quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Crise nos jornais (Texto meu, reproduzido do Blog da FLE)

Deu no New York Times: o Tribune Company, um dos principais grupos de mídia dos Estados Unidos, entrou, anteontem, com pedido de concordata.

O grupo é proprietário de 23 canais de TV e de 12 jornais impressos nos Estados Unidos - entre eles os poderosos Los Angeles Times e Chicago Tribune, que possuem tiragens de, respectivamente, 739 mil e 542 mil exemplares diários. Para se ter uma idéia, a tiragem de nossos maiores jornais, a Folha de S. Paulo e O Globo, mal passa dos 300 mil exemplares.

O Tribune Company acumula uma dívida de US$ 13 bilhões, adquirida quando o magnata do setor imobiliário Samuel Zell assumiu o controle, em dezembro do ano passado. Desde que Zell tornou-se o principal acionista, as finanças do grupo entraram em colapso - reporta o NYT.À parte as barbeiragens financeiras de Zell - que, segundo o NYT, foram decisivas para que o grupo naufragasse -, a derrocada do grupo diz muito a respeito da atual situação dos jornalões, no mundo e no Brasil.

Acuado por uma migração das verbas publicitárias para a Internet (movimento que, ao que tudo indica, se acentuará nos próximos anos, com a disseminação de tecnologias ligadas à propaganda via celular) e pela crise financeira, o setor vive uma crise sem precedentes. A queda das receitas com propaganda no grupo Tribune Company teria sido de dois dígitos.

Outro respeitabilíssimo título, o Miami Herald – dono da também respeitabilíssima tiragem de 210 mil exemplares e de nada menos que 19 prêmios Pulitzer – estaria à venda. O motivo? Queda nas receitas com propaganda. O jornal, relata o New York Times, teria sido tremendamente afetado pela crise no setor imobiliário, o primeiro a ser atingido pela crise e seu principal anunciante.

Os tempos, enfim, são de crise histórica para os jornais impressos. E as conseqüências desse mau momento certamente resvalam no dia-dia das redações.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Um mês

Poder-te-ia dizer, que mais um mês com você, de tanto amor morreria...e tanto amor te daria que mal poderia dizer.

Sobre o Hexa - o que realmente importa

Pra não deixar o hexa do tricolor passar em branco, reproduzo aqui, o comentário do Fernando Rodrigues, postado em seu blog. Uma bela análise a respeito do que realmente importa:

O futebol, o Brasil e a meritocracia

Há ainda um cheiro de pré-história sob vários aspectos quando se trata da organização do esporte mais popular do país. Mas também são inegáveis alguns avanços no futebol.

A conquista do campeonato brasileiro de 2008 pelo São Paulo Futebol Clube ajuda a disseminar no Brasil um valor quase inexistente no país: a meritocracia. Vence quem se esforça e trabalha mais ao longo de todo o campeonato.

Os torcedores de outros times ficam chateados, claro. Reclamam do gol irregular do SPFC no jogo de ontem (7.dez.08), contra o Goiás, na vitória por 1 a 0 (o atacante Borges estava impedido). Fala-se também que o SPFC não jogou um futebol dos sonhos ao longo da competição (é verdade).

Os mais atentos também deverão notar que os erros de arbitragem ocorreram para todos os lados no campeonato. Para citar apenas um, em 17 de agosto, o Grêmio ganhou do São Paulo por 1 a 0 com um gol de Perea também totalmente impedido.

Sobre jogar um futebol mais vistoso, cheio de lances “a la seleção de 82”, a pergunta que fica é: qual equipe no futebol hipercompetitivo de hoje consegue atuar dessa forma? Resposta: nenhuma.

Tudo somado, a vitória do São Paulo representa a premiação, por mérito, à equipe que mais se preparou e se organizou para vencer. O SPFC gasta R$ 12 milhões por ano em um centro de treinamento fora da cidade de São Paulo, onde treinam cerca de 400 garotos. O técnico do SPFC, Muricy Ramalho, é um dos mais longevos no cargo no Brasil, mostrando que a regularidade administrativa é um valor necessário não apenas em governos e empresas, mas também no esporte.

Antes, o futebol era cheio de octogonais e quadrangulares decisivos. Havia rebolos, repescagens e chances de viradas de mesa. Equipes completamente desorganizadas, sem interesse pelos treinos diários, acabavam vencendo um ou dois jogos no final do ano e sagravam-se campeãs.

Nos últimos seis anos, equipes tradicionais tiveram de se submeter a uma passagem pela segunda divisão do futebol. Palmeiras, Grêmio e Corinthians são exemplos de superação. Devem ser aplaudidos. Desceram e subiram pelos seus próprios méritos. Mereceram cair. Mereceram subir. Assim deve ser em todos os setores da sociedade.

Alguns classificarão de sociologia antropológica de botequim, mas há uma mensagem relevante no futebol. No passado, com a bagunça de campeonatos com 40, 60 e até 100 times, chaves coloridas e vale-tudo no final, a mensagem era: não adianta trabalhar duro todos os dias; no Brasil, no final sempre dá-se um jeitinho de obter uma vitória “no talento” (sic).

A imensa maioria dos brasileiros ama o futebol. O sistema de disputa dos campeonatos nacionais exerce grande influência sobre uma massa enorme de pessoas. A bagunça reinante no passado deseducava os cidadãos por exalar um péssimo costume: “Trabalhar e se esforçar para quê? Quando chegar a hora ‘h’, a gente sempre dá um jeito”.

Pelo atual modelo de pontos corridos (iniciado em 2003 e historicamente defendido pelo meu amigo e também blogueiro Juca Kfouri), é sempre enorme a chance de o campeão ser o que mais se prepara e o que tem a estrutura mais séria. Todo jogo é importante. Todo dia é dia de trabalho. Para ser campeão brasileiro de futebol agora é necessário jogar todas as partidas como se fossem a última (comento no final as últimas suspeitas de fraude nas arbitragens).

Milhões de brasileiros humildes têm no futebol uma de suas únicas alegrias. Agora, de maneira subliminar, esses mesmos brasileiros podem enxergar no esporte algo além do jogo. As disputas entre os 20 times da elite do futebol são também um exemplo de como o mais aplicado acaba, quase sempre, premiado ao final.

A possibilidade de cair para a segunda divisão e voltar pelo seu esforço próprio é também um incentivo a todos os brasileiros.

Acostumado a fazer a cobertura da política brasileira, recheada de casuísmos e fisiologia, é alentador ver o futebol dar um exemplo de continuidade e regras claras.

Tudo isso não é pouca coisa. A meritocracia é uma característica vital de sociedades desenvolvidas. É bom que no Brasil comece a vigorar exatamente na mais popular de todas as manifestações culturais, o futebol.

Uma ressalva e uma revelação:

1) nem sempre o melhor, mais preparado e mais esforçado pode vencer no campeonato de pontos corridos. É verdade. São exceções que confirmarão a regra. Mas nos seis campeonatos até agora realizados, ninguém tem dúvida sobre a justiça dos resultados (Cruzeiro, Santos, Corinthians e SPFC foram os melhores quando venceram).
Há também sempre o risco do “fator extra-campo”: quando árbitros são subornados ou forçados a produzir determinados resultados. É o Brasil profundo. O campeonato de 2008 teve (como outros anteriores) suspeitas sérias de pressão criminosa nos bastidores. Ainda não há notícias suficientes para julgar o que se passou neste ano, mas será lamentável se acabar surgindo evidência de manipulação de resultados por parte das arbitragens/dirigentes. Perderá o futebol, mas perderá muito mais o Brasil.

2) Torço para o SPFC. Hexa.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Manhãs de segunda-feira

Sete horas da manhã. O despertador do celular toca, implacável, cumprindo seu dever de nos interromper o sono. Você rola preguiçosamente pela cama, de um lado pro outro. Ainda sonolenta, se ajoelha sobre a cama. E me abre um sorriso, os olhos enteabertos. Os cabelos, impecavelmente e deliciosamente despenteados. Sua pele cheira a edredons, travesseiros e lençóis. Que belo dia de trabalho.

Viúvas alegres - Reproduzido do Blog Escuta Zé!

Nem sempre a Morte se contenta em ser trágica. Às vezes, ela quer ser cômica, também.
Para variar um pouco, há ocasiões em que gosta de pregar peças durante o exercício de seu indefectível ofício de levar-nos desta para melhor.

O caso ocorrido segunda-feira passada, no Rio Grande do Sul, por exemplo.
Uma colisão do carro funerário fez com que o caixão do defunto fosse lançado sobre sua viúva, que estava no banco da frente, matando-a instantaneamente.

