quarta-feira, 5 de junho de 2013

Serra Fina - histórias de superação

Como mencionei no post anterior, a travessia da Serra Fina é um trekking casca-grossa. São 32 quilômetros, subidas sem fim, mato alto impedindo o avanço e temperaturas que caem facilmente para abaixo de zero. Dificuldades que povoam a imaginação de aventureiros do País inteiro desde que seu principal cume, a Pedra da Mina, foi conquistado pela primeira vez, em 1955.

Ao longo da trilha, pude testemunhar algumas histórias de superação que mostram que, embora preparo físico seja importante, a força de vontade é, afinal, o principal combustível sobreviver a essa travessia.



De todas as partes do Brasil: grupo de amazonenses que encontramos fazendo a travessia da Serra Fina.

Algumas histórias estão bem perto, no próprio grupo da gente. É o caso das dificuldades enfrentadas pelo Eric Augusto, que veio de Jundiaí para fazer a trilha conosco. No primeiro dia, após umas oito horas de caminhada pesada, ele foi acometido por câimbras fortíssimas e justamente numa subida mais técnica. Naquele momento faltavam mais duas horas antes que parássemos pra acampar. Quem já teve esse problema sabe como é difícil prosseguir. Solução: acampar ali mesmo, pouco depois do local em que sentiu as câimbras pela primeira vez e, no dia seguinte, pegar a trilha mais cedo pra nos alcançar. Eric não acampou sozinho: contou com o apoio do experiente repórter Herton Escobar, do Estadão e um cara com rodagem em montanhas. No melhor espírito 'seu perrengue é meu perrengue', Herton ficou para ajudar o Eric que, graças a esse suporte, levantou no dia seguinte e encarou a trilha normalmente. Mais experiente, a amiga Silvia Viana já esteve em montanhas famosas, como o Aconcágua e o Kilimanjaro. Isso não impediu que tivesse, também, seu perrengue. No primeiro dia, na ascensão do Cume do Capim Amarelo, ainda não aclimatada, teve crises de vômito, devido ao esforço. Depois disso, no entanto, fez o que esperávamos: seguiu em frente e ficou entre os que caminhavam mais rápido.




Eric sofreu com câimbras fortíssimas, mas se recuperou

Agora reparem na menina da foto abaixo. Seu nome é Giovana e ela tem 10 anos. Cruzamos com seu grupo (pai, tio e mais duas crianças, Paulina, de 13 anos, e Paulo, de 15) no último dia de Travessia. Giovana e os outros dois já haviam superado monstros como a Pedra da Mina, o Alto do Capim Amarelo e o Cume dos Três Estados, todos com mais de 2.500 metros. E, se querem saber, aparentavam estar mais inteiros que todos os integrantes do nosso grupo. Giovana foi a pessoa mais jovem que encontramos na travessia. Já a mineira Juliana Garcia tem diabetes. Por conta disso, no ataque ao cume da Pedra da Mina, começou a apresentar sinais de hipoglicemia – situação que pode levar a pessoa a ter convulsões se não consumir açúcar rapidamente. Cedemos gel à base de carboidrato e Juliana se recuperou. Não desanimou nem quando, faltando apenas cinco quilômetros pra terminar a travessia, torceu o pé. Guerreira.



Giovana, 10 anos, a mais jovem aventureira da Serra Fina

Em alguns casos, no entanto, as histórias de superação estão escondidas. Por exemplo, no livro de cume da Pedra da Mina – que, como mencionei no post anterior, não é um livro, mas um caderno, no qual os que chegaram ao pico costumam deixar mensagens. Foi folheando suas páginas que encontrei o texto abaixo, datado de 28 de setembro de 2012: “Minha sexta vez na Pedra da Mina, orgulho nacional. Às beiras de fazer quimioterapia e um transplante de medula. Montanha, o melhor tratamento. Amo as montanhas. Amo as paisagens e, acima de tudo, amo minha esposa Liliane. Forte abraço a todos. PAROFES.” Fiquei comovido e, ao mesmo tempo, curioso por saber o destino do tal PAROFES, mas confesso, esqueci do caso. Hoje, pesquisando no Google, pra escrever sobre a viagem, acabei descobrindo sem querer a história. Parofes é, na verdade, o acrônimo para Paulo Roberto Felipe Schmidt. Ele relata neste texto no blog Alta Montanha.com, a ascensão que o levou ao topo da Pedra da Mina e que resultou no texto que encontrei lá. E é à sua força de vontade e à de quem se superou na Serra Fina que dedico este post. That’s it. 




































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