terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Sub-Prime (Feliz 2009)

Amigos. Antes de mais nada, um feliz 2009 a todos. Peço desculpas a vocês se apareci raras vezes pra escrever neste mal lido espaço em 2008; prometo me esforçar pra me dedicar um pouco mais no ano que começa.

E pra esquentar as turbinas, vou tratar de um dos assuntos que mais frequentaram o noticiário no ano passado - e que, claro, deverá continuar frequentando em 2009: a crise financeira. Confesso que, como quase todo mundo, demorei um pouco pra entender como as coisas aconteceram. Mas o jornal norte-americano The Wall Street Journal (WSJ), um dos mais importantes do mundo, foi direto ao ponto. A edição da última segunda-feira (05 de janeiro) apresenta um caso concreto do termo que, de uma hora pra outra, passou a ser papagaiado nos quatro cantos do Planeta: o tal do sub-prime.

Vejam como a coisa é simples: a sra. Marvene Halterman, de 61 anos, moradora de Avondale, no Arizona (EUA), precisava de socorro pra pagar uma dívida. Pra conseguir o dinheiro, Marvene, uma tiazona de comportamento, digamos, pouco confiável (mãe de um viciado em anfetaminas, possui, segundo o WSJ, histórico de abuso de drogas e nunca teve emprego fixo), recorreu a uma firma de empréstimos local, a Integrity, que lhe tomou como garantia a casa em que morava - o barraco da foto acima. E aqui chegamos (bingo!) ao sub-prime. É assim que os bancos classificam o crédito de d. Marvene. Um empréstimo de segunda categoria, e de alto risco, na medida em que é grande a chance de calote. O termo 'sub-prime', aliás, é meio contraditório, assim como 'carros semi novos' , 'semi-gays', 'semi-grávidas', etc.

Detalhe importantíssimo: a casinha, de 53 metros quadrados e em estado precário (as paredes de madeira, podres, 'cedem ao toque', diz o WSJ), foi avaliada pela Integrity em US$ 103 mil. Isso mesmo: US$ 103 mil.

Vocês, dois virgula três leitores, podem até imaginar que não dá pra saber, aqui do Brasil, se a casa vale isso ou não. Afinal, estamos tratando de uma realidade diferente, de um custo de vida diferente, etc. Mas a matéria não deixa dúvida: o imóvel foi, sim, superavaliado. Segundo o WSJ, na portinhola de madeira, há um aviso: 'Inadequada à ocupação humana'.

Discussões à parte, o fato é que, feitas as contas, a tia recebeu os US$ 103 mil, gastou em baboseiras e, tempos depois, voltou à forca, desta vez, sem socorro. Resultado: a garantia será executada e, ao que tudo indica, o cafofo de d. Marvene não será vendido pelo valor que foi avaliado.

Esse é um lado da história. Agora o outro: alguém emprestou os tais US$ 103 mil e não os receberá. A Integrity, que realizou o empréstimo originalmente, vendeu a dívida pra um bancão americano o Wells Fargo (por, suponhamos, US$ 100 mil); o Wells Fargo, por sua vez, realizou a mesma operação, passando a dívida para o gigante global HSBC.

Chegando no final da linha (não desistam de ler, já estou quase terminando): o HSBC, herdeiro do mico, terá de assumir pros seus donos (acionistas) que perdeu dinheiro comprando uma dívida que teria grande probabilidade de não ser paga. Os acionistas, por sua vez, exigirão que o banco seja mais responsável. O dinheiro, que antes iria pra outras d. Marvenes - e pra clientes e empresas ao redor do mundo - passa a ser usado pra comprar os ultrasseguros títulos do Tesouro dos Estados Unidos. As empresas aqui no Brasil, que precisariam do dinheiro emprestado pelo HSBC pra ampliar a produção - o que, em última análise, significaria contratar mais gente - têm de engavetar seu projeto. E aqui, caros dois virgula três leitores, a crise do sub-prime chegou em vocês. E fim de papo.

Em tempo: o link para a matéria original é http://online.wsj.com/article/SB123093614987850083.html?mod=article-outset-box#project%3DSLIDESHOW08%26s%3DSB123014511801733279%26articleTabs%3Dslideshow.

Um comentário:

Padovaz disse...

Hummm, maravilhoso o exemplo prático!! Agora o lado que me toca: as empresas engavetam o plano de expansão, no caso particular a idéia de aumentar a frota de jatos comerciais, uma vez que enxerga a médio prazo um declínio nas vendas de passagens aéreas. Dessa forma, cancela suas encomendas às fabricantes de aviões, que por sua vez entram em desespero e demitem equivocadamente o melhor engenheiro que o Brail já viu: o Padovaaz!!