A pobre coitada nem teve direito ao tempo regulamentar geralmente desfrutado pelas viúvas, quando seus maridos se vão e elas, depois de um breve período de luto, voltam a curtir a vida.
As estatísticas mostram que as mulheres vivem, em média, sete anos a mais do que os homens.
Não sei se isso é um bônus por aguentarem seus maridos até o fim da vida, ou um castigo pelo pecado original do conluio com a serpente.

Acho que é um prêmio, um "chorinho" a mais que a Morte lhes oferece, consternada, quem sabe, pelas dores do parto e demais agruras reservadas ao sexo feminino neste mundo machista.
Se considero essa sobrevida um prêmio é porque até hoje nunca vi uma viúva triste.
Depois de passado o período de nojo - perdão, leitores, pela inusitada palavra, mas é assim mesmo que se chamam os dias de luto, de profunda mágoa: nojo - elas ficam indisfarçavelmente alegres. Principalmente se o falecido deixou uma pensão razoável.

Começam a viajar, a frequentar bailes da terceira idade, já não cozinham todos os dias, assistem ao programa que querem na televisão, enfim, "vive la liberté"!

Acabou a obrigação de cuidar da mala-sem-alça em que nos transformamos, nós outros, homens, depois de velhos e aposentados.

Não creio que haja pessoa mais chata de se aturar do que marido velho e aposentado, de pijama, dentro de casa o dia inteiro, a reclamar de tudo.

Essa viúva de Porto Alegre, porém, não teve essa sorte. Foi levada junto com o falecido, sem um dia a mais sequer de lambujem.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O fantástico Marilson - ou Heróis do domingo

Caros. Não gosto muito de enveredar pela seara esportiva (ou desportiva). Tenho, lá, meu interesse pelo assunto, mas, como nunca fiz parte da turminha da sala que sabia a escalação da seleção de 1938 - ou qual era o chassi do Fitipaldi em 1974, quando ele conquistou seu primeiro título -, deixo a questão pra quem sabe. Boa dica, aliás, é o blog do companheiro Cesarotti.

Mas não posso deixar de comentar o último domingão. Foi memorável. Um daqueles dias em que a gente gruda no sofá, grita e sente o coração palpitando. Minha digníssima, que assistiu á corrida de Fórmula 1 ao meu lado, no sofá, que o diga.

Bom, pra começar, o fabuloso tricolor chegou lá. Conquistou, contra todo o coro de olhos gordos, pipoqueiros e secadores em geral, a liderança do brasileirão. E, a menos que haja um desastre, conquistará, de maneira inédita, o tri campeonato. No início da campanha e até há uns meses, muita gente criticava o Muricy. Diziam que já tinha chegado ao fim da linha no São Paulo, que não tinha tido competência pra convencer a diretoria do clube a contratar alguns nomões e por aí vai. E eis que o time deu a volta por cima e se apresenta como favorito ao título. Venceu o Inter (RS) por 3 x 0. Uma vitória, como dizem, 'com autoridade'. Em que pesem todas as críticas, o tricolor já vinha merecendo. Tem o melhor ataque e a segunda melhor defesa do campeonato. Tudo bem, o time não tem os tais nomões. À excessão de Rogério Ceni e Ernanes, nenhum jogador, alí, tem vocação pra ídolo. Curioso, aliás, a recente babação de ovo dos coleguinhas jornalistas sobre o volante pernambucano. Parece que, pra justificar a ascenção do time, precisaram criar um novo ídolo - não que ele não seja um baita jogador, diga-se. Então tá. Vamos assim, com Hugo, Borges e Zé Luis. E que continuem nos secando e falando mal do trabalho do Muricy.

Mas o destaque maior do fim de semana foi, mesmo, o Felipe Massa. Ele foi perfeito no GP do Brasil. Massa pôs um ponto final na Era Rubinho - que, se tudo correr bem (entenderam???? entenderam????) vai se aposentar - e recuperou, para nós, brasileiros, a graça da Fórmula 1. Uma pena que não tenha sido campeão. Mas o final da corrida foi de lascar. Duas voltas para o final e o Hamilton, tranquilo com o quinto lugar que lhe garantia o título, de repente é ultrapassado pelo alemão Sebastian Vettel. Pronto. Tinhámos, nas duas últimas voltas, a improvável combinação que dava ao Massa o título mundial. (Confesso que, nesse momento, dei um berro "Passou, p.!"). Mas, na volta final, na última curva, com a chuva mais forte, Timo Glock, que corria com pneus pra tempo seco, foi ultrapassado por Vettel e (putz) pelo Hamilton. Por pouquíssimos metros, o Massa perdeu o título.

Por fim, uma façanha que passou praticamente despercebida: o bi-campeonato de Marilson Gomes na Maratona de Nova York. Numa reação impressionante e faltando menos de uma milha (1,6 km), Marilson ultrapassou o marroquino Abderrahim Goumri. Cruzou a linha de chegada em primeiro e se consagrou na mais importante maratona do Planeta. Não foi pouco. Marilson deixou pra trás uma dezena de quenianos - entre eles o lendário Paul Tergat -, etíopes, marroquinos, italianos, japoneses, etc. De quebra, levou um premiaço de US$ 160 mil. Diante de tantos fatos esportivos, os jornais brasileiros (e o público em geral), deram pouca importância ao feito. O New York Times, um dos jornais mais importantes do mundo - e que dedica páginas e páginas à Maratona, registra o fato, numa matéria em que mostra que, entre os brazucas que vivem na 'Big Apple', quase ninguém sabia da vitória do braziliense. Lá, como cá, estavam todos de olho no futebol e na Fórmula 1 - via TV Globo Internacional (confira a matéria no link http://www.nytimes.com/2008/11/03/sports/othersports/03brazil.html?ref=othersports). A Maratona de Nova York não é a São Silvestre. Até pelo prêmio que paga, sua 'tropa de elite' é composta pelos melhores corredores do mundo. Uma volta foi o tempo para o Brasil vibrar - e depois se decepcionar - com Felipe Massa. Mas ninguém deu bola para a uma milha que transformou Marilson Gomes num herói. Uma pena.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Casos e acasos

Daniel, um velho amigo, me anunciou esses que vai se casar logo, logo. Conversa vai, conversa vem, e, lá pelas tantas, me confessou que conheceu a digníssima futura senhora Machado num site de relacionamento. "Cara, juro pra você que não acreditava nessas coisas. Mas, aí, conheci um casal de amigos que contou que tinha se conhecido num desses sites. Eles tavam tão felizes, que eu resolvi entrar pra ver...", contou. Ricardo, outro amigo, vive se estapeando com a atual namorada, mas, no final, quase sempre consegue se entender com ela. E, tapas e beijos à parte, adivinhem onde se conheceram? Num site de relacionamento.

Casos como essess me dão a impressão de que, cada vez mais, as pessoas recorrem a esse tipo de serviço pra, digamos assim, se arranjar. Não sei se há estatísticas indicando esse movimento e nem mesmo se há, de fato, um aumento da procura. Ou mesmo se isso sempre existiu e nós, agora trintões, é que nos sentimos tios solitários e, daí, recorremos a tais expedientes pra descobrir nossa cara metade. Fato é que a Internet - com o Orkut e congêneres - facilitou e, de certa forma, deu uma cara mais moderna e menos estranha pra esses serviços. Explico: pelo menos em minha ignorância, o que havia antes eram as agências matrimoniais, que associávamos a nerds, punheteiros, solitários e exquisitões em geral. Agora, com a Internet, tudo ficou mais simples e prático. O sujeito não precisa mais se expor, indo até a agência ou, sequer telefonando. Basta entrar no site, digitar todas aquelas informações (nome, idade, peso, altura, cor do cabelo - verdadeiras ou não) e pronto. Rápido, fácil, quase rotineiro como acessar um e-mail. Por isso, provavelmente, que gente como o Ricardo e o Daniel entraram nessa e tão por aí, felizes da vida com suas respectivas.

Mas, pra mim, por mais que as coisas tenham evoluido e se tornado mais, como dizem por aí, 'user friendly', fica ainda a impressão de que tudo isso não passa de artificialismo. Amor de verdade tem de ter uma pitada de casualidade, de imprevisto. É aquela coisa de, um dia, dar de cara com a boca mais linda do universo num ônibus circular - e, a partir daí, não importa o tempo que faça ou a quantidade de gente espremida naquele cubículo o sujeito vai, todo dia, se matar pra estar ali, naquele paradisíaco meio de transporte. Ou de ir, de conversa em conversa, entrando no mundo - e no coração - da colega de faculdade que senta na sua frente e só foi parar na mesma sala que você porque não conseguiu entrar na faculdade na turma do diurno. Ou de imaginar que, durante anos, você passou durante suas viagens de férias por uma cidadezinha na qual sua futura namorada ainda brincava de bonecas. Acasos dessa vida.

