quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Freezing running

São 5h40 da manhã. Lá do banheiro, o celular começa a gritar. Ainda atordoado pelo sono, levanto, cruzo o corredor e, antes que a Rê acorde com a barulheira, trato de desliga-lo. Faz parte da estratégia deixar o celular-despertador bem longe do alcance. A esta hora e com este frio, deixa-lo ao lado da cama significaria abortar a missão. Resignado, acendo as luzes do apê e preparo um café bem forte.

Levantar pra correr nessas circunstâncias não deve ser, nem para o mais disciplinado dos atletas, algo agradável; praguejo contra mim mesmo, amaldiçoando o momento em que me inscrevi pra correr a meia maratona do Rio e, uma semana depois, o Haka Race. Isso implicará achar uma brecha na agenda pra treinar, nem que seja de madrugada. Passo pela portaria do prédio antes de o sol nascer e o porteiro informa que a temperatura é de 10 graus.

Vou andando em direção ao Parque da Água Branca pela avenida que, já naquele horário, começa a ficar movimentada, com gente indo pro trabalho encapotada com blusas, cachecóis e tudo mais. Muitos fumantes.Se pra mim, madrugar naquele frio é quase facultativo, pra eles é obrigatório. “O que eu tenho na cabeça, se poderia estar numa boa dormindo?”, me pergunto mentalmente.


Uma névoa congelante envolve as árvores do parque. As primeiras passadas saem meio travadas pelo frio, e minha espiração sai como fumaça por causa do frio. E, como se estivesse condicionado por já ter feito aquele tipo de treino uma centena de vezes, inicio a corrida no percurso de sempre: uma reta longa ao lado das baias da exposição, com a Matarazzo à direta, uma subida suave ao lado da entrada da rua Germaine Burchard, seguida por uma subida mais forte. Na sequencia, uma reta plana, paralela à rua Turiaçú, na “parte alta” do parque, pra, finalmente, pegar a descida que ladeia um bosque com arvores nativas da Mata Atlântica e que termina na entrada principal do parque. O percurso todo dá uns 1.300 metros. Relativamente curto pra quem corre, mas com muitas árvores e trilhas estreitas. O ambiente me faz esquecer de que se estou quase no centro de São Paulo. A enorme quantidade de galinhas – e galos, que, ao nascer do dia, duelam pela supremacia daquele terreiro gigante – completam o clima bucólico do lugar.




A esta altura, suado pela corrida, já tirei o gorro de lã e a blusa de fleece com que comecei o treino; como se costuma dizer, correr esquenta de dentro pra fora.

Por fim, termino minhas três voltas (seriam quatro) constatando que ainda falta muito pra eu chegar na minha melhor forma física. Alongo um pouco e volto pra casa. Neste momento o dia já nasceu e o movimento na rua aumentou consideravelmente.

Volto meio decepcionado por sentir que ainda tenho de melhorar bastante e que me restam somente duas semanas até o dia da meia maratona. Mas a corrida me dá um ânimo pra encarar o dia que dificilmente teria se ficasse enfurnado entre os cobertores.

O tempo que se gasta correndo nunca é perdido. Fica uma sensação de que, por alguns instantes, não se está em São Paulo, mas numa trilha nos Alpes ou na Serra da Mantinheira, selvagem e silenciosa. Há algo de mágico em correr nas madrugadas frias.   

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