quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Quotation

Me lembro de ter ouvido no filme Central do Brasil, mas pelo que entendi, originalmente é do Vinicius de Morais: A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro.

Mais nomes esdrúxulos

Por falta de inspiração, mais uma lista do Denão - com os comentários inspiradíssimos do próprio. Nem o Kibeloco faria melhor:

Edson Arantes do Nascimento Filho (É o pelézinho)
Divino Eterno da Silva (Ademir da Guia, deve ser adversário do pelezinho)
Manoel Messias Porto da Hora
Mahara Dutra Gologossidis
Gengis Khan Santos Vieira (Muito bom !!!)
Antônio Marcos Pinto dos Santos (Clássico)
Divino Inácio Sobrinho (Agora é Tio !!!)
Divino Coelho (É o Coelho da Páscoa)
Bráulio Everson Homen (Esse poderia ser colunista da Mens Health ou da Playboy)
Bráulio Pinto (Famoso)
Bráulio de Jesus (Esse é foda)
Shakespeare Lopes
Ray Charles Taylor de Almeida
Bruce Lee Borges da Silva
Bruceli Cora Cavaleiro
Martin Luter King de Almeida
Hitler Moreira (Putz !!!)
Natalício das Neves (É o Papai Noel !!!)
Albino Luciano das Neves (Deve ser pouco branco)
Albino Leite de Aguiar

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Efemeridades

Diante de mim, na parede atrás do computador:

50 crachás, pendurados precariamente por um minúsculo prego, de eventos de todo tipo: "Congresso Nacional de Tecnologias Aeroagrícolas - Botucatu, 24 a 27 de junho de 2004"; "Fundos de Pensão Instituidores, 1º de julho de 2003"; "Fehab Anamaco 2000"; "Ciab Febraban 2005"; "Infra GTD 24-26 abril 2001"...

10 medalhas, igualmente mal equilibradas num preguinho: "Circuito Corpore 450 anos de São Paulo 2004" "Corrida Duque de Caxias, 29/08/2004"; "Nike 10 km, 19/11/2006"; "83ª São Silvestre"...

Pequenas efemeridades que a vida vai deixando pelo caminho.

Curso de Férias

Dois anos e meio depois de me afastar dos bancos escolares, voltei a estudar. Quero dizer, em termos. Afinal, não se pode dizer que freqüentar durante uma semana um curso de férias seja exatamente estudar. Indepentemente de classificações, lá fui eu. A faculdade, a Escola Superior de Propaganda e Marketing, é uma das mais conhecidas do País na área. Só por isso já valeria à pena. No mais, dizem por aí que é bom frequentar cursos como esses pra aumentar a rede de relacionamento (que chamam pomposa e estupidamente de network) e oxigenar as idéias.

Conforme orientação de inúmeros e-mails, lá estava eu às 18h50, exatos quarenta minutos antes do início da primeira aula - e depois de uma pra, dizer o mínimo, heróica viagem de uma hora no caótico trânsito do rush paulistano, debaixo de uma daquelas tempestades aparentemente programadas pra desabar pontualmente às 18h. Quem vive por aqui sabe que, considerando-se o tamanho da bagunça, uma tempestadezinha não conseguiria piorar o que já é, por natureza, uma bagunça. Pois consegue.

Enfim, lá estava eu. O primeiro dia de aula, independentemente da escola, do tipo de curso e da idade dos alunos, é sempre parecido. Um corre-corre de gente desorientada em busca das informações mais básicas. Prá maioria, a escola é ainda um enorme labirinto.

Descubro onde é a minha sala - ainda um pouco vazia - e trato de demarcar meu território, deixando a mochila, o guarda chuva e o paletó ocupando três carteiras na primeira fila, junto à parede. Feito isso, dou uma volta pelos corredores. Devoro uma barra de cereais, entre um gole e outro de água, enquanto tento decifrar pelo rosto e pela forma como se vestem meus colegas, a origem de cada um. Faço o possível pra manter um ar de quem já domina bem aquele ambiente. Pura falsidade.