Nomes esdrúxulos - Último Capítulo (profissão perigo)

Pra encerrar a série - e pra postar algo neste agora não lido blog, vejam o e-mail que recebi:

Para: XXXXXXXXXX

Pedido de Ajuda

Olá, sou estudante do Curso de blablablá, e estou precisando de Dados sobre os prejuizos causados aos blablablá devido à nononononon. Preciso de ajuda para um trabalho da disciplina de empreendedorismo, venho pesquisando a algum tempo sobre o assunto e não consigo o que eu realmente preciso. Gostaria muito que vocês me enviassem alguma das informações citadas acima ou algum site que em poderia obter tais informações... Aguardo sua resposta.

Magayver Dutra

R: Caro Magayver

Quem precisa de ajuda sou eu. Na semana passada, meu carro quebrou - o mecanico me disse que o problema seria 'motor de arranque', 'ingnição' (SIC) e 'injição eletrônica' (SIC, de novo); além disso, meu computador não funciona há algum tempo, em conseqüencia de uma pane de origem desconhecida na CPU (desconfio de que esse seja o motivo da fumaça preta e fedorenta que sai dali toda vez que eu tento liga-lo); finalmente, os sistemas eletrico e hidráulico do meu apê estão em colapso. Por favor, me ajude! Tenho certeza de que, com um grampo de cabelo, ou um clip você será capaz de resolver todos esses problemas pra mim.

Ab

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Nomes esdrúxulos

Mais uma lista fornecida pelo Denão.

Genoveva Urupina Gonzales Silvestre
Alan Jackson de Jesus
Lusion Dionatan Machado (Mr. M)
Jefferson Flor Nascente
Jeová Arcanjo de Mello
Inácio Carneiro
Inácio Milhomen Bucar
Inácio Peão de Santana (Irmão do Inácio Mano de Opala)
Ronne Von Godinho Ayres
Ronne Von Belau da Silva
Maria Socorro Bem Limaverde Pereira
Márcio de Brito Boa Morte
Jesse James de Andrade
Alan Kardec Guedes Matos
Antôno Moreira Rego Dourado (Anus Dourados)
Jerri Adriano Ferreira de Araújo
Gil Gomes da Silva
Macartenei Silva de Miranda

Agora, o melhor :

Décio Barros Feijão ( HAHAHAHAHA!!!!)

segunda-feira, 5 de maio de 2008

El Once

Dezenove de setembro de 1993. Vinte e sete minutos do segundo tempo. O atacantes recebe a bola e avança livre, velozmente, pela direita. A bola segue ziguezagueando, serpenteando por debaixo de seus pés. De repente, impulsionada por um chute, sobe, quase na vertical. Assume, no cruzamento, uma trajetória parabólica, descrevendo, no ar, o formato de um sino.

Do outro lado, na esquerda do campo, no ângulo reto formado pelas linhas que delimitam a pequena área, fundeado por dezenas de milhares de torcedores angustiados, o outro atacante, o camisa 11, espera, sem demonstrar qualquer inquietação, pela chegada da bola. Miúdo, ele voa no instante seguinte para encontrar, certeiro, o bólide que cruza, em trajetória oblíqua os céus do Maracanã. Braços abertos como asas, ele realiza, com a cabeça, um gesto parecido com um 'sim'. Cabeceia de baixo para cima. O goleiro, coitado, abre braços e pernas ao mesmo tempo, numa espécie de 'xis' humano. Inútil. A bola desce rápida, com força, bate no chão e sobe, fazendo chacoalhar a parte de cima da rede.

Solitário, o atacante abre novamente os braços. Fecha os olhos e sorri. O momento é dele. À sua volta, cento e poucas mil almas levantam instantaneamente e gritam em únissono: Gol! Catarse. Entusiamos. Delírio.

Romário ainda marcaria, naquela partida, mais um gol, consagrador e definitivo. Depois daquele jogo, contra o Uruguai, o Brasil nunca mais seria o mesmo. Venceria a Copa de 1994, bateria na trave em 1998 e venceria novamente no Japão, em 2002. Se, na Argentina Maradona é Deus, o 'El Diez', naquele dezenove de setembro de 1993, Romário, que hoje se aposenta, se tornaria nosso 'El Once'.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Guerreiros da Metrópole

Texto publicado por este escriba há duas semanas no Blog O Pensador Selvagem:

Caros. Volto depois de um mês e tanto a este cada vez mais lido blog. A idéia é a de, nos dois próximos posts, publicar histórias de gente que, como eu, arrisca ou arriscou a vida se metendo, a bordo de uma bike, na guerra do trânsito de São Paulo. Gente que não dá bola para os buracos, para as buzinas, para a poluição e para a falta de interesse generalizada de governo e empresas em estimular o uso das bikes como meio de transporte numa cidade em que a frota de automóveis veículos vem aumentando na mesma proporção em que diminui a velocidade média dos carros – apenas em 2007, houve uma redução de 29 para 27 quilômetros por hora.


Ciente de que se trata de um problemaço, que poderá comprometer os planos de reeleição do prefeito Gilberto Kassab, a prefeitura lançou, em março, um pacote de medidas tímido, que deixou de lado grandes obras de transporte público (como a construção de novos corredores de ônibus) e soluções como o estímulo ao uso das bikes, por meio da construção de ciclovias.
Mas, indiferentes a planos e medidas e ao trânsito que se vai se avolumando nas ruas, diminuindo ainda mais a velocidade média dos veículos, os personagens que tentarei aqui descrever, verdadeiros guerreiros da metrópole, seguem pedalando pela cidade. Gente como o administrador de redes Denis Ferreira Lourenço.


Denis Ferreira Lourenço é um rapaz de classe média paulistano. Noivo, 29 anos, ele atua como administrador de redes numa empresa do grupo Neogrid - prestadora de serviços para companhias de telecomunicações. Mora num apartamento confortável no bairro de classe média da Barra Funda e freqüenta uma academia em Perdizes, a poucos quarteirões de casa. Denis não combina com o tipo geralmente associado às pessoas que costumam ir para o trabalho de bicicleta. Mesmo assim, quase que diariamente, percorre, a bordo de uma bike, os 11 quilômetros que separam o apartamento do trabalho.


Faz isso desde abril de 2005, quando, cansado de primeiro, esperar pelos ônibus e, depois, se espremer dentro deles, resolveu se arriscar a ir de bike. Nunca mais parou. Nem mesmo quando a companhia transferiu sua sede da avenida Faria Lima para a Vila Olímpia, quatro quilômetros mais distante.


Aliás, desde então, em vez sua motivação só aumentou; Denis já trocou de bicicleta três vezes. Pedala, atualmente, a bordo de uma moderna Gary Fisher com freios a disco, sapatilhas especiais, velocímetro e câmbio Shimano, modelo XT.


A poluição e o trânsito pesado não incomodam. "Faz parte de São Paulo", diz. Incomodo, mesmo, só quando chove. Nesses dias, Denis tem de deixar a bike na garagem e, por um dia, voltar a chacoalhar nos ônibus. Também não o incomoda o fato de a empresa não demonstrar, aparentemente, interesse em estimular o meio de transporte alternativo. Todos os dias, ele é obrigado a se espremer num minúsculo banheiro para tomar banho. "Mas é o que me basta". Também tem de acomodar a sofisticada bike num canto da garagem, junto com as motos.


Denis conta que, nesses três anos de ruas e avenidas congestionadas, nunca sofreu um acidente. Talvez por andar equipado com luvas, capacete e luzes sinalizadoras e por seguir à risca, as leis de trânsito. "No inicio, costumava invadir as calçadas para evitar ser atingido por algum veículo. Mas, quando li as leis de trânsito a respeito das bikes, descobri que essa prática é proibida. Desde então, passei a evitar. Mas, para além da questão da legislação, há outra, a do respeito aos pedestres. Quando se pedala na calçada, há o risco de as pessoas mais idosas se assustarem com a presença do ciclista e caírem, mesmo quando não são atingidas. Quem quer respeito tem de respeitar. Quando subo na calçada, desço da bike e me transformo, também, em pedestre".


Também nunca chegou a pôr na ponta do lápis o total que já economizou nesses anos com passagens de ônibus e gasolina. Para ele, na relação custo-benefício do uso da bicicleta o que pesa são, mesmo, a saúde e a liberdade. Afinal, trânsito e poluição são apenas trânsito e poluição. Faz parte de São Paulo.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Por pura preguiça

Caros

Fiquem com um texto do José Luis Teixeira, do blog Escuta Zé - este, sim, ao contrário deste escriba, bom blogueiro e jornalista das antigas, daquele militantes-comunas, cachaceiros e brilhantes no trato das palavras. Para quem quiser mais, o endereço é http://escutaze.blog.com/.

