O guia de trilhas de Guilherme Cavallari, referência no
mundo do trekking, afirma que a travessia da Serra Fina é “conhecida como amais dura do Brasil”. Já a revista Go Outside, em matéria publicada em 2012, diz o mesmo: “sempre que
se fala em travessia difícil do Brasil vem à mente a travessia da Serra Fina.”
Fama de difícil, portanto, não falta a essa travessia. Mas
vamos começar pelo começo: a Serra Fina é uma cadeia de montanhas localizada
entre as cidades de Passa Quatro e Itamonte, ambas no Sul de Minas, bem na
divisa com São Paulo e Rio de Janeiro. É também o teto da Serra da Mantiqueira,
onde fica seu mais principal cume, a Pedra da Mina, com 2.798 metros – a quarta
montanha mais alta do Brasil. Fazer a travessia significa encarar um trekking
casca grossíssima de 32 quilômetros, com enormes desafios: frio abaixo de zero
de madrugada, altitudes elevadas para os padrões brasileiros (o tempo todo
acima de 2 mil metros), subidas intermináveis, mato fechado com capim alto e pouca
disponibilidade de água – o que obriga montanhista a levar várias garrafas e, claro,
aumenta o peso da mochila. Por causa das dificuldades, a Serra Fina também é
encarada como treinamento pra desafios maiores como o Monte Kilimanjaro ou o
Aconcágua. Mas quem supera essas dificuldades tem como recompensa
visuais espetaculares e o privilégio deixar seu nome registrado no livro de
cume da Pedra da Mina. Prática comum nas montanhas mais altas, os grupos de
expedição deixam, lá em cima, um livro de cume – na verdade, um caderno -, a
ser assinado por quem atingir o topo.
O livro de cume da Pedra da Mina, na verdade, um caderno. Atrás, a caixa de metal onde ele fica guardado, pra evitar ser destruído por chuva e tempestades.
Experimentados que somos no mundo do trekkings e das
aventuras, eu e minha esposa, Renata, aceitamos o convite do corredor de
Aventura Pablo Bucciarelli para encarar esse desafio.
Como costumo dizer, as melhores aventuras começam antes de a
gente pegar a estrada; a cabeça já começa a imaginar como será o clima, a
alimentação, as vistas. Assim, duas semanas antes, iniciamos o jogo de xadrez
em que consiste a montagem das mochilas. A meta consiste em achar o equilíbrio
entre colocar os equipamentos que proporcionem conforto na montanha e evitar o
excesso peso, já que, a princípio, tudo é essencial. Para a Organização Mundial
da Saúde (OMS), o ideal é que não se leve mais de 10% do próprio peso na
mochila. Ou seja, no meu caso, 7,5 quilos nas costas. Ok, nos últimos anos os
equipamentos ficaram mais leves e resistentes – vejam no post anterior. Mas
desconfio que nem o Bear Grylls, o astro da série À Prova de Tudo, seria capaz
de fazer a Serra Fina com apenas sete quilos na mochila – incluindo
obrigatórios quatro litros de água. Resultado: fiquei com 17 quilos de cargueira.
Bear Grylls provavelmente levaria menos comida, mas duvido que fizesse a Serra Fina só 7 quilos na mochila.
Por isso, montar a primeira aventura da Serra Fina é a
montagem da mochila. Confira alguns dos equipamentos escolhidos:
Já mencionei antes esse produto. Boa capacidade (75 litros) e possui acopladas uma capa de chuva –
a previsão era de garoa no primeiro dia da travessia.
Embora um pouco pesado para esse tipo de travessia (1,4
quilo), um saco de dormir de boa qualidade pode fazer a diferença entre uma
noite confortável e uma madrugada congelante.
Tendo três barracas em casa, resisti à ideia da Renata de
adquirir mais uma. Mas acabei me convencendo: a Nepal 2 pesa apenas 1,9 quilo –
ante 3,5 quilos das demais – e tem um design feito pra aguentar ventos e chuva.
Velha companheira de trilhas. Os calçados da Bull Terrier
possuem uma ótima relação custo-benefício. Este modelo é à prova d’ água,
condição fundamental para uma trilha em que a questão do peso impede de levar
calçado-extra. No caso da Renata, o modelo escolhido foi um Salomon em Goretex,
também á prova d’ água.
Prático e eficiente, pode ser desacoplado facilmente do botijão de gás.
Embora alguns aventureiros torçam o nariz, ainda é a principal iguaria das montanhas. Bon apetit!
Outros itens: kit de primeiros socorros (o site do Haka Race
oferece uma lista de medicamentos obrigatórios para suas provas, que pode ser
adaptada), gorro, luvas, bastão de caminhada, protetor solar, óculos escuros,
head lamp e, claro, um celular carregado para situações de emergência.
No próximo post, a história continua.