Li
outro dia no blog do Felipe Machado que a gente escolhe uma determinada idade e
fica com ela. Seria essa a explicação para a expressão “não me sinto com 50 ou
60 anos”. Mas, por mais que demorem pra
aparecer, um hora os sinais ficam visíveis e, por mais que a cabeça não se dê
conta, o corpo nos faz cair na real. Foi assim que dia desses, olhando no
espelho, percebi que pela primeira vez conseguia enxergar minha calvície de
frente, olhando na horizontal. Até então a ‘careca piscina’ (apelido dado para
aquele estado em que a cabeça está cheia, mas o fundo é visível) só ficava
aparente quando vista de cima, em alguma filmagem ou no cabeleireiro, quando o
sujeito mostra como ficou a obra por todos os ângulos.
Mas
naquele dia o espelho foi implacável, jogando na minha cara - ou na minha
careca - a prova cabal da inexorável passagem do tempo. Se é verdade que a
gente escolhe a idade, minha cabeça deve ter parado lá pelos 20 e poucos. É
assim que me sinto. Mas hoje chego aos 38 anos.
O
tempo passa e, de um dia pro outro, você faz 30 anos e vira um adulto, quase
sempre diferente do que você imaginava ser. Um dia em 1985 uma professora me
pediu para escrever como eu estaria no ano 2000 e eu previ que teria dois filhos
e seria físico igual meu pai. Algum
ajuste nessa cápsula do tempo deu errado e tudo saiu diferente: fiz faculdade
de Direito, fui parar quase que por acidente na de Jornalismo e, por conta de
uma série de pequenos episódios em que as coisas precisariam de muito pouco pra
mudar de rumo (e se tal detalhe fosse diferente?), me tornei repórter de
um dos maiores jornais desse País, experiência que, por sua vez, gerou uma sequencia de
eventos que definiu tudo o que aconteceu até hoje em minha vida profissional.
Alguns
amigos já me disseram que fiz coisas que mudariam suas vidas, como saltar de
paraquedas, escalar uma montanha, correr uma maratona ou fazer uma tatuagem. Esse feitos se prestam a uma infinidade de metáforas sobre riscos, conquistas e perseverança. Mas confesso que nenhum deles mudou minha vida. Simplesmente
fiz e continuarei fazendo porque é o que me faz sentir vivo. Gosto de me sentir pequeno diante da imensidão das montanhas e dos lagos; do frio na espinha diante de um abismo e de imaginar que quilômetros
esperam ser percorridos de bike, a pé ou correndo.
Há alguns anos, prometi pra mim mesmo que não casaria. Estava
feliz sendo solteiro e pronto. Mas havia um Pico dos Marins no meu caminho e
lá, conheci uma garota que também já tinha escalado montanhas (mais altas que
as que eu escalei), saltado de paraquedas e que faria uma tatuagem um mês
depois de eu ter feito a minha. Casei com 37 anos. Isso, sim, mudou minha vida.
Nesta
idade, não sabemos o que a vida ainda nos reserva, mas os não-caminhos, esses já
estão bem claros, escreveu um amigo. Aos 38 anos, sei que não vou ser astro
do rock, ídolo do futebol ou piloto de caça. Também já sei que não
serei físico, como seu Dirceu.
As
coisas dificilmente saem como planejamos, mas se tem algo que aprendi é não
brigar com a passagem do tempo e com as surpresas que a vida nos reserva. Se eu
fosse físico e tivesse dois filhos como previ no hoje distante ano de 1985,
talvez não tivesse tempo nem interesse de escrever este blog.
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