sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Curso de Férias

Dois anos e meio depois de me afastar dos bancos escolares, voltei a estudar. Quero dizer, em termos. Afinal, não se pode dizer que freqüentar durante uma semana um curso de férias seja exatamente estudar. Indepentemente de classificações, lá fui eu. A faculdade, a Escola Superior de Propaganda e Marketing, é uma das mais conhecidas do País na área. Só por isso já valeria à pena. No mais, dizem por aí que é bom frequentar cursos como esses pra aumentar a rede de relacionamento (que chamam pomposa e estupidamente de network) e oxigenar as idéias.

Conforme orientação de inúmeros e-mails, lá estava eu às 18h50, exatos quarenta minutos antes do início da primeira aula - e depois de uma pra, dizer o mínimo, heróica viagem de uma hora no caótico trânsito do rush paulistano, debaixo de uma daquelas tempestades aparentemente programadas pra desabar pontualmente às 18h. Quem vive por aqui sabe que, considerando-se o tamanho da bagunça, uma tempestadezinha não conseguiria piorar o que já é, por natureza, uma bagunça. Pois consegue.

Enfim, lá estava eu. O primeiro dia de aula, independentemente da escola, do tipo de curso e da idade dos alunos, é sempre parecido. Um corre-corre de gente desorientada em busca das informações mais básicas. Prá maioria, a escola é ainda um enorme labirinto.

Descubro onde é a minha sala - ainda um pouco vazia - e trato de demarcar meu território, deixando a mochila, o guarda chuva e o paletó ocupando três carteiras na primeira fila, junto à parede. Feito isso, dou uma volta pelos corredores. Devoro uma barra de cereais, entre um gole e outro de água, enquanto tento decifrar pelo rosto e pela forma como se vestem meus colegas, a origem de cada um. Faço o possível pra manter um ar de quem já domina bem aquele ambiente. Pura falsidade.

No corrredor, próximo à sala de aula, um grupo conversa animadamente. Um rapaz de terno e gravata conta para duas ou três gatotas - todas impecáveis em seus terninhos e sapatos de bico fino - como foram suas férias numa praia qualquer de Ubatuba. As garotas interrompem, mudam de assunto, e tratam, logo, de falar de seu dia-dia na empresa (aparentemente, são todos colegas). Enfiam, em cada frase, dois ou três temos em inglês. Volto prá sala.

A essas altura, próximo do canto da sala onde acomodei meu equipamento, um rapaz e uma garota, ambos aparentemente bem jovens, riem em voz baixa. O rapaz usa jeans surrado e camiseta com estampa de um personagem de quadrinhos. No outro canto, no oposto de onde estou, duas garotas usando taileur e sapatos comportados olham pro teto. Aguardam, aparentemente entediadas e ainda sem se conhecer, o início da aula.

Chega a professora, uma jovem senhora (uns 50 anos, calculo). Veste um terninho bem cortado, no qual vai fixado um minúsculo bottom da faculdade. Cabelo curto, moderno, mas sóbrio, como aparentemente convém a uma jornalista-assessora-publicitária. Logo, nos cumprimenta e abre um sorriso protocolar, sem esticar a conversa.

Mais alguns minutos e chegam as demais colegas: a morena de rosto arredondado, jeans e camiseta que, logo que me identifica, abre um enorme sorriso - nos conhecemos de outro curso, me avisa logo (coisas da idade, me esforço pra lembrar...); a loira de óculos, jeito sério e uns óculos com aros dourados; outra loira, essa de cabelos tingidos, claríssimos e visual também despojado e uma garota baixinha, de um metro e meio de altura, mais ou menos, olhos miúdos, mas bem espertos. Cursos de jornalismo e relações públicas, principalmente, costumam ser frequentados predominantemente por garotas. Nós, homens, somos minoria.

A professora trata, logo, de nos explicar, que aquilo não seria um curso formal; que nos transmitiria apenas noções gerais do assunto - coisa que, pra mim, era meio óbvia - e forma três grupos: o primeiro seria o cliente (a empresa que contrataria a assessoria de imprensa); o segundo, a assessoria de imprensa, mesmo, e o terceiro, a imprensa (digo, um jornal fictício).

Meu grupo, formado pela conveniência da proximidade, é composto pelo rapaz e pela garota que riam baixo no início da aula. Ao contrário deste escriba que, ao longo de dez anos de trabalho, passou por três redações e duas assessorias, a experiência dos demais é nula. Um longo curso de uma semana.

3 comentários:

Edu disse...

Mas valeu ou não? Muita balela ou coisa que presta no curso? Resumindo, qual foi o final da experiência?
abração

Fernando Cesarotti disse...

Eu acho que tem curso que devia ser priobido pra quem não tem experiência. Mas continue o relato, caro DV-HH.

Danilo Vivan disse...

Edu

Foi uma merda.

Cesarotti

Concordo com você. Eles deveriam ter deixado claro que era pra gente que não tem contato com o assunto.

Continuarei a história.

ABS