terça-feira, 25 de junho de 2013

Bike-Angels

Não sei por que, mas o fato é que inventaram um novo termo no lugar de passeio de bicicleta - ou, para os um pouco mais modernos, ‘de bike’. A nova designação é bicicletada. Independentemente da terminologia, participei, no último sábado, dia 23 de junho, de uma dessas bicicletadas. E foi por uma causa nobre: promover o uso desse meio de transporte entre os funcionários do WTC/CENU - Centro Empresarial Nações Unidas, um imenso prédio de escritórios que, como nome sugere, fica na avenida Nações Unidas, uma das regiões de trânsito mais complicado no já complicado trânsito de São Paulo. 

Pra entender melhor essa situação e, claro, propor medidas para melhorá-la, o WTC contou com a ajuda do Banco Mundial, que detectou que existe, ali, uma combinação extremamente favorável ao uso das bicicletas: região plana, excesso de trânsito na Nações Unidas e na paralela Luís Carlos Berrini, mas ruas tranquilas no entorno (onde fica o bairro residencial do Brooklin), além de um interesse dos funcionários por meios de transporte alternativos, já que, de carro, leva-se 20, 30 minutos para sair do estacionamento no horário de pico - sim, vocês leram certo: 30 minutos para sair do estacionamento! Por fim, boa parte do pessoal que trabalha no WTC mora a cerca de cinco quilômetros do trabalho. De novo, ponto a favor das bicicletas.




Aí, entra em cena uma organização criada para promover o uso das bicicletas como meio de transporte, os Bike Anjos. Simplificando um pouco, a ação do grupo consiste em juntar a oferta de ciclistas urbanos dispostos a divulgar esse meio de transporte pra mais gente com a crescente demanda de pessoas interessadas em adotar as bikes, mas que ainda precisam de uma ajuda pra perder o medo de enfrentar as ruas. O Banco Mundial recorreu a essa expertise pra organizar o passeio. Com meus quase 10 anos de pedal em São Paulo, fui chamado para ajudar como guia voluntário. Querem ver como foi? Confiram no vídeo acima. E se querem conhecer melhor otrabalho dos Bike Anjos, acessem o site do grupo. 

Basta clicar no logo abaixo.


quarta-feira, 19 de junho de 2013

Serra Fina - O vídeo

Uma aventura como a travessia da Serra Fina rende muito material, que demora um pouco pra ser editado e posto no ar. Por isso, peço desculpa aos leitores deste blog pela demora na postagem deste clip, apenas com imagens em vídeo. Em breve, pretendo pôr aqui outro clipe, só com fotos. Se você gostou, curta. Se tem alguma ideia, entre em contato comigo.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Serra Fina - histórias de superação

Como mencionei no post anterior, a travessia da Serra Fina é um trekking casca-grossa. São 32 quilômetros, subidas sem fim, mato alto impedindo o avanço e temperaturas que caem facilmente para abaixo de zero. Dificuldades que povoam a imaginação de aventureiros do País inteiro desde que seu principal cume, a Pedra da Mina, foi conquistado pela primeira vez, em 1955.

Ao longo da trilha, pude testemunhar algumas histórias de superação que mostram que, embora preparo físico seja importante, a força de vontade é, afinal, o principal combustível sobreviver a essa travessia.



De todas as partes do Brasil: grupo de amazonenses que encontramos fazendo a travessia da Serra Fina.

