quinta-feira, 20 de março de 2008

Quarenta e nove dias depois...

Caros. Aos poucos começo a entender o que se passa com cineastas, escritores, compositores e outros 'ores' que ganham a vida criando. Criar algo novo todos os dias, ininterruptamente, é foda.
Mas voltarei a esse assunto daqui a um tempo. Por enquanto, peço desculpas pelo longo período de ausência - exatos 49 dias sem um único post! - e publico, aqui, em pílulas, um pouco do que foi minha primeira experiência em corridas de aventura. Se alguém ainda acessa este mal lido espaço, que se apresente!

Ritual de Iniciação

Haka, segundo a Wikipedia, é uma dança dos povos Maori, descendentes dos polinésios que colonizaram a Nova Zelândia. Como uma espécie de ritual, antes de cada batalha, os guerreiros Maori praticam a 'war haka'. É uma forma de invocar o deus da guerra e demonstrar força e coragem diante do inimigo. Provavelmente por conta de tão nobres características, a haka tornou-se uma espécie de patrimônio nacional dos neozelandeses. É invariavelmente praticada antes de cada partida pela seleção nacional de rugby, os ‘All Blacks’, orgulho do País, assim com a seleção de futebol é para nós, brasileiros.

Essas explicações todas sequer me passavam pela cabeça naquela manhã chuvosa de sábado, 1º de março, enquanto me espremia com outros 146 guerreiros, todos modernamente paramentados com calças de lycra, mochilas e capacetes diante de um pórtico alaranjado com o logotipo da Curtlo. Era a largada da Haka Race, meu, digamos assim, ritual de iniciação nas corridas de aventura. Estávamos todos ali diante do desafio de percorrer dezenas de quilômetros a pé e de bike e de descobrir, com a ajuda de uma bússola, um mapa da década de 70, e uma boa dose de sorte, oito Postos de Controle – PCs, na linguagem das corridas de aventura.

Ricardo, meu colega de equipe, com quem eu dividiria nas próximas horas confidências, discussões e uma infinidade de câimbras, se espremia um pouco à frente. Sua estratégia era obter, das demais equipes, alguma ajuda na ingrata tarefa de decifrar o uso de mapas, planilhas e bússolas – tarefa com a qual, diga-se, não tínhamos a menor familiaridade. De minha parte, a estratégia resumia-se a seguir, passo a passo, o pelotão composto pelo maior número de competidores. Usaria essa tática nos primeiros metros, quando seguiríamos separadamente – eu correndo e Ricardo escorregando por uma pista de esqui artificial. Depois que nos encontrássemos, no primeiro PC virtual, passaria a confiar cegamente em suas pouco confiáveis habilidades de navegador.


Como nas corridas de rua, uma invisível, mas bem perceptível onda de tensão e excitação instala-se entre os competidores antes da largada. Uns pulam, outros batem palmas, outros pulam e batem palmas; outros, ainda, ajoelham-se e balbuciam palavras imperceptíveis. Léo, o organizador, passa, aos gritos, as últimas orientações. Em seguida, inicia a contagem: 5, 4, 3, 2 ,1...largamos! Ainda meio atordoado, sigo o pelotão que desceria a pé. Fosse numa corrida de rua e nesses primeiros metros, diminuiria o ritmo, guardando as energias pro final. Mas numa corrida de aventura, quando não se tem a menor noção de técnicas de orientação, mais importante, mesmo, é estar na cola de quem conhece.

Chegamos juntos ao PC virtual e aguardamos a turma que viria pela pista de esqui. Meus adversários logo reconhecem seus pares no primeiro grupo vindo da pista e seguem para o segundo PC. Ricardo leva uns 20 minutos. “Marquei na estratégia. O pessoal que desceu pelo teleférico em vez da pista se deu melhor...”, grita.
Seguimos a pé, colados num grupo de amigos – todos veteranos em corridas de aventura – pelos cerca de cinco quilômetros até o PC 01, um matagal no qual as bikes estão estacionadas à nossa espera. Aproveito a oportunidade para sorver vagarosamente um tubo de gel energético. Ricardo, mais ligado na prova, me dá o primeiro de uma série de puxões de orelha: “Porra, meu, vai logo! Transição tem de ser rápido!”

Um comentário:

Anônimo disse...

Alvíssaras! Danilo está vivo!
Brincadeiras à parte, caro Danilo, só me esclareça uma coisinha, a tal corrida chamava-se Haka Race mesmo?
Seus leitores aguardam os próximos capítulos!
Abração!