Aventureiros malucos

É senso comum de que há muitos malucos neste mundo. Com o passar do tempo, parece que se multiplicam. Vejam o caso desse padre paranaense, por exemplo, que no último fim de semana decidiu subir aos céus amarrado a balões de gás e desapareceu no mar.

Às vezes, deitado no sofá da minha sala, olhando para o teto, fico a imaginar o que leva essas pessoas a aventuras cujo único objetivo, ao que parece, é correr risco de vida ou, o que é pior, apenas sofrer.

Qual será o prazer que o Carlos Tramontina - apresentador dos telejornais da Rede Globo e tido como um sujeito normal - tem ao escalar o Everest?

Passa dias congelado, comendo mal, sujo, precisando fazer a maior ginástica para ir ao banheiro...enfim, quase morre de tanto sofrimento para subir ao pico do morro e descer, em seguida.

Tenho um sobrinho, o Zé Pupo, que pratica corrida-de-aventura. Aliás, sua equipe foi a vencedora da última delas, realizada no início deste mês no Nordeste.
Encontrei-o recentemente, com herpes labial, fungo nos braços, arranhões pelo corpo todo, saindo de um repouso de alguns dias.

A prova teve 88 horas, das quais, acreditem, ele dormiu apenas três. Ou seja, passou praticamente 85 horas remando, pedalando e correndo sob o fustigante sol do sertão nordestino.
Ninguém é capaz de imaginar, entretanto, o brilho de seu olhar, a expressão de felicidade em seu rosto, a disposição de quem parecia estar pronto para correr mais 100 quilômetros sem parar.
O que é mais curioso, é que esses doidos-varridos, muitas vezes pagam para fazer isso. No máximo, arrumam patrocínio para custear as despesas das suas loucuras.

Invejo-os. Mal-e-mal passo três sofridos meses por ano em uma academia, "puxando-ferro".
Sempre quis ter bíceps fortes, "tanquinho" na barriga, pernas musculosas para poder desfilar, orgulhoso, pelas areias de Copacabana. No entanto, nunca emplaco o quarto mês de musculação.Isso ocorre não apenas pela dificuldade em ficar levantando pesos.

Minha desmotivação deve-se também a uma frase ouvida de um sarcástico português, pai de um amigo, na época do colégio. Ao saber que havíamos nos matriculado para fazer halterofilismo (era assim que se chamava), Seu Constantino sabiamente observou:- Vocês gostam de levantar pesos porque pagam para isso; se recebessem, garanto que não gostariam.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Passou de Mil

O Sitemeter, contador de acessos a este tosco e mal lido blog, me informa, hoje, que o total de visitas desde essa geringonça foi instalada (em dezembro do ano passado) chegou a 1.111 - um, um, um, um; fosse eu um pai de santo, diria que essa seqüência tem algum significado mágico.
Bom, na média, são oito acessos por dia. Agradeço a vocês, meus, agora, oito leitores.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Corrida Maluca

Deu no New York Times: foi comprovado cientificamente que correr 'dá barato'. Segundo matéria publicada dia 27 de março no jornalão americano, cientistas alemães comprovaram que a corrida provoca a liberação, no cérebro, de endorfinas, uma droga natural produzida pelo organismo relacionada à sensação de bem estar.

Qualquer Joãozinho que realize, lá, seus 20 minutos de caminhada por dia, sabe da existência das endorfinas e dos efeitos que provoca. Atribui-se a elas efeitos anestésicos - os cientistas as classificam como opiáceos, por provocarem sensações de supressão de dor semelhantes às provocadas pelo ópio. É o que explicaria, por exemplo, o fato de um corredor suportar as dores provocadas por uma lesão durante uma prova e, mesmo assim, conseguir terminá-la. Ou a sensação de euforia relatada pela grande maioria das pessoas que conclui uma corrida.

A novidade é a de que não havia, até hoje, provas científicas de que, uma vez produzidas pelo organismo, as endorfinas atingissem o cérebro, provocando esse efeito. Por isso, durante mais de 30 anos, o tal barato da corrida foi somente uma hipótese não comprovada - relata o NYT. Uma vez comprovados os efeitos da endorfina, os pesquisadores poderão, a partir de agora, desenvolver novos medicamentos que estimulem a prática da atividade física.

Me pergunto, cá com meus teclados, onde essa história irá parar. É capaz de que daqui a alguns anos lancem uma edição especial do Biotônico Fontoura, com os poderes de fazer garotinhos rechonchudos pularem do sofá e saírem por aí, doidões e cheios de energia: "Biotônico abre o apetite. E agora também aumenta a fome de exercícios do seu filho." Já imaginaram? Seria a vingança dos hiperativos e o desespero dos pais, que iriam querer seus nerdinhos de volta.

Aliás, para além do Biotônico, é provável que o novo produto fosse comercializado nas mais diversas formas. Os departamentos de marketing dos laboratórios quebrariam a cabeça para dar, à novidade, um formato mais marcante que o de assépticas bolinhas branco-aspirina. Buscariam, isso sim, dar a elas uma cara mais marcante, como a dos comprimidinhos losangulares-azuis-do-amor, nos anos 1990.

Assim, testemunharíamos o surgimento de uma nova geração de tiozões endinheirados trocando o copo de chopp pelas novas pílulas. Depois da geração-Viagra, teríamos a geração dos comprimidos da corrida maluca.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Água Mineral: aprecie com moderação

Post publicado por este escrevinhador no blog O Pensador Selvagem (http://opensadorselvagem.org)

Água: beba à vontade, porque faz bem à saúde. Quanto à garrafinha, aprecie com moderação. Essa mistura de chavões retrata, um pouco, o atual debate em torno da indústria de água mineral nos Estados Unidos e na Europa. Lá no primeiro mundo esse setor vem sendo duramente criticado por conta dos impactos ambientais do uso de copinhos plásticos e garrafinhas. Nada de novo. Aqui no Brasil, ou ao menos em São Paulo, a água em garrafinhas PET se tornou muito popular. A diferença é que, por aqui, o debate ainda não ganhou corpo.

No exterior, a polêmica é enorme. Só para vocês terem uma idéia, o New York Times publicou, dia 1 de agosto, um editorial (que reflete, portanto, a opinião do jornal) no qual critica a indústria de água. Segundo o jornalão, beber água mineral significa ignorar solenemente que a maioria das cidades dos Estados Unidos possui um sistema confiável de tratamento de água. Ou seja: podem beber água da torneira e dormir tranqüilos. Nos Estados Unidos, pelo menos. Pelas contas do New York Times, se uma pessoa consumir apenas água mineral (que, por lá, é importada da Itália, da França ou das ilhas Fiji), gastará anualmente algo em torno de US$ 1.400. Bebendo água ‘torneiral’, apenas US$ 0,49 (isso mesmo, quarenta e nove centavos de dólar). O britânico The Guardian vai pela mesma linha: diz que a água distribuída na Inglaterra é das mais puras e mais seguras do mundo. Pra comprovar a idéia, chegou a fazer um teste cego, da água ‘torneiral’ versus a mineral, made in França. O resultado: nenhuma diferença. O título da matéria refere-se a esse teste: “Insanidade ambiental: beber água mineral se a água da torneira tem o mesmo gosto”.

Mas a questão econômica é a que menos pesa nessas circunstâncias. Afinal, se o sujeito quiser passar a vida torrando o dinheiro em água Perrier, o problema é dele. O que importa, mesmo, é o impacto ambiental – pelo menos na opinião deste escriba. Segundo o NYT, são gastos anualmente 1,5 milhão de barris de petróleo para fabricar as garrafinhas e copos de água consumidos pelos americanos - os dados são do Earth Policy Institute in Washington (Instituto de Políticas para o Planeta, em português). Essa quantidade de petróleo seria suficiente para abastecer 100 mil carros por ano. Pelos padrões americanos, aliás, já que, por lá, o consumo é de mais ou menos 7 a 8 quilômetros por litro. Na Inglaterra, a energia usada para produzir as garrafinhas seria equivalente ao consumo anual de 6 mil casas, relata o Guardian.A situação não seria tão crítica se os gringos reciclassem mais. Apenas 23% do plástico usado para fabricar os recipientes da água mineral é reciclado. Na Inglaterra o índice é ainda mais baixo, de apenas 10%. Por isso, algumas cidades, como São Francisco, na Califórnia, já proibiram, nas repartições públicas, a compra de água mineral.A questão, vista pelo lado do estilo de vida, tem que ver com a substituição dos refrigerantes e bebidas com grande quantidade de açúcar e cafeína pela água mineral. Nos últimos anos, beber água mineral se tornou sinônimo de vida saudável, da prática de esportes, etc. Nos Estados Unidos, as vendas de água já superam as de café e de leite e deverão superar as de cerveja.

