segunda-feira, 5 de maio de 2008

El Once

Dezenove de setembro de 1993. Vinte e sete minutos do segundo tempo. O atacantes recebe a bola e avança livre, velozmente, pela direita. A bola segue ziguezagueando, serpenteando por debaixo de seus pés. De repente, impulsionada por um chute, sobe, quase na vertical. Assume, no cruzamento, uma trajetória parabólica, descrevendo, no ar, o formato de um sino.

Do outro lado, na esquerda do campo, no ângulo reto formado pelas linhas que delimitam a pequena área, fundeado por dezenas de milhares de torcedores angustiados, o outro atacante, o camisa 11, espera, sem demonstrar qualquer inquietação, pela chegada da bola. Miúdo, ele voa no instante seguinte para encontrar, certeiro, o bólide que cruza, em trajetória oblíqua os céus do Maracanã. Braços abertos como asas, ele realiza, com a cabeça, um gesto parecido com um 'sim'. Cabeceia de baixo para cima. O goleiro, coitado, abre braços e pernas ao mesmo tempo, numa espécie de 'xis' humano. Inútil. A bola desce rápida, com força, bate no chão e sobe, fazendo chacoalhar a parte de cima da rede.

Solitário, o atacante abre novamente os braços. Fecha os olhos e sorri. O momento é dele. À sua volta, cento e poucas mil almas levantam instantaneamente e gritam em únissono: Gol! Catarse. Entusiamos. Delírio.

Romário ainda marcaria, naquela partida, mais um gol, consagrador e definitivo. Depois daquele jogo, contra o Uruguai, o Brasil nunca mais seria o mesmo. Venceria a Copa de 1994, bateria na trave em 1998 e venceria novamente no Japão, em 2002. Se, na Argentina Maradona é Deus, o 'El Diez', naquele dezenove de setembro de 1993, Romário, que hoje se aposenta, se tornaria nosso 'El Once'.

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