Algumas histórias estão bem perto, no próprio grupo da gente. É o caso das dificuldades enfrentadas pelo Eric Augusto, que veio de Jundiaí para fazer a trilha conosco. No primeiro dia, após umas oito horas de caminhada pesada, ele foi acometido por câimbras fortíssimas e justamente numa subida mais técnica. Naquele momento faltavam mais duas horas antes que parássemos pra acampar. Quem já teve esse problema sabe como é difícil prosseguir. Solução: acampar ali mesmo, pouco depois do local em que sentiu as câimbras pela primeira vez e, no dia seguinte, pegar a trilha mais cedo pra nos alcançar. Eric não acampou sozinho: contou com o apoio do experiente repórter Herton Escobar, do Estadão e um cara com rodagem em montanhas. No melhor espírito 'seu perrengue é meu perrengue', Herton ficou para ajudar o Eric que, graças a esse suporte, levantou no dia seguinte e encarou a trilha normalmente. Mais experiente, a amiga Silvia Viana já esteve em montanhas famosas, como o Aconcágua e o Kilimanjaro. Isso não impediu que tivesse, também, seu perrengue. No primeiro dia, na ascensão do Cume do Capim Amarelo, ainda não aclimatada, teve crises de vômito, devido ao esforço. Depois disso, no entanto, fez o que esperávamos: seguiu em frente e ficou entre os que caminhavam mais rápido.




Eric sofreu com câimbras fortíssimas, mas se recuperou

Agora reparem na menina da foto abaixo. Seu nome é Giovana e ela tem 10 anos. Cruzamos com seu grupo (pai, tio e mais duas crianças, Paulina, de 13 anos, e Paulo, de 15) no último dia de Travessia. Giovana e os outros dois já haviam superado monstros como a Pedra da Mina, o Alto do Capim Amarelo e o Cume dos Três Estados, todos com mais de 2.500 metros. E, se querem saber, aparentavam estar mais inteiros que todos os integrantes do nosso grupo. Giovana foi a pessoa mais jovem que encontramos na travessia. Já a mineira Juliana Garcia tem diabetes. Por conta disso, no ataque ao cume da Pedra da Mina, começou a apresentar sinais de hipoglicemia – situação que pode levar a pessoa a ter convulsões se não consumir açúcar rapidamente. Cedemos gel à base de carboidrato e Juliana se recuperou. Não desanimou nem quando, faltando apenas cinco quilômetros pra terminar a travessia, torceu o pé. Guerreira.



Giovana, 10 anos, a mais jovem aventureira da Serra Fina

Em alguns casos, no entanto, as histórias de superação estão escondidas. Por exemplo, no livro de cume da Pedra da Mina – que, como mencionei no post anterior, não é um livro, mas um caderno, no qual os que chegaram ao pico costumam deixar mensagens. Foi folheando suas páginas que encontrei o texto abaixo, datado de 28 de setembro de 2012: “Minha sexta vez na Pedra da Mina, orgulho nacional. Às beiras de fazer quimioterapia e um transplante de medula. Montanha, o melhor tratamento. Amo as montanhas. Amo as paisagens e, acima de tudo, amo minha esposa Liliane. Forte abraço a todos. PAROFES.” Fiquei comovido e, ao mesmo tempo, curioso por saber o destino do tal PAROFES, mas confesso, esqueci do caso. Hoje, pesquisando no Google, pra escrever sobre a viagem, acabei descobrindo sem querer a história. Parofes é, na verdade, o acrônimo para Paulo Roberto Felipe Schmidt. Ele relata neste texto no blog Alta Montanha.com, a ascensão que o levou ao topo da Pedra da Mina e que resultou no texto que encontrei lá. E é à sua força de vontade e à de quem se superou na Serra Fina que dedico este post. That’s it. 




































segunda-feira, 3 de junho de 2013

Fazendo as malas para a Serra Fina

O guia de trilhas de Guilherme Cavallari, referência no mundo do trekking, afirma que a travessia da Serra Fina é “conhecida como amais dura do Brasil”. Já a revista Go Outside, em matéria publicada em 2012, diz o mesmo: “sempre que se fala em travessia difícil do Brasil vem à mente a travessia da Serra Fina.” 