No corrredor, próximo à sala de aula, um grupo conversa animadamente. Um rapaz de terno e gravata conta para duas ou três gatotas - todas impecáveis em seus terninhos e sapatos de bico fino - como foram suas férias numa praia qualquer de Ubatuba. As garotas interrompem, mudam de assunto, e tratam, logo, de falar de seu dia-dia na empresa (aparentemente, são todos colegas). Enfiam, em cada frase, dois ou três temos em inglês. Volto prá sala.

A essas altura, próximo do canto da sala onde acomodei meu equipamento, um rapaz e uma garota, ambos aparentemente bem jovens, riem em voz baixa. O rapaz usa jeans surrado e camiseta com estampa de um personagem de quadrinhos. No outro canto, no oposto de onde estou, duas garotas usando taileur e sapatos comportados olham pro teto. Aguardam, aparentemente entediadas e ainda sem se conhecer, o início da aula.

Chega a professora, uma jovem senhora (uns 50 anos, calculo). Veste um terninho bem cortado, no qual vai fixado um minúsculo bottom da faculdade. Cabelo curto, moderno, mas sóbrio, como aparentemente convém a uma jornalista-assessora-publicitária. Logo, nos cumprimenta e abre um sorriso protocolar, sem esticar a conversa.

Mais alguns minutos e chegam as demais colegas: a morena de rosto arredondado, jeans e camiseta que, logo que me identifica, abre um enorme sorriso - nos conhecemos de outro curso, me avisa logo (coisas da idade, me esforço pra lembrar...); a loira de óculos, jeito sério e uns óculos com aros dourados; outra loira, essa de cabelos tingidos, claríssimos e visual também despojado e uma garota baixinha, de um metro e meio de altura, mais ou menos, olhos miúdos, mas bem espertos. Cursos de jornalismo e relações públicas, principalmente, costumam ser frequentados predominantemente por garotas. Nós, homens, somos minoria.

A professora trata, logo, de nos explicar, que aquilo não seria um curso formal; que nos transmitiria apenas noções gerais do assunto - coisa que, pra mim, era meio óbvia - e forma três grupos: o primeiro seria o cliente (a empresa que contrataria a assessoria de imprensa); o segundo, a assessoria de imprensa, mesmo, e o terceiro, a imprensa (digo, um jornal fictício).

Meu grupo, formado pela conveniência da proximidade, é composto pelo rapaz e pela garota que riam baixo no início da aula. Ao contrário deste escriba que, ao longo de dez anos de trabalho, passou por três redações e duas assessorias, a experiência dos demais é nula. Um longo curso de uma semana.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Nomes Esdrúxulos

Denão, irmão deste escrevinhador e sujeito estrategicamente posicionado no mundo da comunicação corporativa jurídico-financeira, me enviou uma lista de nomes, pra dizer o mínimo, pouco convencionais, à qual teve acesso. Os nomes, acreditem, existem de verdade. Basta dar um passeio pelo site da Telefônica e, no catálogo de endereços, digitar algo como Elvis Presley de Sousa, ou Diego Maradona de Jesus.

Dêem uma olhada:

Prazeres de Santana (Hummmm....)
Charles Beethoven dos Santos (Gênio...)
Armando Cruz de Carvalho (Crucificando Jesus)
Armando Bom Despacho (Pai de santo)
Jimmy Cliffi de Mello (Reggae Night...)
Geraldo Santos (Esse é clássico... o cara era torcedor fanático)
Maicon Marlon Maia (O único cara que tem um trio sertanejo no nome !)
Tim Maia Araújo da Cruz (Meu Deus! Chama o síndico!)
Natanael Epaminondas Raposo (Born to be burocrata)
Johnny Graysson Hay Mussi da Silva (ESSI EU AGARÂNTIO!!!!)
Jack Johnson Venâncio
James Dim Freitas da Silva
Adolfo Nascimento do Rego (O nascimento do rego????)
Washington Romário Bica da Silva (Irmão do grande Robinho Pedalada de Almeida)
Nelson Ned Jesus dos Santos (Sem comentários)
Joandre Pinto de Carvalho (Pinto de carvalho? Nofffffaaaa...)
Jacinto Pena de Jesus (E eu sinto pena desse sujeito....)
John Lenon Valadão dos Santos (Nasi Valadão, vocalista do Ira!, se orgulharia....)
Uburatan Índio do Ceará (!!!)
Ewerton Gustavo Leite Farinha (Dois ovos, açúcar e canela)
Amador Generoso (E o pai desse infeliz não foi nem um pouco generoso)
WOXINTOM Amador Ferreira (registrado pelo Escrivão Analfabeto da Silva)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Fragmentadora de papel - II (Atendendo ao anônimo)

