sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Vaso ruim não quebra

Meus dois ponto três leitores. Se alguém tem dúvida em relação ao futuro do Curintias, lhes digo: o timinho da Marginal não cai. Não porque não mereça, mas porque o Goiás, esse sim, tem demonstrado uma gana muito maior de conquistar sua vaguinha lá, na segundona. Longe deste escriba querer dar pitacos mais que intuitivos em relação ao esporte bretão - se é isso que vocês, dois ponto um leitores, querem, consultem o site dos colegas Cesarotti http://amalgama2.blogspot.com/ e Luizão http://mesadecalcada.blogspot.com, ambos bem fundamentados e consistentes no assunto. O site deles é de análise. O meu, apenas de palpites. O que me parece, entretanto, é que o Curintias não é, mesmo, pior que Goiás e Paraná. Talvez por isso tenham pipocado nos últimos dias entre os coleguinhas jornalistas funerais antecipados da gambazada. No fundo, no fundo, ninguém acredita, mesmo, que o Curintias seja rebaixado domingo. Por isso, todo mundo quer tirar sua casquinha enquanto é tempo.

Rest Test III

Dando seqüência à série de avaliação dos banheiros dos hotéis mais chichérrimos de SP, testei as dependências do Grand Hyatt, bem de frente prá fedorenta Marginal Pinheiros, em Sampa.

Outro banheiro abaixo das expectativas prá um hotel de altíssimo padrão, por isso, não recebeu mais que três privadinhas. O visual, no geral, não deixa a desejar. Piso de granito bem limpo, um espelho enorme na parede principal e um cheiro de citronela - além, claro, dos quadros abstratos, outro item, pelo que tenho visto, obrigatório na decoração, digamos, banheirística. Às cabines: ponto positivo pro papel higiênico, o único papel higiênico de verdade, de rolo, mesmo, que encontrei nesta cruzada sanitária. Ah, frescura máxima, as pontas dos papéis higiênicos estão sempre dobradas, imagino, pra passar a impressão de cuidado. Já a vedação, item sobre o qual este escriba discorreu no post anterior, deixa muito a desejar. Embora as cabines sejam fechadas, como no caso do Renaissance, há aquele enorme e tradicional vão - nesse caso, de uns trinta centímetros, mais ou menos - entre o piso e a porta. O suficiente pra um sacana de plantão dar aquela clássica espiada pela qual se tenta adivinhar, pelo modelo dos sapatos, o usuário da cabine. Ganchos na porta pra pendurar o paletó, há apenas um e, mais uma vez, repetindo os dois casos anteriores, falta uma prateleira pra mochilas e pastas. O Hyatt chegou, se não me engano, a ser um dos cotados para receber o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush no início do ano. Na mesma época, recebeu o presidente da Alemanha, Horst Köhler. Líderes mundiais respeitados e exigentes que são, é provável que Bush e Köhler não tenham, mesmo, utilizado os banheiros do Hyatt.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Rest Test II

Post iniciado na semana passada, de teste de banheiros de hotéis - área comun, repito; quartos, aos quais, evidentemente, este escriba não teve acesso, não foram avaliados. Ah, e, claro, foram banheiros masculinos, apenas. Aos resultados:


Renaissance (Alameda Santos) - Bom! Em quase todos os itens avaliados, obteve boa avaliação. A começar pela decoração, simples, mas de bom gosto. Compõem o visual alguns quadros abstratos e uma mesinha escura sobre a qual fica um vaso de orquídea, discreta e de bom gosto, como indicam as boas regras da decoração sanitária. É incrível, aliás, como as orquídeas são peça quase obrigatória na decoração dos banheiros de hotel. A cabine de evacuação, a parte que interessa, embora não receba a nota máxima (explicarei o porquê adiante) no geral é muito confortável. Bem vedada, impede que aromas e ruídos escapem para o ambiente externo, o que, como já foi dito em outro post, deporia contra a reputação do nobre cavalheiro. Já imaginaram se, por exemplo, um ministro - ou, pior, o próprio presidente Lula! - durante um evento tenha de ir a uma dessas cabines pra, digamos, se aliviar de uma indisposição intestinal-ministerial-presidencial? A caganeira do presidente vira assunto de boteco! Vedação de banheiro de hotel é, enfim, questão de segurança nacional e, como tal, deve ser tratada. E nesse quesito o Renaissance é nota dez, merece cinco privadinhas. Os ganchos instalados na parte de trás da porta também são de boa qualidade - dá pra pendurar dois paletós -, assim como os pisos e revestimentos das paredes, numa espécie de mármore escuro, com rejuntes bem alinhados. A dita cabine poderia receber nota máxima, não fossem dois detalhes: (1) o tamanho do papel higiênico - folhas de dez por quinze centímetros, uma dimensão, assim como no do Mofarrej, insuficiente pra manobras higienizadoras mais arriscadas; (2) a falta de uma prateleira pra acomodar pastas, mochilas, etc.
No geral, as cabines do hotelão da Alameda Santos são como um bom veículo sedã prêmium - poderia ser, por exemplo, um New Civic, um Vectra ou um Nissan Sentra, com câmbio automático, computador de bordo e uma série de outros ítens obrigatórios num carro de alto padrão. O slogan de um veículo dessa categoria, o Ford Fusion, serviria, aliás, pra definir os banheiros do Renaissance "Quem senta nesse trono fez por merecer". Não é, no entanto, o que se pode chamar de o melhor da categoria. Logo, logo, tem mais.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Coisas que eu odeio

Pequena relação de situações que tornam meu dia-dia um pouco mais disgusting.

