segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Às compras de Natal

O jornal americano New York Times publicou, no último domingo uma matéria de comportamento a respeito de compras de fim de ano. Começa assim: "Pra muita gente a verdadeira diversão das festas de fim de ano vem das compras, como ir a uma loja às 4h (da manhã!) para obter melhores ofertas ou encontrar aquele brinquedo impossível de se encontrar nas promoções de Natal."

Segundo a matéria, o prazer que uma pessoa proporciona a si mesma realizando boas compras - leia-se obtendo bons preços ou encontrando os produtos que nesta época do ano costumam sumir dos balcões ou prateleiras, dada a enorme demanda - é algo que beira a excitação provocada por determinadas drogas, lícitas ou ilícitas.

No país que possui o maior PIB do Planeta e, salvo enagano, os consumidores mais vorazes, a questão já é até mesmo tema de estudos acadêmicos. Uma dessas pesquisas - a apresentada no NY Times - é a do psiquiatra Donald Black, da Universidade de Iowa.

Segundo o professor Black, o mecanismo dos compradores é parecido com o que move os viciados em jogos de azar, por exemplo - o que ocorre, simplificadamente, é a liberação, no cérebro, de substâncias químicas ligadas à euforia toda vez que o jogador aposta ou que o nosso ávido consumidor sai por aí torrando o dinheiro em ofertas imperdíveis.

O psiquiatra publicou seus estudos no jornal da Associação Mundial dos Psiquiataras, sob o título Um estudo do Distúrbio das Compras Compulsivas (CDB). Sim, a enfermidade já ganhou até nome oficial! Não surpreenderia se daqui uns anos, ganhasse as ruas e caísse na boca do povão, como, por sinal, já aconteceu com tantas outras denominações médico-psicológicas, como o Transtorno Obsessivo Compulsivo ou hoje em dia, pra qualquer Joãozinho, TOC - ou com uma dezena de outras disfunções ligadas à questão sexual ou à obesidade, por exemplo. Já imaginou? Sua namorada chama as amigas pra ir à Zé Paulino pra umas comprinhas e, na hora, já ouve das coleguinhas "Meninas, você pode tá com CBD. Eu, mesma, fiz anos de terapia. Na semana passada, eu fui na Vinte e Cinco e gastei só trezentos e vinte reais!"

Segundo o estudo, entre os americanos, o índice de, digamos, contágio, desse distúrbio é de pouco menos de 6%. Pra quem quiser saber mais, o endereço da pesquisa é http://www.indiana.edu/~engs/hints/shop.html. Mas atenção: mesmo para aqueles um vírgula dois leitores que dominarem o vocabulário anglófono e se sentirem meio culpados na hora de passar o cartão de crédito numa daquelas maquinetas, advirto que o nobre acadêmico se recusa terminantemente a responder perguntas a respeito da questão ou prestar qualquer tipo de consultoria a potenciais portadores de CBD, sejam eles brazucas ou mesmo americanos. Logo de cara, na entrada do site, um enorme banner avisa: "Não poderei mais responder questões a respeito de vício em compras devido ao enorme número de acessos a este site." Os números do professor, os tais 6% só podem estar, mesmo substimados. Nos Estados Unidos e aqui mais pro Sul.

Um comentário:

lulooker disse...

Sem dúvida existem os tais consumidores compulsivos, aqueles que sofrem sérios problemas por não terem limite, endividam-se, endividam a família, vendem bens pra pagar cona de cartão,etc,etc. Não sei se são 6% ou mais... Mas creio que esmagadora maioria compra além da conta mesmo, por outros motivos: falta de educação financeira, suscetibilidade aos apelos comerciais, uma carência momentânea... Esta época de fim-de-ano traz ainda um outro fator: a boa e velha pressão social: todos compram, logo eu também tenho que comprar; se não dou presente sou um insensível; se não dou presente todos vão saber que estou duro (imagine se eu vou dar este gostinho àquela cunhada exibida!!!), etc,etc.etc.
Eu, particularmente, acho que corrida aos shoppings de final de ano um espetáculo bastente deprimente...