O dilema que aparentemente começa a ganhar força é: vale à pena trocar uma melhoria da qualidade de vida por mais degradação ao meio ambiente? A matéria do NYT já fala em “prazer com culpa”.A questão é que as vendas de água em garrafa dispararam nos últimos anos. A solução, como diz o NYT, não é trocar a água pelo guaraná ou pela coca-cola, mas a garrafinha por um recipiente que dure mais.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Arborismo, finalmente

Último texto de minha participação na Haka Race.

Chegamos ao PC 08, o arborismo. Missão, que, dadas as precárias condições físicas de meu colega, caberá a mim. Já paramentado com o kit de escalada, olho para as pequenas fendas na parede artificial, impossíveis de se agarrar e mais impossíveis ainda de se apoiar os pés. Desanimo. “Ricardo, você vai ter de ir no meu lugar, velho. Eu não vou conseguir...” A resposta: “Você não ta vendo o jeito que eu tô? Larga de ser bundão e vai...”. Fui. Com a ajuda do instrutor, lá embaixo, passo por mais essa numa boa, atravesso uma ponte entre duas árvores e desço por uma pequena corda tirolesa. Missão cumprida. Passamos, juntos, o pórtico de entrada – ali transformado em chegada. Nos abraçamos como dois jogadores que comemoram um gol. Nada de dança para demonstrar força ou invocação aos deuses da guerra. Entre uma subida íngreme, um sol de 28 graus e o esforço pra se manter na estrada, driblando as câimbras e o cansaço, o que vale nessa dança é espantar os próprios demônios, seguir em frente e festejar a camaradagem.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Haka Race Terceira Etapa - Sol de 28 graus

Prezados dois ponto três. Seguimos com a penúltima etapa de meu calvário na Haka Race. Enquanto vocês perdem seu tempo com isso, penso em algo mais produtivo pra postar nos próximos dias.

Iniciamos a ‘perna’ mais longa de bike, que nos levaria até o PC 07 (pela planilha, apenas ‘cruzamento’), passando, antes, por uma ponte de concreto (PC 05, já na área urbana de São Roque) e pelo cemitério do Cambará (PC 06). Seguimos num comboio de três equipes. Aos poucos, o tempo chuvoso dá lugar a um sol forte e a temperatura sobe.

O trecho mais difícil, entre o cemitério e o cruzamento, é uma longa subida em estrada de terra – mais de um quilômetro, calculo – ladeada à nossa esquerda por um enorme muro de concreto. Nessa etapa, seguimos da única forma possível: empurrando morro acima nossas magrelas. Naquelas circunstâncias, aliás, o termo ‘magrela’ não poderia ser mais inadequado. Pressupõe algo leve, esbelto. Mas convenhamos: não há nesse mundo balança de precisão que me convença de que naquela ladeira enorme e debaixo de um sol de 40 graus, minha ‘magrela’ pesasse apenas 13 quilos, como já havia verificado várias vezes numa balança em casa e em lojas especializadas.

Ali, diante das forças da natureza, pesava 80 quilinhos, no mínimo. E dá lhe sol! Nos arrastávamos por cinco ou seis metros e parávamos debaixo de algum arbusto pra respirar e tomar um pouco de água. Nessas horas, dizem os iniciados, a reação de todo corredor é mais ou menos a mesma: “Putaqueopariu. Meu Deus! O que eu tô fazendo aqui? Pra que isso?”, pensava. Seguimos e alcançamos o PC 07, o tal do cruzamento. Sirlene, uma velha amiga, é quem está no comando das planilhas de registro. Ela nos estimula: “Meninos, vocês tão indo muito bem! São uma das primeiras equipes a passar por aqui”. Pura verdade.

Confiro na tabela e observo que umas 20 equipes no máximo já deixaram ali suas assinaturas. Dali até o PC 08, já de volta ao ponto de onde cinco horas antes largáramos, o pedal é tranqüilo. Cerca de um quilômetro na reta. Ricardo, maltratado por horas de câimbras, se esforça pra me acompanhar. Mas é a hora de minha vingança: “Vamos, meu, a gente tá bem na parada. Não atrasa, porra!” “Vá à merda. Você passou a prova inteira esperando por esse momento”, pestaneja.

terça-feira, 25 de março de 2008

Haka Race - Segunda etapa (Morro do Saboó)

Prezados um ponto três. Continuo, neste post, descrevendo minha 'jornada' nas corridas de aventura.

Seguimos debaixo de uma fina garoa pelo acostamento de uma estrada de asfalto. O ritmo é excelente, o trecho, bom de pedalar. Mais alguns quilômetros e abandonamos o asfalto e iniciamos a trilha. Depois de mais ou menos 10 quilômetros, chegamos no PC 02 - Chácara do Nilson, informa a planilha. Assinamos a tabela de controle e seguimos a pé para um dos trechos mais extenuantes, a subida do morro da Saboó, com mais de 1 mil metros de altitude.


À medida que o morro, antes um pequeno ponto na paisagem, vai se tornando maior à nossa frente, começamos a discutir. “Não, ele não pode ter posto o PC lá no topo. Já andamos uns nove dos 10 quilômetros de trekking que tavam previstos. O PC deve ser na metade...” “Claro que não. Você acha que o Léo não ia pôr um desafio desses? Esquece, meu! O PC é lá no pico”. Perplexos e desanimados, identificamos minúsculos pontos vermelhos – a cor da camiseta dos participantes da prova – bem próximos do pico. Inicio a subida, procurando, sempre que possível, olhar pro chão, evitando adivinhar as escarpas que se avolumam à minha frente. No trecho mais próximo do cume, me agarro a raízes e pedras para vencer as passagens mais íngremes. Chego no topo. Fosse num passeio, ficaria ali parado por uns longos minutos apreciando aquela paisagem espetacular. Mas não há tempo. Assino a tabela do PC, espero uns minutos até a chegada de meu companheiro e iniciamos a descida. Na estrada que dá acesso novamente à chácara do Nilson - a próxima transição – ganhamos tempo, substituindo a caminhada por uma corrida em ritmo leve. Por poucos minutos, apenas; logo, Ricardo começa a sentir câimbras que o acompanhariam até o final da prova. Seguidas vezes, ele corre por uns metros e, logo em seguida, pára pra se alongar, diminuindo, assim, os efeitos das contrações.

Na Chácara do Nilson, paramos para abastecer nossas mochilas de hidratação e caramanholas (garrafinhas). É hora de devorar uma barra de cereal e um tubo de gel energético. Ricardo, mais determinado, esquece das câimbras e se apronta na bike: “Vamos logo, caralho!”

quinta-feira, 20 de março de 2008

Quarenta e nove dias depois...

Caros. Aos poucos começo a entender o que se passa com cineastas, escritores, compositores e outros 'ores' que ganham a vida criando. Criar algo novo todos os dias, ininterruptamente, é foda.
Mas voltarei a esse assunto daqui a um tempo. Por enquanto, peço desculpas pelo longo período de ausência - exatos 49 dias sem um único post! - e publico, aqui, em pílulas, um pouco do que foi minha primeira experiência em corridas de aventura. Se alguém ainda acessa este mal lido espaço, que se apresente!

Ritual de Iniciação

Haka, segundo a Wikipedia, é uma dança dos povos Maori, descendentes dos polinésios que colonizaram a Nova Zelândia. Como uma espécie de ritual, antes de cada batalha, os guerreiros Maori praticam a 'war haka'. É uma forma de invocar o deus da guerra e demonstrar força e coragem diante do inimigo. Provavelmente por conta de tão nobres características, a haka tornou-se uma espécie de patrimônio nacional dos neozelandeses. É invariavelmente praticada antes de cada partida pela seleção nacional de rugby, os ‘All Blacks’, orgulho do País, assim com a seleção de futebol é para nós, brasileiros.

Essas explicações todas sequer me passavam pela cabeça naquela manhã chuvosa de sábado, 1º de março, enquanto me espremia com outros 146 guerreiros, todos modernamente paramentados com calças de lycra, mochilas e capacetes diante de um pórtico alaranjado com o logotipo da Curtlo. Era a largada da Haka Race, meu, digamos assim, ritual de iniciação nas corridas de aventura. Estávamos todos ali diante do desafio de percorrer dezenas de quilômetros a pé e de bike e de descobrir, com a ajuda de uma bússola, um mapa da década de 70, e uma boa dose de sorte, oito Postos de Controle – PCs, na linguagem das corridas de aventura.