Freada de elevador

Leva de três a cinco segundos, cronometrados no relógio, dependendo, evidentemente, do modelo e da idade do equipamento em questão (sim, fiz questão de verificar) . Freada de elevador é, em poucas palavras, uma das sensações mais desagradáveis para portadores de síndrome pré-claustrofóbica, como este escrevinhador. Naquele tempinho quase imperceptível para os não iniciados nesse tão providencial meio de transporte, a sensação é a de pane geral, imediata e definitiva. Pior se, junto com você, compartilhando aquele espaço minúsculo, estiver, por exemplo, um chefe ou vizinho com o qual você não guarde grande afinidade. A convivência nos elevadores, por mais curta que seja, tem lá suas regras. Exige, em geral, que se olhe para baixo, num silêncio de funeral ou quando muito, que se atenha a assuntos banais, como a previsão do tempo, as condições do trânsito ou o último jogo do timão. Os prédios mais modernos, por sinal, são equipados com tecnologia de ponta a serviço dessas regras de boa conduta. Os elevadores, nesses edifícios high tech, possuem monitores de TV de última geração nos quais são veiculadas as notícias do momento - a respeito da previsão do tempo, das condições do trânsito e do último jogo do timão. De qualquer forma, mesmo para aqueles que não têm qualquer problema claustrofóbico, a perspectiva de um, digamos, apagão elevadorístico põe a perder todas essas regras, mudando completamente o panorama da partida. Sombrio.

Informações sobre as condições do Trânsito

Um serviço como esses deveria ser chamado de irritabilidade pública. O que me importa saber que a intransitável Marginal do Tietê está tão congestionada quanto a ultra-intransitável Radial Leste? As emissoras de rádio gastam, todos os dias, uma enorme quantidade de energia, dinheiro e combustível escalando repórteres, alugando helicópteros e tudo o mais apenas para lembrar aos pobres dos motoristas que não fará a menor diferença ir pro trabalho pela rua A ou pela avenida B, pois ambas estarão igualmente e inevitavelmente congestionadas. Num post anterior, comentei que, segundo o próprio prefeito Gilberto Kassab, há um déficit de 110 quilômetros de vias em São Paulo. Ou seja, ruas de menos prá carros demais. Comentei, também, que a solução seria estimular outros meios de transporte, mas esse não é o tema em questão. Voltando ao assunto: informações sobre condições de transito só servem, mesmo, pra lembrar que o trânsito da capital não tem mais solução. Melhor parar tudo e começar do zero.

Paulistano em cidadezinha do Interior

Meus zero vírgula três leitores paulistanos, me perdoem. Mas confesso que, como interiorano radicado nesta paulicéia que sou, nunca entendi lá muito bem por que raios os colegas aqui nascidos e criados têm a péssima mania de sair por aí exigindo, quando em terras menos urbanizadas, o mesmo padrão de atendimento da 'capitar'. Não, não quero aqui assumir o papel de defensor do descaso aos nobres direitos do consumidor. Também não sou fã de demora nos restaurantes, de cheiro de mofo em quartos de hotel ou de bife sangrando no lugar daquele filé ao ponto que o cidadão havia pedido. Mas, pior que esses deslizes, são os pequenos espetáculos proporcionados pelo dito povo civilizado de Sampa. Dos garçons ao cachorro, todos são alvo deste superexigente consumidor quando alguma coisa não sai como sairia nos restaurantes do Itaim, nos bares da Vila Madá ou em algum hotel bacana da Alameda Santos. "Moço. A pizza que eu pedi demorou 40 minutos. 40 minutos! O senhor tem idéia do que é isso? Pode suspender!"

Computador com síndrome de técnico

Quem nunca passou por isso? Acompanhe a seqüência:

01) O sujeito acaba de produzir um trabalho super esmerado num Photoshop da vida ou uma planilha complicadíssima no Excel, mas, na hora de salvar, TUM! Surge um retângulo enorme na tela acompanhado de um aviso do tipo "Não foi possível realizar esta operação";

02) Claro, numa situação como essas, qualquer cidadão com um mínimo de experiência em peripaques tecnológico-corporativos (ou, em tecniquês, 'paus') sabe que, na maioria das empresas há um departamento responsável quase que somente por resolver esse tipo de problema - em geral esses departamentos são conhecidos mais por siglas que por nomes; pode ser Centro de Processamento de Dados (CPD), Central de TI (TI, mesmo) ou algo que o valha.

03) Os técnicos desses departamentos, em geral castigados pela falta de intimidade com os PCs (mal que atinge predominantemente a geração-máquina-de-escrever), vivem atolados de trabalho. Por isso, demoram preciosos minutos pra chegar no ponto em que se encontra o infeliz do Photoshop;

04) Quando isso finalmente acontece, a invariável primeira pergunta do técnico: "O que tá acontecendo. Pode me mostrar?" (E incrível a capacidade que esses caras têm de manter a mesma cara de paisagem, mesmo que o caso em questão seja de perda total da HD e o desesperado, o próprio presidente da empresa);

05) O desesperado que havia ligado há quarenta minutos - e que durante esse tempo todo, não havia feito mais nada, a não ser amaldiçoar gerações e gerações da família do pobre técnico, repete o procedimento;

06) A máquina, por pura sacanagem, realiza a operação normalmente. O arquivo é salvo, o e-mail é enviado, o comando solicitado aparece, tudo rapidamente e sem o menor transtorno. Como a vingança, dizem, é um prato que se come frio, o técnico, diante do constrangimento do colega - dado o inesperado ataque de eficiência da máquina -, sequer lhe dirige uma palavra. Lança-lhe, em vez disso, apenas um olhar de desprezo.