Um anônimo leitor deste mal lido blog observa, a propósito de minha incomensurável e, nesse caso, auto-declarada ignorância, que, em filmes da Segunda Guerra já se vêem as fragmentadoras de papel. Elas não são, portanto, 'ultra modernas', como eu mencionava no post - que, aliás, já foi corrigido.

Pois bem, resolvi verificar. O caminho mais óbvio, a Wikipedia http://en.wikipedia.org/wiki/Paper_shredder, informa, na área de conteúdo em inglês, que a primeira fragmentadora (em inglês, paper shredder, algo como desfiadora ou retalhadora de papel) foi patenteada em 1909, nos Estados Unidos. O projeto comercial, no entanto, nunca saiu do papel. A história é também contada no site Paper Shredders Info http://www.paper-shredder-info.com/.

Ela ganharam espaço, mesmo, na década de 1930, quando o alemão Adolf Ehinger desenvolveu um sistema manual, supostamente, segundo a Wikipedia, para destruir a propaganda anti nazista produzida por ele mesmo (que, se caísse nas mãos da turma de Hitler, o colocaria numa gelada - ou, melhor, num forno). O sistema foi aperfeiçoado, ganhou motor elétrico e transformou a invenção de Ehinger numa sólida companhia que existe até hoje - quem duvida entre no site http://www.eba.de/.

Em 1984, quando a Suprema Corte dos Estados Unidos definiu que não havia nada de ilegal na busca de provas documentais para processos nos lixos, as vendas ganharam mais um empurrão.

Então tá. De fato, meu caro anônimo, pode-se falar de tudo a respeito das fragmentadoras, menos que sejam ultra modernas.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Fragmentadora de papel

Recebi, de um tal de Marcelo Antunes, o seguinte e-mail: "Aqui está a forma correta de eliminar os papéis que dizem respeito a você e a sua empresa. Secret Off Destruction Super Paper Small Pieces Documentos Fragmentadoras de Papel Tabajara. Sua segurança na medida certa".

Fragmentadoras de papel, pra quem não sabe, são aquelas máquinas cuja finalidade única é triturar documentos. Fisicamente falando, são super-lixeiras equipadas, na parte superior com um orifício semelhante ao dos pré-históricos aparelhos de fax, no qual se insere o papel. O documento enfiado naquele ralo da morte sai do outro lado, transformado em milhares de pedacinhos. Quinze mil seissentos e quarenta e cinco pedacinhos, me informa o anúncio - pergunto-me se o sr. Antunes se deu ao trabalho de contar, fragmento por fragmento, em quantos desses pedacinhos se transformam meus outrora super secretos documentos.

O e-mail informa, ainda, que há dois modelos de fragmentos: bolinhas, parecidas com confete de carnaval e 'partículas', seja lá o que isso signifique - desconfio que o resultado seja algo parecido com serpentina ou, falando em linguagem gastronômica, talharim. O modelo mais possante fragmenta até 10 folhas padrão 75 gramas ou um cartão de crédito ou um CD. Alta tecnologia a serviço da destruição.

Tenho cá minhas dúvidas em relação às intenções do sr. Antunes ao escolher este tão mal informado e pouco política e empresarialmente influente escriba pra alardear as qualidades de tal mecanismo.