Ricardo, meu colega de equipe, com quem eu dividiria nas próximas horas confidências, discussões e uma infinidade de câimbras, se espremia um pouco à frente. Sua estratégia era obter, das demais equipes, alguma ajuda na ingrata tarefa de decifrar o uso de mapas, planilhas e bússolas – tarefa com a qual, diga-se, não tínhamos a menor familiaridade. De minha parte, a estratégia resumia-se a seguir, passo a passo, o pelotão composto pelo maior número de competidores. Usaria essa tática nos primeiros metros, quando seguiríamos separadamente – eu correndo e Ricardo escorregando por uma pista de esqui artificial. Depois que nos encontrássemos, no primeiro PC virtual, passaria a confiar cegamente em suas pouco confiáveis habilidades de navegador.


Como nas corridas de rua, uma invisível, mas bem perceptível onda de tensão e excitação instala-se entre os competidores antes da largada. Uns pulam, outros batem palmas, outros pulam e batem palmas; outros, ainda, ajoelham-se e balbuciam palavras imperceptíveis. Léo, o organizador, passa, aos gritos, as últimas orientações. Em seguida, inicia a contagem: 5, 4, 3, 2 ,1...largamos! Ainda meio atordoado, sigo o pelotão que desceria a pé. Fosse numa corrida de rua e nesses primeiros metros, diminuiria o ritmo, guardando as energias pro final. Mas numa corrida de aventura, quando não se tem a menor noção de técnicas de orientação, mais importante, mesmo, é estar na cola de quem conhece.

Chegamos juntos ao PC virtual e aguardamos a turma que viria pela pista de esqui. Meus adversários logo reconhecem seus pares no primeiro grupo vindo da pista e seguem para o segundo PC. Ricardo leva uns 20 minutos. “Marquei na estratégia. O pessoal que desceu pelo teleférico em vez da pista se deu melhor...”, grita.
Seguimos a pé, colados num grupo de amigos – todos veteranos em corridas de aventura – pelos cerca de cinco quilômetros até o PC 01, um matagal no qual as bikes estão estacionadas à nossa espera. Aproveito a oportunidade para sorver vagarosamente um tubo de gel energético. Ricardo, mais ligado na prova, me dá o primeiro de uma série de puxões de orelha: “Porra, meu, vai logo! Transição tem de ser rápido!”

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Quotation

Me lembro de ter ouvido no filme Central do Brasil, mas pelo que entendi, originalmente é do Vinicius de Morais: A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro.

Mais nomes esdrúxulos

Por falta de inspiração, mais uma lista do Denão - com os comentários inspiradíssimos do próprio. Nem o Kibeloco faria melhor:

Edson Arantes do Nascimento Filho (É o pelézinho)
Divino Eterno da Silva (Ademir da Guia, deve ser adversário do pelezinho)
Manoel Messias Porto da Hora
Mahara Dutra Gologossidis
Gengis Khan Santos Vieira (Muito bom !!!)
Antônio Marcos Pinto dos Santos (Clássico)
Divino Inácio Sobrinho (Agora é Tio !!!)
Divino Coelho (É o Coelho da Páscoa)
Bráulio Everson Homen (Esse poderia ser colunista da Mens Health ou da Playboy)
Bráulio Pinto (Famoso)
Bráulio de Jesus (Esse é foda)
Shakespeare Lopes
Ray Charles Taylor de Almeida
Bruce Lee Borges da Silva
Bruceli Cora Cavaleiro
Martin Luter King de Almeida
Hitler Moreira (Putz !!!)
Natalício das Neves (É o Papai Noel !!!)
Albino Luciano das Neves (Deve ser pouco branco)
Albino Leite de Aguiar

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Efemeridades

Diante de mim, na parede atrás do computador:

50 crachás, pendurados precariamente por um minúsculo prego, de eventos de todo tipo: "Congresso Nacional de Tecnologias Aeroagrícolas - Botucatu, 24 a 27 de junho de 2004"; "Fundos de Pensão Instituidores, 1º de julho de 2003"; "Fehab Anamaco 2000"; "Ciab Febraban 2005"; "Infra GTD 24-26 abril 2001"...

10 medalhas, igualmente mal equilibradas num preguinho: "Circuito Corpore 450 anos de São Paulo 2004" "Corrida Duque de Caxias, 29/08/2004"; "Nike 10 km, 19/11/2006"; "83ª São Silvestre"...

Pequenas efemeridades que a vida vai deixando pelo caminho.

Curso de Férias

Dois anos e meio depois de me afastar dos bancos escolares, voltei a estudar. Quero dizer, em termos. Afinal, não se pode dizer que freqüentar durante uma semana um curso de férias seja exatamente estudar. Indepentemente de classificações, lá fui eu. A faculdade, a Escola Superior de Propaganda e Marketing, é uma das mais conhecidas do País na área. Só por isso já valeria à pena. No mais, dizem por aí que é bom frequentar cursos como esses pra aumentar a rede de relacionamento (que chamam pomposa e estupidamente de network) e oxigenar as idéias.

Conforme orientação de inúmeros e-mails, lá estava eu às 18h50, exatos quarenta minutos antes do início da primeira aula - e depois de uma pra, dizer o mínimo, heróica viagem de uma hora no caótico trânsito do rush paulistano, debaixo de uma daquelas tempestades aparentemente programadas pra desabar pontualmente às 18h. Quem vive por aqui sabe que, considerando-se o tamanho da bagunça, uma tempestadezinha não conseguiria piorar o que já é, por natureza, uma bagunça. Pois consegue.

Enfim, lá estava eu. O primeiro dia de aula, independentemente da escola, do tipo de curso e da idade dos alunos, é sempre parecido. Um corre-corre de gente desorientada em busca das informações mais básicas. Prá maioria, a escola é ainda um enorme labirinto.

Descubro onde é a minha sala - ainda um pouco vazia - e trato de demarcar meu território, deixando a mochila, o guarda chuva e o paletó ocupando três carteiras na primeira fila, junto à parede. Feito isso, dou uma volta pelos corredores. Devoro uma barra de cereais, entre um gole e outro de água, enquanto tento decifrar pelo rosto e pela forma como se vestem meus colegas, a origem de cada um. Faço o possível pra manter um ar de quem já domina bem aquele ambiente. Pura falsidade.

No corrredor, próximo à sala de aula, um grupo conversa animadamente. Um rapaz de terno e gravata conta para duas ou três gatotas - todas impecáveis em seus terninhos e sapatos de bico fino - como foram suas férias numa praia qualquer de Ubatuba. As garotas interrompem, mudam de assunto, e tratam, logo, de falar de seu dia-dia na empresa (aparentemente, são todos colegas). Enfiam, em cada frase, dois ou três temos em inglês. Volto prá sala.

A essas altura, próximo do canto da sala onde acomodei meu equipamento, um rapaz e uma garota, ambos aparentemente bem jovens, riem em voz baixa. O rapaz usa jeans surrado e camiseta com estampa de um personagem de quadrinhos. No outro canto, no oposto de onde estou, duas garotas usando taileur e sapatos comportados olham pro teto. Aguardam, aparentemente entediadas e ainda sem se conhecer, o início da aula.

Chega a professora, uma jovem senhora (uns 50 anos, calculo). Veste um terninho bem cortado, no qual vai fixado um minúsculo bottom da faculdade. Cabelo curto, moderno, mas sóbrio, como aparentemente convém a uma jornalista-assessora-publicitária. Logo, nos cumprimenta e abre um sorriso protocolar, sem esticar a conversa.

Mais alguns minutos e chegam as demais colegas: a morena de rosto arredondado, jeans e camiseta que, logo que me identifica, abre um enorme sorriso - nos conhecemos de outro curso, me avisa logo (coisas da idade, me esforço pra lembrar...); a loira de óculos, jeito sério e uns óculos com aros dourados; outra loira, essa de cabelos tingidos, claríssimos e visual também despojado e uma garota baixinha, de um metro e meio de altura, mais ou menos, olhos miúdos, mas bem espertos. Cursos de jornalismo e relações públicas, principalmente, costumam ser frequentados predominantemente por garotas. Nós, homens, somos minoria.

A professora trata, logo, de nos explicar, que aquilo não seria um curso formal; que nos transmitiria apenas noções gerais do assunto - coisa que, pra mim, era meio óbvia - e forma três grupos: o primeiro seria o cliente (a empresa que contrataria a assessoria de imprensa); o segundo, a assessoria de imprensa, mesmo, e o terceiro, a imprensa (digo, um jornal fictício).

Meu grupo, formado pela conveniência da proximidade, é composto pelo rapaz e pela garota que riam baixo no início da aula. Ao contrário deste escriba que, ao longo de dez anos de trabalho, passou por três redações e duas assessorias, a experiência dos demais é nula. Um longo curso de uma semana.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Nomes Esdrúxulos

Denão, irmão deste escrevinhador e sujeito estrategicamente posicionado no mundo da comunicação corporativa jurídico-financeira, me enviou uma lista de nomes, pra dizer o mínimo, pouco convencionais, à qual teve acesso. Os nomes, acreditem, existem de verdade. Basta dar um passeio pelo site da Telefônica e, no catálogo de endereços, digitar algo como Elvis Presley de Sousa, ou Diego Maradona de Jesus.