Telemarketing

Preciso tá explicando?

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Às compras de Natal

O jornal americano New York Times publicou, no último domingo uma matéria de comportamento a respeito de compras de fim de ano. Começa assim: "Pra muita gente a verdadeira diversão das festas de fim de ano vem das compras, como ir a uma loja às 4h (da manhã!) para obter melhores ofertas ou encontrar aquele brinquedo impossível de se encontrar nas promoções de Natal."

Segundo a matéria, o prazer que uma pessoa proporciona a si mesma realizando boas compras - leia-se obtendo bons preços ou encontrando os produtos que nesta época do ano costumam sumir dos balcões ou prateleiras, dada a enorme demanda - é algo que beira a excitação provocada por determinadas drogas, lícitas ou ilícitas.

No país que possui o maior PIB do Planeta e, salvo enagano, os consumidores mais vorazes, a questão já é até mesmo tema de estudos acadêmicos. Uma dessas pesquisas - a apresentada no NY Times - é a do psiquiatra Donald Black, da Universidade de Iowa.

Segundo o professor Black, o mecanismo dos compradores é parecido com o que move os viciados em jogos de azar, por exemplo - o que ocorre, simplificadamente, é a liberação, no cérebro, de substâncias químicas ligadas à euforia toda vez que o jogador aposta ou que o nosso ávido consumidor sai por aí torrando o dinheiro em ofertas imperdíveis.

O psiquiatra publicou seus estudos no jornal da Associação Mundial dos Psiquiataras, sob o título Um estudo do Distúrbio das Compras Compulsivas (CDB). Sim, a enfermidade já ganhou até nome oficial! Não surpreenderia se daqui uns anos, ganhasse as ruas e caísse na boca do povão, como, por sinal, já aconteceu com tantas outras denominações médico-psicológicas, como o Transtorno Obsessivo Compulsivo ou hoje em dia, pra qualquer Joãozinho, TOC - ou com uma dezena de outras disfunções ligadas à questão sexual ou à obesidade, por exemplo. Já imaginou? Sua namorada chama as amigas pra ir à Zé Paulino pra umas comprinhas e, na hora, já ouve das coleguinhas "Meninas, você pode tá com CBD. Eu, mesma, fiz anos de terapia. Na semana passada, eu fui na Vinte e Cinco e gastei só trezentos e vinte reais!"

Segundo o estudo, entre os americanos, o índice de, digamos, contágio, desse distúrbio é de pouco menos de 6%. Pra quem quiser saber mais, o endereço da pesquisa é http://www.indiana.edu/~engs/hints/shop.html. Mas atenção: mesmo para aqueles um vírgula dois leitores que dominarem o vocabulário anglófono e se sentirem meio culpados na hora de passar o cartão de crédito numa daquelas maquinetas, advirto que o nobre acadêmico se recusa terminantemente a responder perguntas a respeito da questão ou prestar qualquer tipo de consultoria a potenciais portadores de CBD, sejam eles brazucas ou mesmo americanos. Logo de cara, na entrada do site, um enorme banner avisa: "Não poderei mais responder questões a respeito de vício em compras devido ao enorme número de acessos a este site." Os números do professor, os tais 6% só podem estar, mesmo substimados. Nos Estados Unidos e aqui mais pro Sul.

As inúmeras maneiras de se matar um inseto (texto do Cleido)


Se o texto é bom, nóis publica. O artigo abaixo é de um cara chamado Cleido - um amigo da família do qual este escriba não sabe sequer o nome. Sabe, apenas, que vive na gloriosa Ribeirão Preto e que é amigo da família. E só. Mas, pra deleite de vocês, dois vírgula um leitores, segue aqui reproduzido.


Só existe um animal que eu mato conscientemente e com prazer, os pernilongos. O resto tento evitar, quando possível. Lógico que uma barata, frente a frente comigo, no meio do meu lar, terá uma morte rápida, certa, digna e com pouco sofrimento. Mas, nesse caso, sou eu ou ela. Isso também é válido para aranhas. Só mato em caso de extrema necessidade.

No passado fui mais sádico. Na infância, fazia uma mistura de água e terra e colocava as saúvas para afundarem igual às areias movediças dos filmes de selva e mistério. Na adolescência e também quando era um jovem adulto, tinha um prazer quase sensual de afogar formiguinhas em pias de cozinhas e banheiros. Vinha, igual a um deus-inca-tsunami e mandava todas para o ralo. Sempre deixava algum sobrevivente para que ele pudesse contar para o resto do formigueiro sobre o terrível deus Tsu.

Pelo menos, os quatro anos de psicoterapia serviram para superar essa fase de destruição sádica de himenópteros associado ao delírio do uso indiscriminado de meu poder divino. Na verdade, ainda acho que tenho esse poder, porém, a psicanálise me mostrou que não devo usá-lo contra as pobres e indefesas formigas. Hoje, gasto parte do meu tempo-para-gastar-com-coisas-que servem-para-alguma-coisa aperfeiçoando técnicas para exterminar os famigerados pernilongos. Eu, particularmente, gosto de matar aqueles que passaram a noite chupando o meu sangue ou o de algum familiar e estão lá, gordos, lentos, como nós ficamos após uma feijoada e três pedaços de torta de mousse de limão num domingo quente de verão. Gosto de projetar a trajetória do vôo lerdo deles, usar meu cerebelo para calcular onde eles vão estar no instante seguinte e plaft!