De resto, confesso que fragmentadoras de papel sempre me pareceram uma espécie de confissão implicita de culpa. Adquirir uma equivaleria, por exemplo, a freqüentar uma clínica especializada em melhoria do desempenho sexual. Lembro-me de que, quando estive em Brasília, nos idos de 2004, chamou-me a atenção o grande número de anúncios de dispositivos como esse e, vejam só, de serviços especializados terceirizados. "Destruímos seus documentos com total sigilo e segurança." Imagino que, na Capital Federal, a fragmentadoras sejam, para os escritórios e gabinetes, item tão básico e indispensável do mobiliário quanto a escrivaninha e a máquina de café. Desconfio, aliás, de que, nos porões do Congresso ou de alguma residência oficial, haja, neste exato momento, uma equipe de centenas de burocratas (envergados em jalecos brancos, ternos acima do tamanho e gravatas de mau gosto) trabalhando dia e noite pra tirar das pranchetas um fragmentador de caseiros detratores, secretárias mal-comidas e ministros da fazenda trapalhões.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

As 20 mais

Dois ponto três leitores. Sei que as listas pululam nos blogs aí pela Internet afora. Confesso que não vejo lá muita graças nelas - na verdade, acho uma enorme perda de tempo e uma maneira de se criar assunto quando não há muito o que dizer. Mesmo assim - e mantendo a linha do post anterior -, ousarei tomar seu precioso tempo enumerando minhas 20 melhores músicas pra correr. Antes, três considerações: (1) a lista me veio de primeira. Assim certamente faltará, nela, coisa muito melhor que já conheço ou que ainda não ouvi; (2) integram a lista apenas músicas em inglês. Embora domine razoavelmente o idioma anglófono, correr é, para mim, antes de tudo, uma forma de, como dizem, despoluir a cabeça. Assim, quanto menos palavras inteligíveis, melhor; (3) procurei, na medida do possível, eliminar todos os clichês - como por exemplo The eye of the tiger, a já mencionada trilha sonora de Rock o Lutador.

1) Bad Relligion - Punk rock song
2) U2 - Where the streets have no name
3) Steppenwolf - Born to be wild
4) Dave Matthews - Two Steps
4) U2 - When love comes to town
6) Bad Religion - The streets of America
7) AC/DC - Hells bells
8) Deep Purple - Burn
9) Gin Blossoms - Follow you down
10) The Police - Message in a bottle
11) Metallica - From whom the bell tolls
12) Midnight Oil - Blue sky mine
13) Queen - I want it all
14) Soul Asilum - Somebody to shove
15) The Wallflowers - We can be heroes
16) Scorpions - Rock you like a hurricane
17) Deep Purple - Perfect strangers
18) Audioslave - Cochise
19) REM - The one I love
20) Live - Pain lies on the riverside

Aceito sugestões. Só não me peçam pra tocar Raul. O maluco beleza certamente não toleraria tão saudável e mauricinha afronta.

domingo, 6 de janeiro de 2008

São Silvestre - Parte III

Cumprido o trecho do elevado Costa e Silva, desço pelas quebradas da rua Tagipurú, alameda Olga e rua Margarida pra, finalmente, ganhar a primeira subida de verdade, o viaduto Pacaembú. Antes, porém, uma estratégica e escatológica pausa pra um xixi. Na falta de um banheiro de verdade, paro por alguns minuto num canto da calçada e me alivio num copinho de água já vazio. Mais leve, venço a inclinação do viaduto sem dificuldade.

A subida da Rudge (na verdade, viaduto Orlando Murgel), como me adiantara o Edgard, é talvez, o maior desafio da prova. É mais curta, mas fica justamente no quilômetro 10. Quem superá-la terá, ainda, pela frente, um terço da prova -incluída, aí, a própria Brigadeiro. Enfim, mais pressão psicológica. Reduzo o passo à velocidade mínima. Na calçada ao lado direito, uma corredora passa mal. Entro no tedioso retão da Rio Branco. Hora de acionar o aparelhinho de MP3. Um som do U2 (Bad) me ajuda a manter a concentração. Sigo num transe, acompanhando o ritmo dos demais corredores. Subitamente, volto à realidade quando sou ultrapassado por um rapaz magrelo carregando um daqueles bonecões de Olinda. Em seguida, passa por mim um senhor de uns 40 anos usando uma enorme peruca amarela encaracolada. Nariz de palhaço e umas mãos postiças de isopor, ele acena para o público. Depois da Rio Branco vêm o largo do Paissandú, o Teatro Municipal, viaduto do Chá, rua Líbero Badaró e o largo de São Francisco. Trechos protocolares. O que importa, agora, é a subida da Brigadeiro.

