Como a vida não são só trilhas e bike, vou falar um pouco de economia. Dia desses, recebi e-mail de uma amiga convidando para participar de um tipo de aplicação chamado de ‘investimento em rede’. Animada, ela dizia que o produto valia “super a pena” e que o namorado também estava participando do mesmo investimento.
Em linhas gerais, a operação
consiste, numa ponta, em depositar R$ 2 na conta de seis pessoas enumeradas
numa lista (e cujos dados bancários constam no e-mail). Na outra ponta da operação,
o aplicador deve convencer o maior número de pessoas a depositar R$ 2 em sua
conta – a sugestão é repassar o e-mail para 250 pessoas, o que, com uma taxa de
sucesso de 3% (a média, segundo os gestores) dá sete pessoas depositando R$ 2
cada, ou R$ 14, inicialmente. Como o pressuposto é o de que essas sete pessoas
enviarão, cada uma, mais 250 e-mails, teremos 1750 e-mails enviados.
Considerando-se o mesmo índice de sucesso de 3% de adesão, chegaremos a 53
e-mails ou R$ 106, uma rentabilidade de 784% sobre os R$ 12 investidos
inicialmente. Mas não para por aí. Como cada uma dessas pessoas repassará o
e-mail, o ciclo continua e o investidor continua ganhando. Ao todo, pode-se,
segundo o e-mail, atingir 164 mil pessoas, amealhando R$ 328 mil, o suficiente
para comprar um apartamento. Tudo isso com apenas R$ 2 de investimento inicial.
Risco? Baixíssimo, já que, segundo o e-mail, uma famosa publicação econômica
(que não mencionarei aqui) “não encontrou falhas neste programa”.
Bom demais, não? Não! A maioria
dos leitores já deve ter percebido que se trata do velho golpe da pirâmide de
dinheiro. O histórico desse tipo de maracutaia mostra que, em algum momento, a
corrente se quebra: uma parte dos destinatários não entra na pirâmide, que
começa a ruir de baixo para cima, deixando na mão os participantes
intermediários. Quando isso ocorre, quem está no topo da pirâmide (os
golpistas) já teve um bom retorno com a pirâmide. Para esses, sim, o
‘investimento’ vale a pena.
Vale lembrar que quem entra nesse
tipo de operação não apenas corre o risco de perder dinheiro, como incorre em
crime contra a economia popular, definido como “obter ou tentar obter ganhos
ilícitos em detrimento do povo ou de número indeterminado de pessoas mediante
especulações ou processos fraudulentos” (Lei 1.521/51).
Há algumas orientações básicas a
serem seguidas antes de entrar numa aventura como essas: checar se o gestor tem
registro nos órgãos competentes, se o investimento está cadastrado na Comissão
de Valores Mobiliários (CVM) e se a empresa que oferece o produto tem sede e há
quanto tempo atua, entre outros. Mas, antes de ir à CVM ou checar sede, fiz uma
avaliação bem mais rasteira: chequei se a tal famosa publicação econômica “não
encontrou falhas neste programa”, como foi dito. É evidente que a tal matéria
não existe; pelo contrário, a publicação menciona a pirâmide de dinheiro entre
os golpes financeiros que mais enganam as pessoas.
Tentei, em vão, alertar minha
amiga de que se tratava de um golpe, enviando a ela a matéria e outras. Mas, em
períodos como o atual, em que as aplicações em renda fixa já não proporcionam
ganhos vistosos e em que a Bolsa anda de lado, é comum as pessoas buscarem
soluções mágicas. Não se iluda. Como diria uma expressão em inglês, easy come, easy go - o que vem fácil vai
fácil. Não entre de gaiato nessa rede.
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