Depois é só lavar a mão com sabonete.

Com o tempo, fui me especializando. Posso ficar parado esperando o besta se aproximar e vupt, catá-lo com a mão em um movimento rápido derivado dos antigos filmes de kung-fu. Se ele está pousado em alguma parede, o ideal é bater as palmas das mãos sobre ele que, sai voando no primeiro deslocamento de ar e morre prensado entre os dedos. Chega a ser triste vê-los cairem nesse golpe sujo das mãos.

Os Aedes aegypti são um caso a parte, voam ligeiros e fazem curvas aéreas irregulares que tornam difíceis as previsões cerebelares. Eles nunca estão onde você pensa que eles estarão no momento seguinte. Também possuem uma personalidade insistente, possuem uma auto-estima elevadíssima, têm certeza que vão conseguir chupar seu sangue e não desistem facilmente. Atacam enlouquecidamente à luz do dia e, acho, já lutaram no Vietnã e na guerra da Coréia. Eu diria que a morte de um tigradinho pode valer muitos pontos no campeonato nacional de caça aos seis patas. E nem vou entrar no mérito da questão epidêmica causada pelos capetinhas. Às vezes, sou atormentado por dúvidas existenciais. Matar ou não matar seres vivos? Ter prazer em tudo isso, faz de mim um ser menor? Comer uma alface é destruir uma vida? Devo continuar desvirando besouros, que estão de barriga para cima e mexendo as patinhas, quando os encontro pelos caminhos que a vida formou, após um chuva quente de verão?

Sinceramente, não sei a(s) resposta(s) para tudo isso. Sei apenas que existem momentos, em que entendo a complexidade da teia da vida, das gotinhas de orvalho, do equilibrio dinâmico das redes do acaso. Nessas horas, chego a lamentar o prazer que sinto ao subtrair desse universo mais um pequeno inseto sugador de sangue. Olho para as vaquinhas ruminando no campo e penso em um mundo melhor. Penso no pão light, nas verduras, na leveza do corpo filtrado de LDL, no coexistir sustentável com os outros seres vivos que ainda sobrevivem nesse planeta sem muito futuro. Mas, noutras predominantes e perigosas horas, o que me move é o banho de serotonina que meu cérebro recebe quando esmago uma pernilonga gordinha de sangue ou quando caio de boca na misturinha de carne + rodela de bacon do Macnífico, acompanhado das salgadas, ao excesso, batatas fritas e de uma coca-cola gelada até o inferno.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Rest Test - Ou, nas melhores casinhas do ramo

Meus dois ponto três leitores. Este é um daqueles posts em que o título puxa a idéia do texto. Quem já trabalhou numa redação de jornal sabe que, em geral, o texto é escrito primeiro. O título, por mais criativo e engraçadinho que seja, vem depois. Esta habilidade, a de criar bons títulos, anda, aliás, em falta nos nossos jornais. Não se vêem mais em nossos periódicos os títulos criativos que fizeram a fama e o bom - ou nem tão bom - nome de publicações como o Jornal da Tarde (JT) e o falecido Notícias Populares. De qualquer forma, este é um assunto pra outra hora, se é que haverá um lapso criativo deste escriba voltado a tal finalidade.

A linha que dá nome a este post não é, por sinal, sequer criativa. Mas vale uma explicação prá idéia totalmente idiota que me ocorreu a partir deste título. Rest vem do inglês restroom, que significa banheiro - não o banheiro completo, no modelo que temos em casa, com chuveiro e pia (que, no vernáculo anglófono, seria traduzido como bathroom - algo como cômodo do banho), mas o compacto, equipado apenas com uma essencial e providencial latrina. Pra ficar mais claro, um teste de banheiros de hotéis - os banheiros localizados nas áreas comuns, e não os dos quartos, que na maioria das vezes possuem hidromassagem, dezenas de espelhos, etc. O post será atualizado na medida em que tiver acesso aos locais de testes. Serão três ou quatro posts, na ordem.

Gran Meliá Mofarrej - Numa palavra, decepcionante. O que esperar dos sanitários
um hotel bacana da região da avenida Paulista? Hotel, aliás, em que já se hospedaram figurões como os canadenses do super trio Rush? Nada, infelizmente.

Aos fatos:

(1) as divisórias que separam as, digamos assim, 'cabines de evacuação' são relativamente baixas, um metro e oitenta, mais ou menos, com um considerável espaço até o forro, cerca de meio metro pra cima. Numa situação como essas, claro, qualquer cavalheiro que ouse ocupar e utilizar esses espaços padecerá de um enorme constrangimento, tendo de compartilhar com os demais seus próprios ruídos - e, claro, aromas.

(2) papel sanitário - outro item sofrível. Pelo formato e pelo tamanho, lembra muito um guardanapo, de dez por dez centímetros. Reconheça-se, a qualidade do material é excelente, super, como diz a propaganda do enxaguante bucal Oral B, sem álcool, "gentil com a sua boca" (nesse caso, não com a boca....). O tamanho, no entanto, é muito pouco adequado a qualquer tipo de manobra que seja necessária numa situação de emergência - ou num caso em que o usuário tenha algum tipo de deficiência motora. Pior: o equipamento no qual é acondicionado o papel - e que teria como função única permitir que seja retirado do tal equipamento uma folha por vez, para que não haja desperdício - só serve, mesmo, pra rasgar os já insignificantes papéis sanitários. Eles têm de ser retirados por um minúsculo orifício na parte inferior do mecanismo, o que implica em inevitáveis rasgos. Nessas condições, nem pra assoar nariz acabam servindo.

