sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Consumidor tricolor

Meus dois vírgula setenta e cinco leitores. Dizem por aí que torcer pro tircolor é uma grande moleza. Que o São Paulo é o time mais organizado do futebol brasilero. E mais rico, mais bem administrado, etc.

Pois bem: creio que, passada a previsível enxurrada tardia de elogios cabe às mentes mais esclarecidas pôr às claras que o tricolor não faz mais do que seu dever. Digo, não faz mais que sua obrigação em entregar a nós, torcedores, o que nos é devido, como clientela que somos. Afinal, nesses dias, em que tanto se fala em respeito aos direitos do consumidor, foco no cliente, relações customizadas, e tudo o mais, nada mais justo exigirmos nossos direitos.

Os mais exigentes irão logo pensar que trato de pequenezas como compra de ingressos pela Internet, amplos e seguros estacionamentos, longe do território dos cambistas, cadeiras numeradas nos estádios, banheiros limpos e outras irrelevâncias. Bobagem. Perfumaria. Peaunuts!

Trato, mesmo, de um produto mais nobre, de um objeto de desejo - e que, por isso mesmo, tem de ser entregue com qualidade, pontualidade e respeito à clientela: gols, títulos, ídolos.

E como o tricolor tem atendido bem às expectativas de seus consumidores? Simples. Tá no Código de Defesa do Defesa do Consumidor, Lei 8078/90 (http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L8078.htm, pra quem quiser pesquisar).

Por exemplo:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

I - a proteção (...), da saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;

Vejam só: o código fala em 'saúde'. E o que o tricolor faz senão proteger nossa saúde contra o stress do dia-dia nos dando, a cada jogo, um motivo para esquecermos do chefe mal humorado, do congestionamento na marginal, do vizinho do apartamento ao lado que ouve É o Tcham no volume máximo, da namorada que tem sempre, às dez da noite, aquela providencial dor de cabeça? Isso sem falar na tranquilidade que nos proporciona evitando ataques de nervos que poderiam ser causados por provocações de adversários engraçadinhos.

Mais: o código fala em proteção contra os 'riscos provocados por (...) serviços perigosos ou nocivos'. Torcer pro tricolor nos protege dos riscos provocados pelos demais prestadores de serviços do futebol - estes, sim, perigosos e nocivos.

II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações. Já ouviram falar num projeto chamado Batismo Tricolor? Trata-se de uma 'cerimonia' pela qual qualquer pessoa pode ser tornar oficialmente são paulina, com reconhecimento de certificado e tudo -
http://www.saopaulofc.net/batismo/index.html . O que é o batismo senão um processo pelo qual se informa a clientela das qualidades do produto e de sua conformidade com os desejos do consumidor? Quanto ao 'consumo adequado', consiste em aplicações semanais de vitórias sobre os adversários; o produto deve ser usado seguindo uma rotina de pequenas conquistas, saboreando aos poucos, rodada a rodada, os títulos que no final certamente virão. Prazos de validade: não mais que um ano; o tempo necessário pra vencer mais um capeonato. Ah, o Código fala em 'igualdade nas contratações'. Notaram que o time do São Paulo não tem nenhum supercraque, nenhum jogador que seja, por assim dizer, um 'desigual', numa equipe que, à excessão do espetacular Rogério Ceni, foi marcada pelo 'conjunto'?

IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva (...). Não é difícil encontrar por aí, no mundo do futebol, publicidade enganosa: é projeto Tóquio pra lá e pra cá, título mundial conquistado em território brasileiro em final contra time carioca, parcerias com megainvestidores internacionais, construção de verdadeiros templos do futebol que, dizem os anunciantes, superariam em modernidade e em capacidade qualquer estádio de São Paulo. Conversa! O tricolor, esse sim, tem três mundiais, parceiros de primeira linha e o maior estádio de São Paulo, o Morumbi. O resto é propaganda enganosa, balela pra enganar o consumidor.

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais (...). Tá bem, vá lá. O tricolor deixou escapar a Libertadores, o Paulista, a Copa do Brasil. O consumidor que eventualmente tenha se sentido moralmente atingido pelas piadinhas e gozações dos adversários deve, agora, mesmo, estar se sentindo reparado (e como!) com a consquista do penta brasileiro.

E o Código segue, ao todo, por 118 artigos. O consumidor/torcedor pode ir lá e conferir, parágrafo por parágrafo. O tricolor tá em conformidade, na letra da lei, como se diz no jargão jurídico. Poderia freqüentar as listas do Procon e do Idec como exemplo de fornecedor que cumpre suas obrigações com o cliente. Como uma montadora, que entrega aos seus consumidores um veículo novinho, não muito sofisticado, é verdade - não somos o Barcelona -, mas robusto e bem equipado pra enfrentar ruas e estradas.

Agora, para os que torcem o nariz pra esse produto pentacampeão de qualidade, o mercado tem outras opções. A escolha é livre. Só não reclamem, depois, se o carro enguiçar no meio do caminho.

2 comentários:

Fernando Cesarotti disse...

Cacete, Danilo, eu tinha que vir aquele nesse blog pela primeira vez junto com esse post no topo?

Danilo Vivan disse...

Cesarotti, como disse no e-mail, não entendi lhufas do comentário, mas vindo de vossa pessoa, considero qualquer porrada uma homenagem.

DV, blogueiro meia boca, torcedor do tricolor e sócio da SE Palmeiras, na rua Turiassú