Dêem uma olhada:

Prazeres de Santana (Hummmm....)
Charles Beethoven dos Santos (Gênio...)
Armando Cruz de Carvalho (Crucificando Jesus)
Armando Bom Despacho (Pai de santo)
Jimmy Cliffi de Mello (Reggae Night...)
Geraldo Santos (Esse é clássico... o cara era torcedor fanático)
Maicon Marlon Maia (O único cara que tem um trio sertanejo no nome !)
Tim Maia Araújo da Cruz (Meu Deus! Chama o síndico!)
Natanael Epaminondas Raposo (Born to be burocrata)
Johnny Graysson Hay Mussi da Silva (ESSI EU AGARÂNTIO!!!!)
Jack Johnson Venâncio
James Dim Freitas da Silva
Adolfo Nascimento do Rego (O nascimento do rego????)
Washington Romário Bica da Silva (Irmão do grande Robinho Pedalada de Almeida)
Nelson Ned Jesus dos Santos (Sem comentários)
Joandre Pinto de Carvalho (Pinto de carvalho? Nofffffaaaa...)
Jacinto Pena de Jesus (E eu sinto pena desse sujeito....)
John Lenon Valadão dos Santos (Nasi Valadão, vocalista do Ira!, se orgulharia....)
Uburatan Índio do Ceará (!!!)
Ewerton Gustavo Leite Farinha (Dois ovos, açúcar e canela)
Amador Generoso (E o pai desse infeliz não foi nem um pouco generoso)
WOXINTOM Amador Ferreira (registrado pelo Escrivão Analfabeto da Silva)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Fragmentadora de papel - II (Atendendo ao anônimo)

Um anônimo leitor deste mal lido blog observa, a propósito de minha incomensurável e, nesse caso, auto-declarada ignorância, que, em filmes da Segunda Guerra já se vêem as fragmentadoras de papel. Elas não são, portanto, 'ultra modernas', como eu mencionava no post - que, aliás, já foi corrigido.

Pois bem, resolvi verificar. O caminho mais óbvio, a Wikipedia http://en.wikipedia.org/wiki/Paper_shredder, informa, na área de conteúdo em inglês, que a primeira fragmentadora (em inglês, paper shredder, algo como desfiadora ou retalhadora de papel) foi patenteada em 1909, nos Estados Unidos. O projeto comercial, no entanto, nunca saiu do papel. A história é também contada no site Paper Shredders Info http://www.paper-shredder-info.com/.

Ela ganharam espaço, mesmo, na década de 1930, quando o alemão Adolf Ehinger desenvolveu um sistema manual, supostamente, segundo a Wikipedia, para destruir a propaganda anti nazista produzida por ele mesmo (que, se caísse nas mãos da turma de Hitler, o colocaria numa gelada - ou, melhor, num forno). O sistema foi aperfeiçoado, ganhou motor elétrico e transformou a invenção de Ehinger numa sólida companhia que existe até hoje - quem duvida entre no site http://www.eba.de/.

Em 1984, quando a Suprema Corte dos Estados Unidos definiu que não havia nada de ilegal na busca de provas documentais para processos nos lixos, as vendas ganharam mais um empurrão.

Então tá. De fato, meu caro anônimo, pode-se falar de tudo a respeito das fragmentadoras, menos que sejam ultra modernas.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Fragmentadora de papel

Recebi, de um tal de Marcelo Antunes, o seguinte e-mail: "Aqui está a forma correta de eliminar os papéis que dizem respeito a você e a sua empresa. Secret Off Destruction Super Paper Small Pieces Documentos Fragmentadoras de Papel Tabajara. Sua segurança na medida certa".

Fragmentadoras de papel, pra quem não sabe, são aquelas máquinas cuja finalidade única é triturar documentos. Fisicamente falando, são super-lixeiras equipadas, na parte superior com um orifício semelhante ao dos pré-históricos aparelhos de fax, no qual se insere o papel. O documento enfiado naquele ralo da morte sai do outro lado, transformado em milhares de pedacinhos. Quinze mil seissentos e quarenta e cinco pedacinhos, me informa o anúncio - pergunto-me se o sr. Antunes se deu ao trabalho de contar, fragmento por fragmento, em quantos desses pedacinhos se transformam meus outrora super secretos documentos.

O e-mail informa, ainda, que há dois modelos de fragmentos: bolinhas, parecidas com confete de carnaval e 'partículas', seja lá o que isso signifique - desconfio que o resultado seja algo parecido com serpentina ou, falando em linguagem gastronômica, talharim. O modelo mais possante fragmenta até 10 folhas padrão 75 gramas ou um cartão de crédito ou um CD. Alta tecnologia a serviço da destruição.

Tenho cá minhas dúvidas em relação às intenções do sr. Antunes ao escolher este tão mal informado e pouco política e empresarialmente influente escriba pra alardear as qualidades de tal mecanismo.

De resto, confesso que fragmentadoras de papel sempre me pareceram uma espécie de confissão implicita de culpa. Adquirir uma equivaleria, por exemplo, a freqüentar uma clínica especializada em melhoria do desempenho sexual. Lembro-me de que, quando estive em Brasília, nos idos de 2004, chamou-me a atenção o grande número de anúncios de dispositivos como esse e, vejam só, de serviços especializados terceirizados. "Destruímos seus documentos com total sigilo e segurança." Imagino que, na Capital Federal, a fragmentadoras sejam, para os escritórios e gabinetes, item tão básico e indispensável do mobiliário quanto a escrivaninha e a máquina de café. Desconfio, aliás, de que, nos porões do Congresso ou de alguma residência oficial, haja, neste exato momento, uma equipe de centenas de burocratas (envergados em jalecos brancos, ternos acima do tamanho e gravatas de mau gosto) trabalhando dia e noite pra tirar das pranchetas um fragmentador de caseiros detratores, secretárias mal-comidas e ministros da fazenda trapalhões.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

As 20 mais

Dois ponto três leitores. Sei que as listas pululam nos blogs aí pela Internet afora. Confesso que não vejo lá muita graças nelas - na verdade, acho uma enorme perda de tempo e uma maneira de se criar assunto quando não há muito o que dizer. Mesmo assim - e mantendo a linha do post anterior -, ousarei tomar seu precioso tempo enumerando minhas 20 melhores músicas pra correr. Antes, três considerações: (1) a lista me veio de primeira. Assim certamente faltará, nela, coisa muito melhor que já conheço ou que ainda não ouvi; (2) integram a lista apenas músicas em inglês. Embora domine razoavelmente o idioma anglófono, correr é, para mim, antes de tudo, uma forma de, como dizem, despoluir a cabeça. Assim, quanto menos palavras inteligíveis, melhor; (3) procurei, na medida do possível, eliminar todos os clichês - como por exemplo The eye of the tiger, a já mencionada trilha sonora de Rock o Lutador.

1) Bad Relligion - Punk rock song
2) U2 - Where the streets have no name
3) Steppenwolf - Born to be wild
4) Dave Matthews - Two Steps
4) U2 - When love comes to town
6) Bad Religion - The streets of America
7) AC/DC - Hells bells
8) Deep Purple - Burn
9) Gin Blossoms - Follow you down
10) The Police - Message in a bottle
11) Metallica - From whom the bell tolls
12) Midnight Oil - Blue sky mine
13) Queen - I want it all
14) Soul Asilum - Somebody to shove
15) The Wallflowers - We can be heroes
16) Scorpions - Rock you like a hurricane
17) Deep Purple - Perfect strangers
18) Audioslave - Cochise
19) REM - The one I love
20) Live - Pain lies on the riverside

Aceito sugestões. Só não me peçam pra tocar Raul. O maluco beleza certamente não toleraria tão saudável e mauricinha afronta.

domingo, 6 de janeiro de 2008

São Silvestre - Parte III

Cumprido o trecho do elevado Costa e Silva, desço pelas quebradas da rua Tagipurú, alameda Olga e rua Margarida pra, finalmente, ganhar a primeira subida de verdade, o viaduto Pacaembú. Antes, porém, uma estratégica e escatológica pausa pra um xixi. Na falta de um banheiro de verdade, paro por alguns minuto num canto da calçada e me alivio num copinho de água já vazio. Mais leve, venço a inclinação do viaduto sem dificuldade.