(3) Faltam prateleiras. Num local como esses, nas área de eventos dos hotéis, os banheiros costumam contar com providenciais prateleiras nas já mencionadas cabines. Claro, como esses hotéis atendem dezenas de eventos todas as semanas, os participantes, em geral, já entram ali com pastas (nas quais vai o material promocional), bloquinhos de anotações, mochilas, etc. Resta, ao desavisado cavalheiro, deixar seus pertences na pia (na área comum do banheiro) ou esquecer qualquer tipo de preconceito contra atitudes menos dignas de um cavalheiro e pôr tudo no chão, mesmo. Ponto positivo (um dos poucos) pro ganchinho fixado na porta, excelente pra pendurar paletós e casacos. Poder abrir mão dessas peças de roupa mais pesadas num momento como esses, de reflexão, deveria ser, afinal, um direito básico de qualquer cidadão.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

UNDER CONSTRUCTION DE CARA NOVA!!!!

Meus dois ponto três leitores. Por absoluta falta do que fazer, neste modorrento - adoro esta palavra, 'modorrento' - feriadão, resolvi dar a este inútil espaço uma cara nova.

Na ausência de capacidade para lidar com os Corew Draws e Photoshops da vida, só me restou recorrer a um modelo pré-fabricado, oferecido pelo próprio site. A cara, como vocês podem notar, é de carteira de identidade - por isso, arrisquei pôr um retrato de minha pessoa, aqui do lado pra completar o figurino.

A foto, acreditem, não configura qualquer tipo de indicativo de convicção política - o burro, pra quem não sabe, é, nos EUA, o símbolo do Partido Democrata, dos ex-presidentes Bill Clinton, Jimmy Carter e John Kennedy, embora combine mais com o atual, Jorginho Bush. Hope you enjoy.

sábado, 10 de novembro de 2007

Tricolores inesquecíveis

Meus dois ponto três leitores. Me perdoem se volto ao tema futebol. Me perdoem, também, se copio descaradamente uma idéia do nobre ex-colega Fernando Cesarotti, jornalista esportivo, blogueiro bem sucedido (http://amalgama2.blogspot.com/) e grande entendedor do assunto que predomina nos botecos, casas de sinuca e ambientes freqüentados por marmanjos em geral.

Pois bem, a idéia não muito nova - na verdade, bem velha - do Cesarotti foi publicar a lista dos 30 jogadores que marcaram seus 30 anos. Eu, do alto dos meus 33, não ousarei relacionar minha seleção com qualquer tipo de efeméride. Também não me passa pela cabeça pôr lado a lado, nossas duas listas. A minha, tenho certeza, seria uma vergonhosa e passional relação de são paulinos que, de uma forma ou de outra, tiveram participação decisiva nos títulos do tricolor. A dele, uma criteriosa seleção técnica de craques cheios de qualidades invisíveis a olhos leigos, como os deste futebolisticamente iletrado escrevinhador. De qualquer forma, fica a homenagem aos caras a quem devo efêmeras alegrias nas tardes de domingo:

1) Raí - Não tem pra ninguém, mesmo. A lista poderia ser mais óbvia se tivesse o óbvio Rogério Ceni no topo. Mas creio que nenhum jogador tenha sido tão importante pro SP em finais. Rai tinha, talvez, como maior qualidade a de se sair especialmente bem contra o Corinthians. E em finais. Foi assim em 1991, quando marcou três gols na primeira partida da decisão e, depois, em 1998, quando jogou apenas uma partida, a final. E bastou. Da mesma forma que os corinthianos idolatram o irmão mais velho, o igualmente craque Sócrates, que tantas vezes massacrou o tricolor, qualquer são paulino que se preze tem pelo Rai um respeito que beira a veneração. À parte as deliciosas e destruidoras performances contra o Corinthians, o mais importante, mesmo, foi a atuação decisiva na partida contra o Barcelona, em 1991, na primeira vez que o tricolor conquistou o mundial. A grande diferença do Rai em relação aos demais jogadores que compõem esta lista - e grande motivo pra ele ocupar o topo - talvez seja o fato de que diferentemente dos demais, até mesmo do RC, a lista de imagens inesquecíveis por ele protagonizadas é imensa. Pincei, das que tenho, duas particularmente emocionantes: (1) o primeiro gol contra o Corinthians na primeira partida da final de 1991 (SP 3 X 0 Corinthians), um chutasso do meio de campo. Seria o início da vingança pelo Brasileiro que havíamos perdido em 1990 - tá bem, Paulista contra Brasileiro, os corinthianos levam a melhor, mas foi, a seu modo, um troco; (2) a imagem de o Rai correndo, determinado, em direção ao eterno Telê Santana após ter marcado o gol de barriga na final contra o Barcelona. Certamente uma das imagens mais inesquecíveis da história do SP. Rai merecia. Telê merecia.