Para quem vem do Largo de São Francisco, a visão que se tem da Brigadeiro e de doer - as coxas, as panturrilhas, tudo. O que se vê dali é subida, até onde a vista alcança. O MP3, aparentemente entendendo meu drama, muda de faixa e seleciona, aleatóriamente, o grupo Bad Religion. Uma verdadeira porrada sonora. Ganho algum ânimo pra enfrentar o calvário que vem pela frente. No início da subida, paro para pegar um copinho de água no último posto de hidratação. Que burrada! Depois de uma hora e meia realizando sem parar o mesmo movimento, as pernas não querem parar nem por decreto. Mas, depois que páram, páram de vez. Convencer as coitadas a voltar a correr, depois disso, é quase como tentar convencer um cidadão a passar férias no Iraque. Mas, aos poucos, consigo retormar o ritmo.

Entre os milhares de guerreiros que, sem forças para continuar correndo, se entregam, dignamente a uma derradeira caminhada, me sinto um alien correndo. Mas sigo. Não andar ali é questão de honra! À minha direita, me ultrapassa um senhor de uns cinquenta anos carregando, sabe-se lá por que, uma réplica enorme de um ônibus, de mais ou menos um metro de comprimento. "Meta pra 2008: não ser ultrapassado por nenhum desses tipos", prometo pra mim mesmo.

Chego, finalmente, aos dois quarteirões finais da Brigadeiro. E, pra não passar em branco tão célebre momento, o MP3 me escolhe por acaso - por acaso!!! - The Eye Of The Tiger, a trilha sonora do filme Rocky, o Lutador. Cruzar a linha de chegada ouvindo aquilo! Se houvesse um prêmio "Melhor clichê da São Silvestre" eu venceria. Aliás, ficaria em segundo lugar, pois certamente algum imbecil subiu ouvindo We are the Champions, do Queen.

Entro na Paulista eufórico. Imagens de todos aqueles heróis cruzando a linha de chegada me vêem à cabeça. Como num daqueles filmes piegas da sessão da tarde, bato no peito, orgulhoso, e me esforço para segurar as lágrimas. Passo pela a linha de chegada, pulo a grade que separa os corredores do público e vou direto comprar uma latinha de Skol num daqueles vendedores ambulantes. Que venha 2008!

sábado, 5 de janeiro de 2008

São Silvestre - Parte II

Histórias, personagens e significados me vinham à cabeça quando soou, alta e solene, a sirene anunciando o início da São Silvestre. Pessoas famosas, pessoas anônimas, 20 mil pessoas. A multidão aplaude, grita, vibra, mas não consegue dar um passo sequer. É impossível, imagino eu, pôr tanta gente em movimento exatamente ao mesmo tempo. Ficamos ali, eu e um velho amigo, o Edgard, parados por dez minutos, mais ou menos, em meio àquela multidão. "Bem vindo à São Silvestre", debocha o Edgard, um veterano das corridas.

Aos poucos, o congestionamento vai se desfazendo e começamos uma caminhada. Na mesma cadência, viramos a esquina da Paulista com a Avenida Consolação onde o trânsito começa, finalmente, a fluir. Edgard se despede, aciona suas turbinas invisíveis, e some no meio da multidão.

A avenida Consolação, com o perdão do trocadilho, deveria ser chamada de Tentação. É uma tentação pros marinheiros de primeira viagem da São Silvestre. Espaçosa - as duas pistas são liberadas para os corredores, o que facilita o fluxo - e bem pavimentada, a Consolação é uma enorme descida que se estende até a Praça Roosevelt, onde se junta com a Ipiranga. Os novatos descem a 'milhão', torrando, desta maneira, a energia que deveria ser poupada pra depois, nas intermináveis subidas da Avenida Rudge e da Brigadeiro. Seguindo o conselho de gente mais experiente, me contenho. Desço num ritmo cadenciado, de 8 quilômetros por hora, mais ou menos.

