técnicas de escalada: não é um passeio no parque.

Documentação ok, passamos a portaria e iniciamos o percurso rumo às Agulhas. A trilha, em si, envolve três seções. A primeira consiste numa caminhada básica de uns dois quilômetros pela estrada de terra que corta o parque e dá acesso ao Abrigo Rebouças – um alojamento comunitário, com camas, fogão e banheiro e único local da parte alta do Parque em que é permitido acampar. Passado o abrigo, tem início o segundo trecho. Aqui, o caminho se transforma num single trek, uma trilha estreita e cercada por arbustos, mas ainda praticamente toda no plano. Aqui se atravessa, sobre pedras, uma pequena represa e um riacho de águas muito limpas e geladas, último ponto em que é possível abastecer os cantis – a água é totalmente potável. Por fim, chega-se ao terceiro trecho, o realmente desafiador. Aqui, começa o que os trilheiros chamam de ‘escalaminhada’, uma mistura de caminhada com algumas técnicas de escalada, que envolvem subir em rochas enormes, passar sobre gretas (buracos entre essas pedras gigantes) e, às vezes, superar paredes com o uso de cordas – mas sem equipamentos mais específicos de escalada, como cadeirinhas e freios de rapel. Essas passagens envolvem um pouco de força e algum grau de habilidade, mas são, em geral, transpostas facilmente por gente sem experiência em escalada, mas com algum preparo físico.

De qualquer forma, é aqui que os novatos se espantam e, em geral, praguejam contra todas as gerações de quem os levou até ali. Guias, amigos, marido, ninguém escapa. Diante do desafio de transpor uma rocha enorme passando bem ao lado de um abismo cuja queda, dezenas de metros abaixo, seria fatal, alguns xingam; outros vão em frente, as pernas e braços trêmulos diante do medo. A maioria chora e grita “Daqui eu não passo!”. Acreditem, já fui ao Itatiaia três vezes e testemunhei essa cena em duas ocasiões – 66% das vezes, portanto. Mas, passada a crise, a maioria vence os próprios instintos e segue montanha acima para, depois de mais um sem número de promessas de nunca mais voltar, atingir o cume.

Chegar lá em cima, não importa quantas vezes já se tenha feito isso, é uma sensação única. Envolve sentimentos de conquista, de realização e de paz. No topo de uma montanha, o único som que se ouve é o do vento (bem forte, diga-se) e o que se enxerga é o horizonte, bem longe. No caso do Pico das Agulhas Negras, pode se avistar a via Dutra, o vale do Paraíba e, mais além, a Serra da Bocaina, que dá para o litoral de Paraty e Angra dos Reis. Do outro lado do pico, avista-se o Vale do Aiuruoca, no Sul de Minas Gerais. Vista de 360 graus.



No cume com a Renata

Ficamos mais ou menos meia hora no cume das Agulhas Negras (prá quem tem curiosidade, a área do pico é equivalente à de uma sala pequena). Comemos, tiramos fotos e nos divertimos com as histórias que sempre surgem durante a subida. Acima de tudo, contemplamos aquele visual espetacular. Depois, encaramos os mesmos desafios (mas mais confiantes) para fazer o caminho de volta e, às 09h da noite, chegarmos no abrigo, tomarmos um merecido banho gelado e uma cachaça tipicamente mineira e dormirmos em nossas quase congeladas barracas.


















Vista do Pico das Agulhas Negras

Tenho consciência de que uma história como essa pode soar como a maior das aventuras pra quem não é do ramo, mas de que não se trata, absolutamente, de algo inédito ou digno de nota. O mundo está cheio de aventureiros de verdade, gente que encara desafios como subir o K2 (a montanha mais perigosa do mundo, onde corpos congelados dos escaladores mortos no caminho jazem, como testemunho de seus riscos), atravessar a Passagem de Drake (o mar entre Argentina e a Antártida, conhecido pelas piores condições climáticas do mundo) num caiaque ou cruzar o deserto do Saara numa bicicleta.