A subida da Rudge (na verdade, viaduto Orlando Murgel), como me adiantara o Edgard, é talvez, o maior desafio da prova. É mais curta, mas fica justamente no quilômetro 10. Quem superá-la terá, ainda, pela frente, um terço da prova -incluída, aí, a própria Brigadeiro. Enfim, mais pressão psicológica. Reduzo o passo à velocidade mínima. Na calçada ao lado direito, uma corredora passa mal. Entro no tedioso retão da Rio Branco. Hora de acionar o aparelhinho de MP3. Um som do U2 (Bad) me ajuda a manter a concentração. Sigo num transe, acompanhando o ritmo dos demais corredores. Subitamente, volto à realidade quando sou ultrapassado por um rapaz magrelo carregando um daqueles bonecões de Olinda. Em seguida, passa por mim um senhor de uns 40 anos usando uma enorme peruca amarela encaracolada. Nariz de palhaço e umas mãos postiças de isopor, ele acena para o público. Depois da Rio Branco vêm o largo do Paissandú, o Teatro Municipal, viaduto do Chá, rua Líbero Badaró e o largo de São Francisco. Trechos protocolares. O que importa, agora, é a subida da Brigadeiro.

Para quem vem do Largo de São Francisco, a visão que se tem da Brigadeiro e de doer - as coxas, as panturrilhas, tudo. O que se vê dali é subida, até onde a vista alcança. O MP3, aparentemente entendendo meu drama, muda de faixa e seleciona, aleatóriamente, o grupo Bad Religion. Uma verdadeira porrada sonora. Ganho algum ânimo pra enfrentar o calvário que vem pela frente. No início da subida, paro para pegar um copinho de água no último posto de hidratação. Que burrada! Depois de uma hora e meia realizando sem parar o mesmo movimento, as pernas não querem parar nem por decreto. Mas, depois que páram, páram de vez. Convencer as coitadas a voltar a correr, depois disso, é quase como tentar convencer um cidadão a passar férias no Iraque. Mas, aos poucos, consigo retormar o ritmo.

Entre os milhares de guerreiros que, sem forças para continuar correndo, se entregam, dignamente a uma derradeira caminhada, me sinto um alien correndo. Mas sigo. Não andar ali é questão de honra! À minha direita, me ultrapassa um senhor de uns cinquenta anos carregando, sabe-se lá por que, uma réplica enorme de um ônibus, de mais ou menos um metro de comprimento. "Meta pra 2008: não ser ultrapassado por nenhum desses tipos", prometo pra mim mesmo.

Chego, finalmente, aos dois quarteirões finais da Brigadeiro. E, pra não passar em branco tão célebre momento, o MP3 me escolhe por acaso - por acaso!!! - The Eye Of The Tiger, a trilha sonora do filme Rocky, o Lutador. Cruzar a linha de chegada ouvindo aquilo! Se houvesse um prêmio "Melhor clichê da São Silvestre" eu venceria. Aliás, ficaria em segundo lugar, pois certamente algum imbecil subiu ouvindo We are the Champions, do Queen.

Entro na Paulista eufórico. Imagens de todos aqueles heróis cruzando a linha de chegada me vêem à cabeça. Como num daqueles filmes piegas da sessão da tarde, bato no peito, orgulhoso, e me esforço para segurar as lágrimas. Passo pela a linha de chegada, pulo a grade que separa os corredores do público e vou direto comprar uma latinha de Skol num daqueles vendedores ambulantes. Que venha 2008!

sábado, 5 de janeiro de 2008

São Silvestre - Parte II

Histórias, personagens e significados me vinham à cabeça quando soou, alta e solene, a sirene anunciando o início da São Silvestre. Pessoas famosas, pessoas anônimas, 20 mil pessoas. A multidão aplaude, grita, vibra, mas não consegue dar um passo sequer. É impossível, imagino eu, pôr tanta gente em movimento exatamente ao mesmo tempo. Ficamos ali, eu e um velho amigo, o Edgard, parados por dez minutos, mais ou menos, em meio àquela multidão. "Bem vindo à São Silvestre", debocha o Edgard, um veterano das corridas.

Aos poucos, o congestionamento vai se desfazendo e começamos uma caminhada. Na mesma cadência, viramos a esquina da Paulista com a Avenida Consolação onde o trânsito começa, finalmente, a fluir. Edgard se despede, aciona suas turbinas invisíveis, e some no meio da multidão.

A avenida Consolação, com o perdão do trocadilho, deveria ser chamada de Tentação. É uma tentação pros marinheiros de primeira viagem da São Silvestre. Espaçosa - as duas pistas são liberadas para os corredores, o que facilita o fluxo - e bem pavimentada, a Consolação é uma enorme descida que se estende até a Praça Roosevelt, onde se junta com a Ipiranga. Os novatos descem a 'milhão', torrando, desta maneira, a energia que deveria ser poupada pra depois, nas intermináveis subidas da Avenida Rudge e da Brigadeiro. Seguindo o conselho de gente mais experiente, me contenho. Desço num ritmo cadenciado, de 8 quilômetros por hora, mais ou menos.

Sigo pela pequena reta da Avenida Ipiranga aumentando um pouco a velocidade (pelos meus cálculos, uns 9 quilômetros por hora). Sou ultrapassado por um sujeito fantasiado de Chapolin Colorado - o cara, metido naquela fantasia ridícula, aparentemente sofre com o calor.

Mais uns metros na Ipiranga e contorno a caetânica esquina com a São João, que, por sua vez, leva ao elevado Costa e Silva, o Minhocão. Nas calçadas da São João, reconheço um grupo de africanos (nigerianos, provavalemente) que há tempos se hospeda nos hotéis meia-boca-do-lixo da região - e cuja forma de ganhar a vida é uma incógnita. Tento adivinhar, por um instante, se vibraram ou não com a passagem dos quenianos.

Elevado Costa e Silva. Em meus planejamentos, o trecho do Minhocão seria uma barbada. Nos metros finais desse mastodonte de concreto horroso que o ex-governador Maluf plantou em São Paulo fica o largo Padre Péricles, onde moro. Fechado aos domingos, me serviu em diversas ocasiões de campo de treinamento prás corridas. Triste engano. Pra resumir numa palavra, a sensação é de frustração. A impressão de que, por mais que se tenha corrido, o que se cumpriu foi apenas um terço da prova é um baque psicológico. Mesmo assim, sobrevivo. No trecho mais próximo de casa, procuro adivinhar, na multidão que acompanha a corrida, algum rosto conhecido. Meu feito teria, afinal, de ser testemunhado por algum vizinho. "Caramba, nem o lerdo do zelador apareceu?" Paciência. Não há tempo pra exibicionismo.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

São Silvestre - Parte I

Noite mal dormida. Dor de barriga. Saquinho de supermercado para acondicionar, com segurança, contra a chuva, o celular, umas notas de R$ 10 e um inevitável naco de papel higiênico. Lista detalhada de músicas para lotar a memória do aparelhinho de MP3: U2, Bad Religion, Dave Matthews. Ah, e um boa desculpa para, quem sabe, pular fora na última hora. Inseguranças e preparativos que precederam minha primeira participação na São Silvestre. Nos próximos posts, dois ponto um leitores, tentarei descrever essa experiência.

A São Silvestre é certamente a prova mais famosa e, possivelmente, a mais antiga do País. Tem 83 anos. É a corrida a que todo mundo assiste, mesmo sem entender lhufas de atletismo. Uma efeméride do Reveillon, assim como o peru, a champanha e a contagem regressiva prá virada do relógio - venha ela de que relógio vier.

É, também, por excelência, a personificação e a catalisação de todos os desejos de ordem físico-desportiva para o ano que se inicia. Na festa de família, diante da TV sintonizada na São Silvestre, fumantes declaram solenemente, diante dos olhares incrédulos, que abandonarão o vício e passarão a praticar esportes. Afinal, ainda falta um ano prá próxima São Silvestre. Meio a contragosto, primos rechonchudos também se comprometem a refrear ímpetos destruidores. Assalto à geladeira nunca mais!

Minhas primeiras memórias da São Silvestre remetem a longínquos reveillons na casa de tia Terezinha. Magrinha e minúscula, traços bem definidos no rosto miúdo, tia Terezinha era, pra mim, sósia da corrredora portuguesa Rosa Mota. Diante de sua TV, assistíamos à Rosa Mota cruzar - invariavelmente em primeiro lugar - a linha de chegada, enquanto os fogos do ano novo já pipocavam nos céus da avenida Paulista. Naquele tempo, a São Silvestre terminava à meia noite. A subida derradeira era na avenida Consolação. E a tia Terezinha era a Rosa Mota.

Depois, vieram João da Mata, Rolando Vera, Paul Tergat, Marilson da Costa. Heróis desconhecidos do grande público em seus 15 quilômetros de fama.

Logo, logo, tem mais.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Quote

Tu te torna eternamente responsável por aquilo que cativas.

Não confundas o amor com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos. Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer. O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer.

Saint Exupéry, autor de O Pequeno Principe.