sábado, 10 de novembro de 2007

Tricolores inesquecíveis

Meus dois ponto três leitores. Me perdoem se volto ao tema futebol. Me perdoem, também, se copio descaradamente uma idéia do nobre ex-colega Fernando Cesarotti, jornalista esportivo, blogueiro bem sucedido (http://amalgama2.blogspot.com/) e grande entendedor do assunto que predomina nos botecos, casas de sinuca e ambientes freqüentados por marmanjos em geral.

Pois bem, a idéia não muito nova - na verdade, bem velha - do Cesarotti foi publicar a lista dos 30 jogadores que marcaram seus 30 anos. Eu, do alto dos meus 33, não ousarei relacionar minha seleção com qualquer tipo de efeméride. Também não me passa pela cabeça pôr lado a lado, nossas duas listas. A minha, tenho certeza, seria uma vergonhosa e passional relação de são paulinos que, de uma forma ou de outra, tiveram participação decisiva nos títulos do tricolor. A dele, uma criteriosa seleção técnica de craques cheios de qualidades invisíveis a olhos leigos, como os deste futebolisticamente iletrado escrevinhador. De qualquer forma, fica a homenagem aos caras a quem devo efêmeras alegrias nas tardes de domingo:

1) Raí - Não tem pra ninguém, mesmo. A lista poderia ser mais óbvia se tivesse o óbvio Rogério Ceni no topo. Mas creio que nenhum jogador tenha sido tão importante pro SP em finais. Rai tinha, talvez, como maior qualidade a de se sair especialmente bem contra o Corinthians. E em finais. Foi assim em 1991, quando marcou três gols na primeira partida da decisão e, depois, em 1998, quando jogou apenas uma partida, a final. E bastou. Da mesma forma que os corinthianos idolatram o irmão mais velho, o igualmente craque Sócrates, que tantas vezes massacrou o tricolor, qualquer são paulino que se preze tem pelo Rai um respeito que beira a veneração. À parte as deliciosas e destruidoras performances contra o Corinthians, o mais importante, mesmo, foi a atuação decisiva na partida contra o Barcelona, em 1991, na primeira vez que o tricolor conquistou o mundial. A grande diferença do Rai em relação aos demais jogadores que compõem esta lista - e grande motivo pra ele ocupar o topo - talvez seja o fato de que diferentemente dos demais, até mesmo do RC, a lista de imagens inesquecíveis por ele protagonizadas é imensa. Pincei, das que tenho, duas particularmente emocionantes: (1) o primeiro gol contra o Corinthians na primeira partida da final de 1991 (SP 3 X 0 Corinthians), um chutasso do meio de campo. Seria o início da vingança pelo Brasileiro que havíamos perdido em 1990 - tá bem, Paulista contra Brasileiro, os corinthianos levam a melhor, mas foi, a seu modo, um troco; (2) a imagem de o Rai correndo, determinado, em direção ao eterno Telê Santana após ter marcado o gol de barriga na final contra o Barcelona. Certamente uma das imagens mais inesquecíveis da história do SP. Rai merecia. Telê merecia.

2) Rogério Ceni - Rogério é, talvez, o maior ídolo da história do SP. Surgiu do nada, como uma sombra do incontestável Zetti, como o candidato natural ao posto de primeiro homem do tricolor, historicamente uma espécie de coadjuvante de sucesso - papel cumprido, antes, com perfeição pelo proprio Zetti e por outros antecessores, como Valdir Peres, Gilmar Rinaldi e Poy. Mas Rogério foi além. Transformou esse posto em papel principal - e aí está seu maior mérito. Na base desse novo papel está, claro, o excepcional talento pra cobrar faltas (77 gols até hoje, segundo seu site http://www.rogerioceni.com.br/home/, um recorde mundial). Mas há outras características que fazem dele um mito: performances igualmente excepcionais debaixo das traves - tá bem, no auge, em 1999, Marcos, do Palmeiras, foi melhor - e uma fidelidade ao clube rara em qualquer equipe nos dias de hoje. Tudo bem, nesse ponto está a única mancha em sua carreira, uma mal-sucedida tentativa de transferência pro Arsenal (clube inglês), em 2001. Mas isso não chega a arranhar sua imagem de comprometimento com o tricolor. Prova disso é o fato de ser recordista de jogos com pelo SP, 770. Reconhecido como ídolo há uma década, mais ou menos, faltavam-lhe, diziam os críticos, títulos de expressão. E ele vieram a partir de 2005. A imagem inesquecível (e incrível) é a de Rogério erguendo a taça da Libertadores. O auge da carreira de um craque.