2) Rogério Ceni - Rogério é, talvez, o maior ídolo da história do SP. Surgiu do nada, como uma sombra do incontestável Zetti, como o candidato natural ao posto de primeiro homem do tricolor, historicamente uma espécie de coadjuvante de sucesso - papel cumprido, antes, com perfeição pelo proprio Zetti e por outros antecessores, como Valdir Peres, Gilmar Rinaldi e Poy. Mas Rogério foi além. Transformou esse posto em papel principal - e aí está seu maior mérito. Na base desse novo papel está, claro, o excepcional talento pra cobrar faltas (77 gols até hoje, segundo seu site http://www.rogerioceni.com.br/home/, um recorde mundial). Mas há outras características que fazem dele um mito: performances igualmente excepcionais debaixo das traves - tá bem, no auge, em 1999, Marcos, do Palmeiras, foi melhor - e uma fidelidade ao clube rara em qualquer equipe nos dias de hoje. Tudo bem, nesse ponto está a única mancha em sua carreira, uma mal-sucedida tentativa de transferência pro Arsenal (clube inglês), em 2001. Mas isso não chega a arranhar sua imagem de comprometimento com o tricolor. Prova disso é o fato de ser recordista de jogos com pelo SP, 770. Reconhecido como ídolo há uma década, mais ou menos, faltavam-lhe, diziam os críticos, títulos de expressão. E ele vieram a partir de 2005. A imagem inesquecível (e incrível) é a de Rogério erguendo a taça da Libertadores. O auge da carreira de um craque.

3) Serginho Chulapa - Tá bem, já sei. Se algum são paulino mais fanático um dia acessar este blog - o que seria o meu segundo leitor, e, portanto, coisa quase impossível de acontecer...-, dirá que o Serginho fez carreira no Santos e lá se consagrou - em conseqüência do gol que fez na final do Paulista, em 1984 e do fato de integrar até hoje a comissão técnica do Peixe. Mas, pra mim, o Serginho tem um significado especial. É dele a primeira lembrança que tenho de um jogador do São Paulo, em 1981, um inesquecível chapéu no goleiro Carlos (que, logo depois, iria para o Corinthians), num gol que garantiria o título. Me informa o site tricolormania (http://www.tricolormania.com.br/) que o Chulapa foi o jogador que mais fez gols pelo São Paulo, 242. Mas a leviandade das estatísticas (os idiotas da objetividade, como diria o tão ignorante futebolisticamente quanto eu Nelson Rodrigues) não considera os setecentos e setenta e nove gols e as performances inesquecíveis deste craque em minhas equipes de futebol de botão. Devo provavelmente ao Chulapa o fato de ser são paulino. Por isso, e pelo recorde de gols, vai pro terceiro lugar.

4) Mineiro - Fez o gol do título em 2005. E um gol decisivo contra o Goiás, em 2006, faltando quatro rodadas pro final, que praticamente consolidou o tetra-campeonato brasileiro. Compôs, com o igualmente excelente Josué, uma das melhores duplas de volantes que o tricolor já teve. Só por isso, já merece um lugar na minha lista. Quietão, se enquadra bem naquele perfil de jogador carregador de piano indispensável nos grandes esquadrões.

5) Zetti - Armelino Donizetti Quagliato. Eita nome estranho pra um jogador de futebol -ou, melhor dizendo, para um goleiro. Não fosse o surgimento do discípulo Rogério Ceni, Zetti ocuparia o primeiro lugar na lista dos meus goleiros inesquecíveis. Foi um dos comandantes, talvez o mais importante jogador naquela campanha da conquista da Libertadores em 1992. A imagem inesquecível do Zetti, pra mim, é a dele se preparando pra defender o penalti que daria aquele título ao São Paulo. O cobrador, o argentino Gamboa, principal atacante do adversário, o Newell´s Old Boys, transpirava confiança. Mas Zetti, tranquilo, defendeu. Depois daquela defesa, o tricolor nunca mais encararia a Libertadores da mesma maneira.

6) Muller - Brilhou em dois momentos diferentes. Primeiro, no time dos 'Menudos' do inesquecível Cilinho, em 1985 - um dos primeiros títulos dos quais me lembro com clareza, do alto de meus, na época, 10 anos. Nessa mesma época, diga-se, foi destaque jogando como centroavante (substituindo Chulapa, aliás) em minhas imbatíveis equipes de futebol de botão. Mas a consagração veio, mesmo, em 1993, contra o Milan, no segundo título mundial do tricolor, quando, por um desses caprichos do futebol, a bola resvalou em seu calcanhar - sim, resvalou, a jogada não foi intencional, pelo que me lembre - e entrou. À parte a vitoriosa carreira no SP, teve, também, bons momentos no paparicadíssimo Palmeiras de 1996. Uma das imagens inesquecíveis é a de Muller apontando pro zagueiro Costacurta, do Milan, após o gol, aparentemente desabafando num momento em que o tricolor praticamente garantia o título diante de um adversário teoricamente mais poderoso - imagem, aliás, precariamente reproduzida na foto ao lado. Um daqueles momentos em que a sorte recompensa o talento.

Amanhã tem mais.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Mancha corporativa

Pequena insusão pelo mundo da ficção. A mancha é baseada em fatos reais. Os outros fatos não possuem conexão com a realidade. Pelo menos com a minha. Hope you, one point seven readers, enjoy the experience...

Ela estava alí, enorme. Tão apavorado que ficou, Reginaldo nem se deu ao trabalho de tentar descobrir se ela foi aparecendo aos poucos, sem que ele se desse conta, ou se tinha simplesmente brotado alí de repente, como uma daquelas ilhotas que volta e meia surgem do nada no meio do pacífico Pacífico, quando um vulcão entra em erupção nas profundezas.

O fato é que ela estava lá. Intrépida. Impávida. Impassível. Desprezíveis nove milímetros de diâmetro, uma insignificância. Mas naquele ponto, no alto do penhasco onde as maçãs do rosto fazem uma curva em direção à cavidade ocular, a mancha vermelho escura estava numa localização privilegiada o suficiente pra causar uma enorme dose de preocupação.