Tenho consciência, também, da complexidade de se explicar a fascinação que esse tipo de atividade nos exerce. Como diz John Krakauer no livro Sobre homens e montanhas, o que leva alguém a escalar montanhas é algo que a maioria das pessoas que não faz parte do mundo dos montanhistas tem dificuldade para entender – se é que entende. Para mim, são esses breves momentos de conquista, reflexão e paz que justificam nossos pequenos-grandes perrengues.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Boston, 15 de abril


 A maratona de Boston não é uma prova qualquer. Pra começo de conversa, é uma das mais antigas do mundo. Tem 117 anos – pra efeito de comparação, a nossa tradicionalíssima São Silvestre tem 88. Além do mais, não é, literalmente, pra qualquer um. Para estar lá, é preciso ter um tempo mínimo classificatório - diferentemente de outras maratonas célebres, como Nova York, Paris e Berlim. Para os homens de 18 a 24 anos, por exemplo, esse tempo é hoje de três horas e cinco minutos. Quem tem familiaridade com o mundo das corridas sabe que correr uma maratona em menos de quatro horas não é trivial (tanto que existe a expressão ‘fazer uma maratona sub 4’), quanto mais em três. Por isso, o mundo das corridas olha pra essa prova com um carinho especial.

Por esses e por outros tantos motivos, os atentados ocorridos na última segunda-feira chocam. Eles acertaram em cheio um esporte carregado de simbologia. A corrida é, por definição, a modalidade mais democrática que existe; por mais que sejam alardeadas as qualidades de tênis que são a última palavra em amortecimento ou de cronômetros high tech supercaros, o que vale mesmo é a dedicação. Um par de tênis simples e uma boa dose de força de vontade são o suficiente pra botar o pé na estrada. E nisso, a corrida iguala a todos. Que outro esporte faria campeões atletas vindos de do chamado ‘Chifre da África’ (como Etiópia e Eritreia), a região mais miserável do mundo? 

A maratona também fascina porque tem em seu DNA a superação. Sua origem, diz a lenda, foi a jornada do soldado grego Filípides (ou Fidípides), que correu os 40 quilômetros entre as cidades de Maratona e Atenas para noticiar a vitória dos helenos sobre os persas. Ao concluir a jornada, anunciou: “vencemos” e morreu, extenuado pelo cansaço. Imaginem as condições de correr 40 quilômetros 2.500 anos atrás. Desde então, o termo maratona passou a integrar toda expressão que envolva uma quantidade absurda de coisas pra fazer: “Assistir uma maratona de jogos”, “encarar uma maratona de reuniões”, e por aí vai. E pense na quantidade de filmes, livros e até videoclipes carregados de clichês já produzidos sobre corridas e suas histórias de superação.

Por fim, correr é um ato de celebração. Celebrar a perda de uns quilos, o abandono do hábito de fumar ou, simplesmente, celebrar o momento, sem um motivo especialmente importante que não o de estar no meio de uma multidão de 10, 20 mil pessoas de diferentes idades, classes, religiões – como se isso, aliás, não fosse, por si, um motivo para celebrar. A São Silvestre é especialmente representativa do ato de celebração: paulistas, cariocas, nordestinos, caipiras, gays, roqueiros, são paulinos, corinthianos e quenianos, todo mundo junto numa vibração positiva por mais um ano que começa.

E nesse quesito os americanos são insuperáveis. Nova York, Chicago e...Boston, fazem de suas maratonas grandes celebrações. Mas eles também são insuperáveis quando se trata de juntar todo mundo na tragédia, meter a mão na massa e dar a volta por cima. No ano passado, quando o furacão Sandy provocou o cancelamento da maratona de Nova York, centenas de corredores nada resignados foram ao Central Park, local da chegada, e correram os 42 quilômetros correspondentes à distância da prova. De quebra, doaram agasalhos e alimentos às vítimas da tempestade. É essa força de reação que, tenho certeza, eles mostrarão agora.