sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Amigos. Modifiquei um pouco a lista de links aqui ao lado. O objetivo foi organizar um pouco mais o espaço (criei uma área com links na área de esportes), acrescentar indicações de sites e blogs mais inteligentes e limar aqueles que estavam sem atualização há mais tempo - quase como este escrevinhador, que às vezes fica bastante tempo sem dar as caras, mas mantém este espaço mais ou menos atualizado. Entre as novidades, recomendo o blog do Sakamoto e o do Mauro Segura. Cliquem e atualizem-se.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Meu 04 de julho (Parte III) - Devaneios

A reação imediata de qualquer corredor amador que, de repente, se veja pela primeira vez liderando uma corrida - mesmo que seja de quatro quilômetros, como no meu caso - deve ser a de olhar pra trás. Foi o que fiz. Na hora. Estava uns 50 metros na frente, pelos meus cálculos, do segundo colocado. A segunda reação deve ser uma pergunta: "Será que, com uma diferença dessas ele me alcança?". Acelerei. Acreditem, não parei nem pra fazer xixi; improvisei um, digamos, alívio imediato em movimento numa curva, quando o atleta que vinha logo atrás não me enxergava.

A parte mais curiosa dessa história talvez seja a de que, a partir do momento em que me dei conta de que poderia vencer, uma série de coisas me começou a passar pela cabeça. Nesses seis anos em que me dedico à nobre e exigente arte das corridas, tive de me desdobrar pra aguentar o tédio dos treinos mais longos. Um dos principais corolários entre os praticantes desse esporte é o de que corrida é 90% de cabeça e 10% de físico. Em Botucatu, treinando no acostamento de uma rodovia, me imaginava cruzando a reta final imitando o 'aviãozinho' do Vanderlei Cordeiro de Lima nas Olimpiadas de Atenas; ou segurando uma bandeira acima da cabeça com as duas mãos, como se fosse a capa do Super Homem, gesto de Franck Caldeira no Pan do Rio. Socos no ar, como os de Pelé, punhos cerrados, tapas no peito, como Cesar Ciello. A comemoração pelo primeiro lugar comportava um sem número de gestos; e a solidão dos treinamentos me impelira a esses devaneios.

Olhei pra traz e calculei que, a essa altura, minha distância pro segundo colocado aumentara para uns 100 metros. Mas logo à frente havia uma subida mais forte. Mil metros, mais ou menos, me separavam da linha de chegada. Como sabia que, nessas circunstâncias, a velocidade obrigatoriamente diminui, resolvi imprimir o ritmo mais forte que aguentasse. Essa estratégia comportava três desfechos: (1) abriria uma vantagem ainda maior que me garantiria a folga para cruzar a linha de chegada correndo de costas; (2) manteria a mesma distância na ladeira e teria de me virar na reta final pra sustentar a liderança contra um eventual ataque e (3 - mais provável) perderia o primeiro lugar até o final dessa reta e não teria gás pra atacar o oponente na reta de chegada.

Pra minha surpresa, a distância aumentou. Entrei na reta confiante, já ensaiando os gestos. Nada de fita pra ser rompida, nada de torcedores, nada de repórteres me assediando, como eu sempre imaginara; a chegada era, mesmo, numa lombada. Diego, o organizador, grita por um megafone: "E lá vem o primeiro lugar dos quatro quilômetros. É número sete". Mesmo sem pirotecnia e oba-oba, cerro os punhos e imito o aviãozinho. "Ganhei, p* Ganhei!!!!".

Descobri, logo depois, que a premiação se restringia a uma medalha - a mesma entregue a todos os que concluiram a prova. Mesmo assim, naquele dia voltei pra casa com uma alegria infantil de ter sido Vanderlei Cordeiro de Lima, Franck Caldeira e Cesar Cielo.