E justamente naquela manhã prá qual estava marcada a temida reunião mensal de diretoria. Sim, temida. Afinal, reunião de diretoria não era uma reunião qualquer. Era dia de jogo decisivo. Era ali que os manda-chuvas decidiam o futuro de nobres e plebeus, tomavam as decisões de vida e de morte. Isso era lá dia prá desgraçada da mancha aparecer? E logo daquele tamanho, com colossais nove milímetros de diâmetro?

O pobre do Reginaldo, meio atônito, suava diante do espelho. Pensava nos meses que havia empenhando estudando cada detalhe da concorrência, levantando os pontos fortes, as áreas de atuação, visitando pontos de venda. Varara noites elaborando relatórios. Descobrira que a principal concorrente estava à beira da falência. E a reunião de diretoria seria o momento exato pra revelar essa situação. Os diretores, boquiabertos, se impressionariam. Perguntariam. Seria a consagração. O jogo do título, com o estádio lotado, a torcida a favor e o adversário fragilizado. E a maldita mancha estava lá, pra estragar aquele momento.

Num instante, os pensamentos voltaram ao banheiro do apartamento. Passaram, então, a passear por comerciais de TV. Reginaldo revirava a cabeça tentando relacionar todas as propagandas de produtos anti-manchas de que se lembrava. "Caiu, bateu, coçou? Tem de ser coçol!"... "Passa Vodol que passa!"... "Novo Vanish Poder O2. Tira mancha sem estragar as suas roupas..." Bah! Aquilo não era hora pra devaneios.

Não havia tempo a perder, o momento era de decisões drásticas. Meteu no rosto uns óculos escuros enormes e pulou pra dentro do elevador, ainda com a gravata nas mãos. Num instante, estaria na empresa, sentando-se na ponta oposta à do chefe, na enorme mesa de madeira clara em torno da qual perfilavam-se todos os demais diretores.

Os nove milímetros de diâmetro da mancha, felizmente, eram pequenos o suficiente pra que o Reginaldo alternasse quase uma dezena de gestos intelectualóides - lembrara-se da 'cara de conteúdo, o mote de uma velha campanha de propagandas do Estadão - que, de alguma maneira, disfarçavam a catástrofe. Tomado pela pavor, ficou alí, esforçando-se pra demonstrar interesse nas longas exposições dos colegas. Saiu calado. O relatório teria de ficar prá próxima, fosse quando fosse.

Desanimado pela performance pífia, levantou se, a mão esquerda espalmada sobre o lado esquerdo do rosto, o da mancha, num gesto que combinava bem com aquele momento de fiasco. Mário Henrique, o diretor financeiro, que pouco se manifestara durante a reunião, chamou-lhe com um gesto, como se quisesse lhe confidenciar algo. "Rapaz, notou como o chefe tá quietão? Pois tudo o que disseram aqui hoje não vale nada, mermão. Nadinha. Ontem à noite a PF baixou aqui e descobriu uma porrada de documento sujo na contabilidade. Levaram tudo prá sede. Só não divulgaram ainda porque não conseguiram uma prova mais firme. Se essa história estourar, todo mundo vai ficar marcado. Isso aqui vai virar um caldeirão..." As mãos, aquela altura, vagavam incertas, ora remechendo os cabelos, descrevendo, com os dedos, pequenos, cachos, ora metendo-se nos bolsos, a procura de um objeto qualquer. Baixara a guarda. Afinal, o que era a tal da mancha?

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Consumidor tricolor

Meus dois vírgula setenta e cinco leitores. Dizem por aí que torcer pro tircolor é uma grande moleza. Que o São Paulo é o time mais organizado do futebol brasilero. E mais rico, mais bem administrado, etc.

Pois bem: creio que, passada a previsível enxurrada tardia de elogios cabe às mentes mais esclarecidas pôr às claras que o tricolor não faz mais do que seu dever. Digo, não faz mais que sua obrigação em entregar a nós, torcedores, o que nos é devido, como clientela que somos. Afinal, nesses dias, em que tanto se fala em respeito aos direitos do consumidor, foco no cliente, relações customizadas, e tudo o mais, nada mais justo exigirmos nossos direitos.

Os mais exigentes irão logo pensar que trato de pequenezas como compra de ingressos pela Internet, amplos e seguros estacionamentos, longe do território dos cambistas, cadeiras numeradas nos estádios, banheiros limpos e outras irrelevâncias. Bobagem. Perfumaria. Peaunuts!

Trato, mesmo, de um produto mais nobre, de um objeto de desejo - e que, por isso mesmo, tem de ser entregue com qualidade, pontualidade e respeito à clientela: gols, títulos, ídolos.

E como o tricolor tem atendido bem às expectativas de seus consumidores? Simples. Tá no Código de Defesa do Defesa do Consumidor, Lei 8078/90 (http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L8078.htm, pra quem quiser pesquisar).

Por exemplo:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

I - a proteção (...), da saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;

Vejam só: o código fala em 'saúde'. E o que o tricolor faz senão proteger nossa saúde contra o stress do dia-dia nos dando, a cada jogo, um motivo para esquecermos do chefe mal humorado, do congestionamento na marginal, do vizinho do apartamento ao lado que ouve É o Tcham no volume máximo, da namorada que tem sempre, às dez da noite, aquela providencial dor de cabeça? Isso sem falar na tranquilidade que nos proporciona evitando ataques de nervos que poderiam ser causados por provocações de adversários engraçadinhos.

Mais: o código fala em proteção contra os 'riscos provocados por (...) serviços perigosos ou nocivos'. Torcer pro tricolor nos protege dos riscos provocados pelos demais prestadores de serviços do futebol - estes, sim, perigosos e nocivos.