Sigo pela pequena reta da Avenida Ipiranga aumentando um pouco a velocidade (pelos meus cálculos, uns 9 quilômetros por hora). Sou ultrapassado por um sujeito fantasiado de Chapolin Colorado - o cara, metido naquela fantasia ridícula, aparentemente sofre com o calor.

Mais uns metros na Ipiranga e contorno a caetânica esquina com a São João, que, por sua vez, leva ao elevado Costa e Silva, o Minhocão. Nas calçadas da São João, reconheço um grupo de africanos (nigerianos, provavalemente) que há tempos se hospeda nos hotéis meia-boca-do-lixo da região - e cuja forma de ganhar a vida é uma incógnita. Tento adivinhar, por um instante, se vibraram ou não com a passagem dos quenianos.

Elevado Costa e Silva. Em meus planejamentos, o trecho do Minhocão seria uma barbada. Nos metros finais desse mastodonte de concreto horroso que o ex-governador Maluf plantou em São Paulo fica o largo Padre Péricles, onde moro. Fechado aos domingos, me serviu em diversas ocasiões de campo de treinamento prás corridas. Triste engano. Pra resumir numa palavra, a sensação é de frustração. A impressão de que, por mais que se tenha corrido, o que se cumpriu foi apenas um terço da prova é um baque psicológico. Mesmo assim, sobrevivo. No trecho mais próximo de casa, procuro adivinhar, na multidão que acompanha a corrida, algum rosto conhecido. Meu feito teria, afinal, de ser testemunhado por algum vizinho. "Caramba, nem o lerdo do zelador apareceu?" Paciência. Não há tempo pra exibicionismo.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

São Silvestre - Parte I

Noite mal dormida. Dor de barriga. Saquinho de supermercado para acondicionar, com segurança, contra a chuva, o celular, umas notas de R$ 10 e um inevitável naco de papel higiênico. Lista detalhada de músicas para lotar a memória do aparelhinho de MP3: U2, Bad Religion, Dave Matthews. Ah, e um boa desculpa para, quem sabe, pular fora na última hora. Inseguranças e preparativos que precederam minha primeira participação na São Silvestre. Nos próximos posts, dois ponto um leitores, tentarei descrever essa experiência.

A São Silvestre é certamente a prova mais famosa e, possivelmente, a mais antiga do País. Tem 83 anos. É a corrida a que todo mundo assiste, mesmo sem entender lhufas de atletismo. Uma efeméride do Reveillon, assim como o peru, a champanha e a contagem regressiva prá virada do relógio - venha ela de que relógio vier.

É, também, por excelência, a personificação e a catalisação de todos os desejos de ordem físico-desportiva para o ano que se inicia. Na festa de família, diante da TV sintonizada na São Silvestre, fumantes declaram solenemente, diante dos olhares incrédulos, que abandonarão o vício e passarão a praticar esportes. Afinal, ainda falta um ano prá próxima São Silvestre. Meio a contragosto, primos rechonchudos também se comprometem a refrear ímpetos destruidores. Assalto à geladeira nunca mais!

Minhas primeiras memórias da São Silvestre remetem a longínquos reveillons na casa de tia Terezinha. Magrinha e minúscula, traços bem definidos no rosto miúdo, tia Terezinha era, pra mim, sósia da corrredora portuguesa Rosa Mota. Diante de sua TV, assistíamos à Rosa Mota cruzar - invariavelmente em primeiro lugar - a linha de chegada, enquanto os fogos do ano novo já pipocavam nos céus da avenida Paulista. Naquele tempo, a São Silvestre terminava à meia noite. A subida derradeira era na avenida Consolação. E a tia Terezinha era a Rosa Mota.

Depois, vieram João da Mata, Rolando Vera, Paul Tergat, Marilson da Costa. Heróis desconhecidos do grande público em seus 15 quilômetros de fama.

Logo, logo, tem mais.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Quote

Tu te torna eternamente responsável por aquilo que cativas.

Não confundas o amor com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos. Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer. O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer.

Saint Exupéry, autor de O Pequeno Principe.