Fama de difícil, portanto, não falta a essa travessia. Mas vamos começar pelo começo: a Serra Fina é uma cadeia de montanhas localizada entre as cidades de Passa Quatro e Itamonte, ambas no Sul de Minas, bem na divisa com São Paulo e Rio de Janeiro. É também o teto da Serra da Mantiqueira, onde fica seu mais principal cume, a Pedra da Mina, com 2.798 metros – a quarta montanha mais alta do Brasil. Fazer a travessia significa encarar um trekking casca grossíssima de 32 quilômetros, com enormes desafios: frio abaixo de zero de madrugada, altitudes elevadas para os padrões brasileiros (o tempo todo acima de 2 mil metros), subidas intermináveis, mato fechado com capim alto e pouca disponibilidade de água – o que obriga montanhista a levar várias garrafas e, claro, aumenta o peso da mochila. Por causa das dificuldades, a Serra Fina também é encarada como treinamento pra desafios maiores como o Monte Kilimanjaro ou o Aconcágua. Mas quem supera essas dificuldades tem como recompensa visuais espetaculares e o privilégio deixar seu nome registrado no livro de cume da Pedra da Mina. Prática comum nas montanhas mais altas, os grupos de expedição deixam, lá em cima, um livro de cume – na verdade, um caderno -, a ser assinado por quem atingir o topo.

O livro de cume da Pedra da Mina, na verdade, um caderno. Atrás, a caixa de metal onde ele fica guardado, pra evitar ser destruído por chuva e tempestades.

Experimentados que somos no mundo do trekkings e das aventuras, eu e minha esposa, Renata, aceitamos o convite do corredor de Aventura Pablo Bucciarelli para encarar esse desafio.

Como costumo dizer, as melhores aventuras começam antes de a gente pegar a estrada; a cabeça já começa a imaginar como será o clima, a alimentação, as vistas. Assim, duas semanas antes, iniciamos o jogo de xadrez em que consiste a montagem das mochilas. A meta consiste em achar o equilíbrio entre colocar os equipamentos que proporcionem conforto na montanha e evitar o excesso peso, já que, a princípio, tudo é essencial. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ideal é que não se leve mais de 10% do próprio peso na mochila. Ou seja, no meu caso, 7,5 quilos nas costas. Ok, nos últimos anos os equipamentos ficaram mais leves e resistentes – vejam no post anterior. Mas desconfio que nem o Bear Grylls, o astro da série À Prova de Tudo, seria capaz de fazer a Serra Fina com apenas sete quilos na mochila – incluindo obrigatórios quatro litros de água. Resultado: fiquei com 17 quilos de cargueira.



Bear Grylls provavelmente levaria menos comida, mas duvido que fizesse a Serra Fina só 7 quilos na mochila.

Por isso, montar a primeira aventura da Serra Fina é a montagem da mochila. Confira alguns dos equipamentos escolhidos:


Já mencionei antes esse produto. Boa capacidade (75 litros) e possui acopladas uma capa de chuva – a previsão era de garoa no primeiro dia da travessia.


Embora um pouco pesado para esse tipo de travessia (1,4 quilo), um saco de dormir de boa qualidade pode fazer a diferença entre uma noite confortável e uma madrugada congelante.


Tendo três barracas em casa, resisti à ideia da Renata de adquirir mais uma. Mas acabei me convencendo: a Nepal 2 pesa apenas 1,9 quilo – ante 3,5 quilos das demais – e tem um design feito pra aguentar ventos e chuva.




Velha companheira de trilhas. Os calçados da Bull Terrier possuem uma ótima relação custo-benefício. Este modelo é à prova d’ água, condição fundamental para uma trilha em que a questão do peso impede de levar calçado-extra. No caso da Renata, o modelo escolhido foi um Salomon em Goretex, também á prova d’ água.






Prático e eficiente, pode ser desacoplado facilmente do botijão de gás.





Embora alguns aventureiros torçam o nariz, ainda é a principal iguaria das montanhas. Bon apetit!



Outros itens: kit de primeiros socorros (o site do Haka Race oferece uma lista de medicamentos obrigatórios para suas provas, que pode ser adaptada), gorro, luvas, bastão de caminhada, protetor solar, óculos escuros, head lamp e, claro, um celular carregado para situações de emergência.


No próximo post, a história continua.