3) Serginho Chulapa - Tá bem, já sei. Se algum são paulino mais fanático um dia acessar este blog - o que seria o meu segundo leitor, e, portanto, coisa quase impossível de acontecer...-, dirá que o Serginho fez carreira no Santos e lá se consagrou - em conseqüência do gol que fez na final do Paulista, em 1984 e do fato de integrar até hoje a comissão técnica do Peixe. Mas, pra mim, o Serginho tem um significado especial. É dele a primeira lembrança que tenho de um jogador do São Paulo, em 1981, um inesquecível chapéu no goleiro Carlos (que, logo depois, iria para o Corinthians), num gol que garantiria o título. Me informa o site tricolormania (http://www.tricolormania.com.br/) que o Chulapa foi o jogador que mais fez gols pelo São Paulo, 242. Mas a leviandade das estatísticas (os idiotas da objetividade, como diria o tão ignorante futebolisticamente quanto eu Nelson Rodrigues) não considera os setecentos e setenta e nove gols e as performances inesquecíveis deste craque em minhas equipes de futebol de botão. Devo provavelmente ao Chulapa o fato de ser são paulino. Por isso, e pelo recorde de gols, vai pro terceiro lugar.

4) Mineiro - Fez o gol do título em 2005. E um gol decisivo contra o Goiás, em 2006, faltando quatro rodadas pro final, que praticamente consolidou o tetra-campeonato brasileiro. Compôs, com o igualmente excelente Josué, uma das melhores duplas de volantes que o tricolor já teve. Só por isso, já merece um lugar na minha lista. Quietão, se enquadra bem naquele perfil de jogador carregador de piano indispensável nos grandes esquadrões.

5) Zetti - Armelino Donizetti Quagliato. Eita nome estranho pra um jogador de futebol -ou, melhor dizendo, para um goleiro. Não fosse o surgimento do discípulo Rogério Ceni, Zetti ocuparia o primeiro lugar na lista dos meus goleiros inesquecíveis. Foi um dos comandantes, talvez o mais importante jogador naquela campanha da conquista da Libertadores em 1992. A imagem inesquecível do Zetti, pra mim, é a dele se preparando pra defender o penalti que daria aquele título ao São Paulo. O cobrador, o argentino Gamboa, principal atacante do adversário, o Newell´s Old Boys, transpirava confiança. Mas Zetti, tranquilo, defendeu. Depois daquela defesa, o tricolor nunca mais encararia a Libertadores da mesma maneira.

6) Muller - Brilhou em dois momentos diferentes. Primeiro, no time dos 'Menudos' do inesquecível Cilinho, em 1985 - um dos primeiros títulos dos quais me lembro com clareza, do alto de meus, na época, 10 anos. Nessa mesma época, diga-se, foi destaque jogando como centroavante (substituindo Chulapa, aliás) em minhas imbatíveis equipes de futebol de botão. Mas a consagração veio, mesmo, em 1993, contra o Milan, no segundo título mundial do tricolor, quando, por um desses caprichos do futebol, a bola resvalou em seu calcanhar - sim, resvalou, a jogada não foi intencional, pelo que me lembre - e entrou. À parte a vitoriosa carreira no SP, teve, também, bons momentos no paparicadíssimo Palmeiras de 1996. Uma das imagens inesquecíveis é a de Muller apontando pro zagueiro Costacurta, do Milan, após o gol, aparentemente desabafando num momento em que o tricolor praticamente garantia o título diante de um adversário teoricamente mais poderoso - imagem, aliás, precariamente reproduzida na foto ao lado. Um daqueles momentos em que a sorte recompensa o talento.

Amanhã tem mais.

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