II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações. Já ouviram falar num projeto chamado Batismo Tricolor? Trata-se de uma 'cerimonia' pela qual qualquer pessoa pode ser tornar oficialmente são paulina, com reconhecimento de certificado e tudo -
http://www.saopaulofc.net/batismo/index.html . O que é o batismo senão um processo pelo qual se informa a clientela das qualidades do produto e de sua conformidade com os desejos do consumidor? Quanto ao 'consumo adequado', consiste em aplicações semanais de vitórias sobre os adversários; o produto deve ser usado seguindo uma rotina de pequenas conquistas, saboreando aos poucos, rodada a rodada, os títulos que no final certamente virão. Prazos de validade: não mais que um ano; o tempo necessário pra vencer mais um capeonato. Ah, o Código fala em 'igualdade nas contratações'. Notaram que o time do São Paulo não tem nenhum supercraque, nenhum jogador que seja, por assim dizer, um 'desigual', numa equipe que, à excessão do espetacular Rogério Ceni, foi marcada pelo 'conjunto'?

IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva (...). Não é difícil encontrar por aí, no mundo do futebol, publicidade enganosa: é projeto Tóquio pra lá e pra cá, título mundial conquistado em território brasileiro em final contra time carioca, parcerias com megainvestidores internacionais, construção de verdadeiros templos do futebol que, dizem os anunciantes, superariam em modernidade e em capacidade qualquer estádio de São Paulo. Conversa! O tricolor, esse sim, tem três mundiais, parceiros de primeira linha e o maior estádio de São Paulo, o Morumbi. O resto é propaganda enganosa, balela pra enganar o consumidor.

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais (...). Tá bem, vá lá. O tricolor deixou escapar a Libertadores, o Paulista, a Copa do Brasil. O consumidor que eventualmente tenha se sentido moralmente atingido pelas piadinhas e gozações dos adversários deve, agora, mesmo, estar se sentindo reparado (e como!) com a consquista do penta brasileiro.

E o Código segue, ao todo, por 118 artigos. O consumidor/torcedor pode ir lá e conferir, parágrafo por parágrafo. O tricolor tá em conformidade, na letra da lei, como se diz no jargão jurídico. Poderia freqüentar as listas do Procon e do Idec como exemplo de fornecedor que cumpre suas obrigações com o cliente. Como uma montadora, que entrega aos seus consumidores um veículo novinho, não muito sofisticado, é verdade - não somos o Barcelona -, mas robusto e bem equipado pra enfrentar ruas e estradas.

Agora, para os que torcem o nariz pra esse produto pentacampeão de qualidade, o mercado tem outras opções. A escolha é livre. Só não reclamem, depois, se o carro enguiçar no meio do caminho.

Alma de saci

Texto postado no blog Caiporas (http://caiporas.com.br/) em homenagem ao colega Pedro Sansão. Pedrinho, como era chamado, era organizador de corridas de aventura em Botucatu, tinha uns 35 anos e morreu em Buzios (RJ), num acidente de carro, quando voltava do Ecomotion, uma das mais importantes provas de corrida aventura do País.

Conheci o Pedrinho Sansão nos idos e hoje distantes anos 1990, no Objetivo. Ele era dois, três anos, mais velho que eu e nossa conversa nunca foi muito além de um "E aí? Tudo bem?"Pra mim, ele era da turma dos caras mais velhos e ponto final. "A turma do cursinho", coisa distante pra molecada do primeiro, segundo colegial. Tempos do diretor Eledir e do professor Carlão, que, poucos anos depois, seria substituído pelo Célio.

O pouco contato que tínhamos desapareceu de uma vez quando ele deixou o Objetivo, lá por 1993 - em 1994, eu também deixei o 'Biju', quando ingressei na faculdade de Direito, em Bauru. Reencontrei o Pedrinho em 2005 anos depois, em 2005, quando ele trouxe o Ecomotion, uma das principais corridas de aventura do País, aqui pra Botucatu.

Continuamos apenas conhecidos, não amigos, mas, desde então, passei a ter, por ele, uma tremenda admiração. Pedrinho estava envolvido até o pescoço com os esportes de aventura, com turismo ecológico, com a Cuesta da Botucatu. Minha admiração, aliás, só aumentou quando soube que ele havia criado uma agência de turismo ecológico, a Guará - e de quem recebia por e-mail, regularmente, os informativos.

Bem localizada, bem decorada, criativa nos pacotes oferecidos, a Guará me parecia um projeto que tinha, mesmo, tudo pra dar certo (embora, diga-se, tenha me oferecido algumas vezes, pecotes, digamos assim, menos ecológicos e mais convencionais, pra peças de teatro, por exemplo - fazer o que? É preciso sobreviver, that´s business...)

O fato é que, embora eu nunca tenha embarcado nos passeios da Guará, a agência sempre me pareceu uma proposta de primeira. O profissionalismo, pelo jeito, teria, finalmente, chegado ao turismo ecológico em Botucatu.

Pedrinho tinha alma de saci. O saci (aquele, mesmo, de gorro e cachimbo) é um bicho típico da região. Pedrinho certamente lutou pra preserva-los e, com certeza, criava, no quintal da Guará, um casalzinho deles. Amava a Cuesta e, em suas trilhas, encontrou um jeito de ganhar a vida. Sua última grande empreitada, a Travessia da Cuesta de Bike, marcada pro final de novembro, fica, agora, órfã. Assim como ficam um pouco órfãos todos os que acreditavam no seu trabalho.