quinta-feira, 6 de setembro de 2007

As veredas do Kruger Park

Como disse João Guimarães Rosa, o sertão é do tamanho do mundo. Do tamanho de até onde a vista alcança. Nesses meses de seca, o sertão é como um imenso mar de tons amarelos, marrons, acinzentados, negros e, às vezes, verdes. O Kruger Park, maior parque nacional da África do Sul, na savana africana é assim, como um imenso sertão. Uma planicie interminável composta por árvores baixas, secas e retorcidas, que se espalha por dezenas de quilômetros até o horizonte, onde todos esses tons escuros se encontram com o azul do céu.


Criado em 1989, pelo então presidente da República do Transvaal (hoje parte da África do Sul), Paul Kruger, o parque funcionou, nos primeiros anos, como uma reserva destinada à proteção da vida selvagem, sendo proibida a visita de turistas. Foi somente em 1926, quando foi transformado oficialmente em parque, que o Kruger passou a receber visitantes. Centenas, milhares, milhões.

Cresceu em tamanho e segue sendo um dos principais destinos de aventureiros de todo o mundo em busca de contato com os animais selvagens - e, ao mesmo tempo, como uma área em que esses animais têm a liberdade de ser, de fato, selvagens. No Kruger Park, a vida segue seu curso de pequenas e grandes batalhas pela sobrevivência.


Os números do parque são impressionantes. A área total é de 2,0 milhões de hectares - o equivalente, por exemplo, ao Estado de Sergipe ou a Israel. Recebeu, em 2006, 1,2 milhão de turistas, mais ou menos um quinto do número de visitantes que o Brasil recebe anualmente. Possui 12,5 mil elefantes, 7 mil rinocerontes, 7 mil girafas, 21 mil zebras, 30 mil búfalos e 120 mil impalas (uma espécie de antílope), segundo o último censo, realizado em 2005.


Percorremos o Kruger Park num safari de três dias, a partir da entrada principal, a Paul Kruger Gate. Pudemos ver, ao vivo, quase todas essas espécies. Dos chamados big-five, o quinteto de grandes mamíferos que faz a alegria das operadoras de safaris (búfalo, leão, rinoceronte, elefante e leopardo), só faltou, mesmo, o leopardo, o 'irmão' da nossa onça pintada. Reflexo, talvez, de sua personalidade reservada, menos dada a grandes aparições em público. Personalidade, aliás, oposta à do primo leão, que, sem o menor pudor e com enorme dose de vaidade, desfila por entre os carros dos turistas extasiados e os milhares de cliques das câmeras digitais (foto), características, por sinal, identificável na personalidade de boa parte dos leoninos, como este escrevinhador.

Mas, diferentemente do que se pode imaginar pelos números, percorrer as estradas de terra empoeiradas desse sertão em busca da bicharada é um exercício de paciência. O homem, aqui, é apenas expectador. Os animais, donos do pedaço, estão alí, mas não para serem vistos, como num zoológico. Predadores e presas cumprem, diariamente, seus papéis, sem se importar com o bicho homem. Por isso, é preciso aprender a se encantar com as pequenas pistas que as batalhas do dia-dia vão deixando pelo chão queimado do cerrado africano.

A carcaça de um antílope devorado pelo leão, por exemplo, deixada à beira da estrada (foto); as marcas, no tronco de uma árvore, das unhas de um leopardo que alí afiou suas garras, como um gato enorme; o cocô de um rinoceronte, espalhado pelo chão como forma de demonstrar aos demais de sua espécie que é dono daquele território; as pegadas enormes e redondas de um elefante. O sertão não é óbvio. A natureza não é óbvia.

Mais infomações

Site oficial do Kuger Park
http://www.sanparks.org/webcams/satara.php

Bundu Safari
http://www.bundusafaris.com/

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